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ANÁLISE | A polarização política e eleitoral: análise dos principais colégios eleitorais

Neste artigo fazemos uma primeira análise dos resultados nos 9 maiores colégios eleitorais do país e no Distrito Federal, que é um pequeno colégio eleitoral mas uma ótima lente de aumento sobre a subjetividade nos estratos médios e altos do funcionalismo e setores sob sua influência.

terça-feira 30 de outubro de 2018 | Edição do dia

Foto: Antônio More

Os mapas por município deixam mais clara a polarização eleitoral do que os mapas que algumas mídias escolhem usar para mostrar a vitória de Bolsonaro na maior parte do país ao retratar somente o vencedor nos estados, e sem mostrar as contradições quantitativas, nem falar qualitativas, visto que a maior parte de seus votantes não votou a favor da Reforma da Previdência que ele e sua alcateia voraz já anuncia como prioridade. Tampouco o número frio dá conta do clima que se sentia de crescente oposição a Bolsonaro nas grandes cidades poucos dias antes do pleito.

A análise detalhada estado a estado, município a munícipio mostra uma eleição que mesmo tendo vantagem para Bolsonaro, foi um dos resultados menos elásticos de segundo turno no país (Bolsonaro teve menos vantagem do que Lula 2002, Lula 2006 e Dilma 2010).

Antes da análise das tendências nos maiores colégios eleitorais vale sempre lembrar, estas eleições foram as mais manipuladas da história recente: transcorreram debaixo das inúmeras manobras autoritárias do judiciário, soba tutela das Forças Armadas, para que o resultado fosse a continuidade do golpe institucional de 2016. Desde a escolha de quem poderia ser votado, a prisão e veto a Lula, até mesmo impedindo uma reles entrevista de Lula (cortesia do STF), além do roubo de 1,5 milhão de votos nordestinos com a desculpa da biometria.

Apresentamos a seguir 4 traços fundamentais das eleições tal como se mostram na análise dos dados dos maiores colégios eleitorais.

1) Polarização regional

Fonte: G1

O contraste da votação nordestina e do centro-sul é flagrante.
Se tomarmos os extremos entre alguns dos maiores colégios eleitorais, o sexto maior, Paraná, e o sétimo maior, Pernambuco, eles são quase retratos invertidos um do outro em todos aspectos e, situam-se nos extremos da dispersão dos votos no país.

Em ambos estados houve uma presença nas urnas superior à média nacional, no estado sulista 17,26% deixou de ir votar, já na terra natal de Lula 18,14% deixaram de fazê-lo (no país foram 21,3%); o somatório de nulos e brancos no estado nordestino alcançou 7,78% dos votantes, já no estado que abriga a Lava Jato e seus abusos esse percentual foi de 6,41% (no país foi de 9,57%). No Paraná, Bolsonaro alcançou 68,43% dos votos válidos, já em Pernambuco, Haddad teve 66,5% dos votos.

Este quadro de menor abstenção e menos votos nulos se expressaram nestes pólos do voto Bolsonarista no sul e no DF e no voto Haddad nordeste, exceção à regra foram os populosos estados do sudeste (que tratamos à parte nesta análise onde distintos fenômenos se cruzaram).

Esta disparidade de votações regionais é um fator de instabilidade na super-estrutura política nacional, com diferentes pressões majoritárias pesando sobre os parlamentares do sul comparados aos do nordeste, dificultando o funcionamento parlamentar do futuro governo, que mesmo assim deve ter expressiva base de apoio no Congresso.

2) Estabilidade ou não crescimento da direita

Sem entrar na complexidade destas eleições manipuladas, no peso das igrejas, do antipetismo, de campanhas da mídia e da coerção patronal exigindo votos em Bolsonaro enquanto ameaçavam demissões (muitas denúncias em Santa Catarina, terra que votou fortemente em Bolsonaro e abriga a sede da Havan do reacionário Luciano Hang, acusado de crimes trabalhistas e eleitorais), é interessante notar o pouco dinamismo do voto de Bolsonaro do primeiro para o segundo turno.

Em todos os principais colégios eleitorais o voto de Bolsonaro esteve fortemente vinculado à soma de seu voto do primeiro turno junto ao que tinham alcançado os direitistas Amoedo, Daciolo e Dias, e certa porcentagem relevante do voto (diminuto) de Alckmin. O fenômeno de expansão para dentro do voto lulista terminou no primeiro turno, com uma ajuda das Fake News e Caixa2.

Segue a listagem dos principais colégios eleitorais, comparando a votação de Bolsonaro no segundo turno com o que foi alcançado no primeiro turno somando os votos dele, e dos direitistas Daciolo, Amoedo, Alckmin e Dias.

SP: -1,07% (somando 67,97%)
MG: -0,04% (somando 58,19%)
RJ: +1,13% (somando 67,95%)
BA: -1,2% (somando 27,31%)
RS: +0,93% (somando 63,24%)
PR: -1,05% (somando 68,43%)
PE: +1,88% (somando 33,5%)
CE: +4,29% (somando 28,89%)
PA: +1,25% (somando 45,19%)
DF: +3,11% (somando 69,99%)

A média destes estados foi de +0,93%. O principal ponto fora da curva de +2% ou -2% foi o Ceará, que também foi o único onde o voto em Haddad (ou contra Bolsonaro) foi inferior ao somatório de Ciro e Haddad no primeiro turno, a política de Ciro e Cid Gomes com certeza é inseparável deste cenário discrepante.

