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Não é de hoje que as mulheres indianas dão exemplo ao mundo de como lutar contra o patriarcado. Há alguns anos atrás, foram milhões também que, vestindo rosa, protestavam contra a violência de gênero que levou a que uma jovem estudante sofresse um estupro coletivo. Agora, em um ato coordenado, milhões de mulheres indianas fizeram uma ação que chocou o mundo. O "muro das mulheres" tinha cerca de 620km e exigia igualdade de gênero.

domingo 6 de janeiro de 2019 | Edição do dia

Não é de hoje que as mulheres indianas dão exemplo ao mundo de como lutar contra o patriarcado. Em 2011, frente ao caso de Sheelu Nishad, os sari rosa ocuparam as ruas das principais capitais do país exigindo justiça à jovem doméstica de 17 anos, que havia sido estuprada por seu patrão e político influente na região chamada de "Badlands" (terras ruins) da Índia, junto a amigos. Um estupro coletivo. Tomar as ruas foi a única medida capaz de conquistar algum tipo de justiça, já que ao procurar a polícia para denunciar o estupro coletivo, Sheelu foi quem acabou sendo presa, já que Purushottam Dwivedi, seu chefe, havia feito uma queixa de roubo em que a denunciava.

Dessa vez, a injustiça é ainda mais explicitamente contra todo o gênero feminino. Desde que existe, o templo Sabarimala no estado de Kerala, ao sul da India, não aceita a entrada de "mulheres em idade menstrual", dos 10 aos 50 anos. De acordo com as regras do templo, deve ser assim porque o templo é dedicado ao Lorde Ayyappa, um deus hindu cujos devotos acreditam que não pode ter contato com mulheres em idade menstrual, porque nessa idade são impuras ou porque sua capacidade reprodutiva poderia ser uma tentação para a divindade. Em dezembro do ano passado, entretanto, o Supremo Tribunal do país, atravessado pelas tensões da maré rosa que atravessa a Índia, decidiu que os templos deveriam receber visitantes indiscriminadamente, inclusive esse templo em especial. A decisão levou a uma enorme batalha jurídica e política, com o pronunciamento de políticos de extrema-direita se pronunciando "contra a intervenção das leis sobre a tradição". Um desses políticos foi o próprio primeiro-ministro indiano, autoridade máxima do país, Narendra Modi, o que aumentou o tamanho da revolta das mulheres.

Após a decisão judicial, pela primeira vez duas mulheres adentraram ao templo Samarimala no dia 02/01, na madrugada, assim como os homens, portando oferendas para a divindade. A ação se tornou um escândalo e foi tratada pelos políticos tradicionais como uma provocação atéia contra a tradição e os valores indianos. A declaração desses políticos fomentou atos de violência de gênero em todo o país, e em resposta, a emocionante ação coordenada de cerca de 5 milhões de mulheres que formaram o que elas chamaram de "muro das mulheres" pela igualdade de gênero, que atravessou todo o estado de Kerala, de norte a sul, num total de 620km de extensão.

Há uma coisa que os políticos de extrema-direita indianos estão certos: as mulheres estão se movimentando, na Índia e em todo o mundo, contra a tradição. Isso porque a tradição na qual as leis se baseiam é, em geral e com poucas excessões, a afirmação de uma posição de inferioridade e subjugo para as mulheres e a populações LGBT, que só serve à ordem do lucro capitalista e da superexploração das camadas mais oprimidas. Elas exigem o direito à entrada em um templo, mas trazem junto dessa reivindicação simples outro friso que dói nas mentes e corações dos conservadores: as amarras da tradição patriarcal capitalista estão caducando e as mulheres indianas, parte da segunda maior classe operária do mundo, são mais uma vez vanguarda na organização contra esse enorme limite que o patriarcado representa nas muitas esferas da vida das mulheres, até mesmo na liberdade ao culto.




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