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DEBATE COM OS GRANDES JORNAIS | A democracia da toga

As vésperas da votação do processo de impeachment, enquanto no Congresso se desenvolve o espetáculo grotesco das “negociações” entre os deputados – que envolvem certamente grandes quantias além de altos cargos, os três maiores jornais do país lançaram os holofotes para outro lado e discutem neste sábado o papel do STF. Num tema que já é recorrente.

sábado 16 de abril de 2016 | Edição do dia

A Folha, o Estado e o Globo, publicaram seus editoriais discutindo o papel do STF, em defesa da divisão e do equilíbrio entre os três poderes. Apesar das diferenças de tom entre a Folha e o Globo por um lado, mais positivos e o Estado por outro, mais polemico com as vozes dissonantes dentro do Supremo, a posição que defendem é basicamente a mesma.

Já na semana passada, na sua nota “Com a toga solta, ou como devolver o gênio para a lâmpada”, Leandro Lanfredi chamava atenção para o movimento que realizavam tanto a Folha como o Estado. Depois de colocar a justiça no centro do da crise política, enaltecendo o papel do judiciário e multiplicando a repercussão da lava jato, os jornais paulistas buscavam controlar até onde o supremo deveria se meter nos assuntos do congresso.

Semana passada, alertavam contra “excessos” do supremo, Estado e Folha criticavam a decisão de Marco Aurélio Garcia de exigir que Cunha abrisse comissão de impeachment contra Michel Temer. A Folha também criticava a decisão de Gilmar Mendes de impedir a posse de Lula como ministro. Ambos os jornais viam o perigo de que o STF se transformasse, nas palavras do Estado, em um poder moderador, acima dos outros.

O que está em jogo é a luta política imediata destes três jornais, empenhados no caminho do golpe institucional e do aprofundamento dos ataques às condições de vida dos trabalhadores, mas, para além disso, também o papel que o judiciário e o STF vão ter daqui em diante no regime político.

Neste sábado, a Folha e o Globo comemoraram as decisões do STF sobre o rito de votação impeachment, e a validade do parecer da comissão sobre a alegação do governo Dilma de que não teve direito a defesa. Nestes julgamentos, feitos não por despacho de único juiz, como os da semana passada, mas com todo o STF reunido, os ministros do STF acalmaram os editorialistas dos jornalões.

Chamados a decidir como poder moderador, cumpriram seu papel e negaram todos os pedidos do governo, e deixaram os deputados decidirem livremente neste domingo se aceitam ou não o processo contra Dilma. Ou seja, que o golpe institucional siga seu próprio curso este domingo. O Estado mais confiante e combativo que os demais, dando como certa a vitória neste domingo, já olha adiante. Critica as argumentações do voto de Lewandowski e Marco Aurélio Mello, principalmente a do primeiro, que pede pra constar em ata que o resultado da votação do domingo ainda pode ser questionado junto a STF.

Depois de colocar o judiciário no centro da cena política, Folha, Estado e o Globo, pedem que este cumpra seu novo papel dentro do razoável, ou seja, sem se meter demasiado profundamente nos assuntos do Congresso, que o levaria a perder o capital de legitimidade conquistado nos últimos meses.

Como são incapazes de devolver o gênio para dentro da garrafa, se esforçam para ao menos influenciar e moldar os limites em que atuam como poder moderador. Aceitando o fato da democracia de toga, de um regime político cada vez mais tutelado pelo judiciário, se esforçam para exercer alguma tutela sobre o STF.

Num tom muito mais panfletário, o jornal Zero Hora no seu editorial de hoje mostra até que ponto a grande imprensa está comprometida com o poder cada vez maior que está adquirindo o judiciário. Entre apelos aos deputados, o representante gaúcho do grupo Globo revela o que pensam os grandes jornais, apesar dos matizes de opinião, sobre o sistema político depois de domingo: que se torne uma democracia cada vez mais tutelada pelo judiciário e pela policia federal, mas que estes atuem com moderação e sabedoria. Nas palavras do Zero Hora: “Pois a virada do país — com ou sem impeachment, reafirmamos — tem que incluir um ataque permanente à cultura da corrupção. A Operação Lava-Jato, senhoras e senhores, passa a ser um estandarte de honra para os brasileiros, não pode ser interrompida, não pode ser desconsiderada, não pode ser transformada em instrumento político ou partidário. Independentemente de haver troca de comando no Executivo, os demais poderes e instituições republicanas, como o Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público e a Polícia Federal, têm que continuar sendo valorizados, defendidos e respeitados”




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