3) Crescimento, limitado, do voto anti-Bolsonaro

Em quase todos maiores colégios eleitorais do país, mesmo naqueles que votaram acima da média nacional e naqueles que sufragaram abaixo da média nacional em Haddad houve um ligeiro fortalecimento do voto contra Bolsonaro e o golpismo se tomarmos como comparação o primeiro turno, a única exceção é o Ceará onde o não posicionamento de Ciro pesou mais.

Seguem os percentuais de que o voto Haddad no segundo turno superou o somatório de Haddad e Ciro nos 9 maiores colégios eleitorais somados ao Distrito Federal no primeiro turno. A somatória destes 10 colégios eleitorais é o equivalente a três quartos do total do país (73,55%).

SP: + 4,27% (somando 32,03%)
MG: +2,52% (somando 41,81%)
RJ: +2,14% (somando 32,05%)
BA: +3,00% (somando 72,69%)
RS: +2,58% (somando 36,76%)
PR: +3,56% (somando 31,57%)
PE: +4,07% (somando 66,5%)
CE: -2,96% (somando 71,11%)
PA: +3,39% (somando 54,81%)
DF: +1,54% (somando 30,01%)

A média destes estados foi de +2,4%, um ligeiro fortalecimento superior ao apresentado pela direita (+0,9%) e notável como este fortalecimento foi mais acentuado nos grandes centros urbanos, com +5,1% em São Paulo, onde Haddad não somente agregou mais votos que o somatório de seu desempenho e de Ciro no primeiro turno, como conseguiu superar o resultado de Dilma em 2014, antes do impacto da grande recessão brasileira e do avanço da Lava Jato e do golpismo.

Pode te interessar uma análise mais detalhada deste fenômeno na Grande São Paulo, veja: “Não houve cheque em branco na Grande São Paulo, veja análise dos dados”"

4) O enfraquecimento do PT no sudeste, sobretudo em Minas e no Rio de Janeiro

Nos três maiores colégios eleitorais do país o PT amargou piores resultados do que em 2014, permitindo que um setor de votantes lulistas migrassem para Bolsonaro e para o voto nulo, tudo isso graças aos efeitos do golpismo, das eleições manipuladas e de como o PT governou todos esses anos conciliando com os capitalistas e a direita e assimilando seus métodos de corrupção.

Em Minas, que era governada pelo PT e tinha dado vitórias a esse partido desde 2002, o PT teve em 2018 -10,6% dos votos quando comparado a 2014, no RJ expressivos -12,82% que são similares ao apurado em SP onde houve queda de 12,84%. Esta expressiva queda no Estado de São Paulo foi mais acentuada no interior e já na região metropolitana notou-se um fenômeno inverso com um crescimento na capital paulista comparado com Dilma.

Parte dos votantes do lulismo não migrou para Bolsonaro, também houve aumento da abstenção e do voto nulo/branco quando comparado a 2014 e isto expressa parte contraditória do resultado e como ele dista de ser um cheque em branco para Bolsonaro:

SP: +1,27% abstenção; +6,44% brancos e nulos
MG: +1,96% abstenção; +8,1% brancos e nulos
RJ: +1,7% abstenção; -1,7% brancos e nulos

5) Primeiras conclusões

Apesar das imagens de mapas pintados todas em azul nos grandes jornais e telejornais, para mostrar a vitória de Bolsonaro, este resultado não deixa de expressar contradições e limites objetivos na quantidade de votos e nos fenômenos qualitativos da “moral” e “motivação” das tropas votantes no reacionário, em sua oposição ou que se abstiveram/votaram nulo.

Houve uma oposição a seu fortalecimento reacionário. Uma oposição que conseguiu, em todos maiores colégios eleitorais (fora o Ceará) e particularmente na capital paulista (+5,1%) ampliar suas posições em relação ao que tinha sido o voto de Ciro, Haddad, Marina e Boulos. E nunca é demais lembrar que uma ampla parcela dos votantes de Bolsonaro não votaram desejando Reforma da Previdência e outros ataques que Bolsonaro já trabalha junto a Temer para aprovar.

Estes números frios apresentados aqui vieram acompanhados de raiva, esperança, engajamento virtual, atos importantes porém de vanguarda pelo “EleNão”, e são a base para o mais importante do que somente os números, são a energia para exigir das centrais sindicais, da UNE, e de todos movimentos sociais um plano de ação para enfrentar a reforma da previdência de Temer que Bolsonaro quer aprovar, o golpismo e todos os ataques na educação já desenhados: o terreno da luta de classes.

É urgente convocar e massificar comitês de base em cada local de trabalho para organizar o combate à reforma da previdência e aos ataques de Bolsonaro, continuidade mais autoritária do governo golpista de Temer.

Dos números e, mais importante, das ideias e convicções está a força para construir milhares de comitês em cada local de trabalho e estudo, recuperar os sindicatos e entidades estudantis das direções burocráticas e conciliadoras da CUT, CTB, UNE, para colocá-los para enfrentar esse avanço da direita e nos preparar para que sejam os capitalistas que paguem pela crise e não nós com Bolsonaro representando uma continuidade de Temer com a toga e o tanque.




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