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TEORIA | A origem da opressão às mulheres está na divisão da sociedade em classes

A submissão social das mulheres não é uma lei natural, o único resultado possível das relações humanas e nem é a-histórica, como tentam defender alguns setores fundamentalistas e conservadores.

terça-feira 14 de abril de 2015 | 03:31

A opressão às mulheres se insere na história da luta de classes e possui bases materiais. Em 1884, o revolucionário alemão Friedrich Engels afirmou, através do seu livro A origem da família, da propriedade privada e do Estado, que a opressão à mulher tem uma origem, ou seja, que não existiu sempre, baseado nos estudos de seu companheiro Karl Marx, também revolucionário alemão.

Esse é um livro bastante criticado nos círculos acadêmicos, sobretudo na área da Antropologia, por conter algumas classificações imprecisas, que propagam a noção de “evolução social”, o que coloca o desenvolvimento humano uma linha histórica padronizada e sem considerações às diversidades culturais. Essas classificações expressam a influência das ideias mais “eurocentradas” da época, no século XIX, que tinham Lewis Morgan como um dos principais representante do que foi chamado de evolucionismo. No entanto, além dessas imprecisões não influírem sobre o conteúdo fundamental da discussão de classes, Engels é dialético em sua observação a respeito da análise de Morgan: “(...) e sua classificação permanecerá em vigor até que uma riqueza de dados muito mais considerável nos obrigue a modifica-la”, bem como sua análise materialista nos permite compreender as origens da opressão e permanece válida.

As bases materiais da Opressão: Da propriedade comum à propriedade privada

Segundo Engles, a organização social tinha por objetivo, na sociedade sem classes e sem o Estado, garantir a existência dos membros do grupo. O desenvolvimento dos meios de produção era completamente associado à aquisição de alimentos e reprodução da vida. Ambas tarefas eram vitais ao grupo social, suas aquisições e produções eram propriedade de todos os membros, eram “propriedade comum”.

Engels aponta que a primeira divisão social do trabalho, o pastoreio, gerou a primeira divisão da sociedade em classes. A criação de animais permitiu a maior produção de alimento, maiores quantidades de carne, leite, lãs e peles, que gerou o acúmulo de um “excedente” na produção. O trabalho humano produziu além do necessário à existência, isso permitiu pela primeira vez a troca regular de produtos e, ao mesmo tempo, exigiu uma soma maior de trabalho diário que foi suprida através da escravidão dos prisioneiros das guerras. Nasce então a relação entre senhores e escravos, entre exploradores e explorados.

Com o desenvolvimento da criação de animais, houve uma importante transformação na família. A providência da alimentação era “um assunto do homem”, bem como a ele pertenciam os instrumentos produzidos para isso, assim como pertenciam às mulheres os utensílios e ferramentas domésticas. Com os rebanhos como nova fonte de alimentos e utilidades, estes, bem como as mercadorias e escravos que obtinha em troca deles, todo o excedente da produção, passou a ser de posse do homem. A mulher tinha participação no consumo, porém não na propriedade, que agora era privada. Como afirmou Engels “O pastor, envaidecido com a riqueza, tomou o primeiro lugar, relegando a mulher para o segundo. E ela não podia reclamar. A divisão do trabalho na família havia sido a base para a distribuição da propriedade entre homem e mulher. Essa divisão do trabalho na família continuava sendo a mesma, mas agora transtornava as relações domésticas, pelo simples fato de ter mudado a divisão do trabalho fora da família”.

Essa transformação material, o advento da propriedade privada, levou a transformações sociais profundas e a antagonismos nas relações que antes se davam sem uma hierarquia de valores. O homem acumulou riquezas e poder, elevando a sua posição nos âmbitos sociais de produção da vida a um status “superior”, enquanto a vida das mulheres ficou relegada aos âmbitos privados e o trabalho doméstico subvalorizado. Estamos então diante do patriarcado, a forma de opressão e confinamento das mulheres em relação aos homens.

Patriarcado e Capitalismo

A opressão às mulheres não surgiu no capitalismo, mas adquiriu neste modo de produção traços particulares. O capitalismo converteu o patriarcado em um aliado indispensável para a exploração e a manutenção do status quo (manutenção da situação de dominação estável). O capitalismo, baseado na exploração e opressão de milhões de pessoas no mundo inteiro, introduziu as mulheres e as crianças em sua maquinaria de exploração.

As mulheres passaram então a ser parte da produção social da vida quando inclusas no mercado trabalhista, mas as bases ideológicas e materiais da opressão permaneceram. As mulheres seguem inferiorizadas enquanto seres humanos, elas são as maiores responsáveis pelos cuidados da casa e dos filhos e recebem salários menores que os dos homens para a realização do mesmo trabalho. Também a ação enquanto sujeito social permanece em grande escala nas esferas masculinas, já que é reforçada a falsa concepção de que as mulheres são inferiores e sua opinião não interessa.

A luta das mulheres é a luta de classes

O surgimento do capitalismo não só aumentou a exploração e a opressão que o antecediam, também aprofundou os antagonismos ao reforçar o embate entre duas classes fundamentais, a burguesia e a classe operária. Isso faz com que se atualize a análise de Marx, de que a luta de classes é o motor da história. Mas, também, o capitalismo permitiu o desenvolvimento da tecnologia e aprofundou a capacidade humana para produzir fontes de existência. A própria inserção das mulheres em seu sistema gerou uma contradição fundamental, permitiu um espaço social que serve à resistência contra a opressão que sofrem- O surgimento do feminismo como movimento social e corrente teórica comprovam isso.

Para nós, mulheres marxistas revolucionárias, a luta pela nossa emancipação é indissociável da luta pela emancipação da classe operária contra o jugo e miséria dos burgueses. Não será uma estratégia feminista, restritas ao mote "de mulheres para mulheres" e sem recorte de classe, a saída para derrotar o patriarcado que nos sufoca, embrutece, nos prende à cozinha e nos imerge nos postos de trabalho mais subvalorizados. Nós mulheres devemos nos apropriar dos espaços políticos e de organização, junto à nossa classe, para sermos sujeitas centrais da revolução, junto a todos oprimidos, e para a construção de uma alternativa que golpeie de morte o capitalismo. Sigamos o exemplo das mulheres russas que em 1917 se rebelaram contra a situação de miséria e exploração, foram a linha de frente da revolução triunfante que tomou o céu de assalto e permitiu uma série de avanços contra as amarras que às prendiam ao lar.




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