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OPINIÃO | A condução de Alexandre de Moraes ao STF como símbolo mór do fim do governo de conciliação de classes

quarta-feira 22 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

Análise do Professor Marcos Pedlowski da UENF, publicado em seu blog.

A inevitável aprovação do nome de Alexandre de Moraes (com direito a piscadela para o senador Edison Lobão no simulacro que sabatina que ocorreu ontem na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal) representa mais do que a condução de mais um ministro ligado ao PSDB para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Para mim, Alexandre de Moraes do alto da sua incapacidade de proferir corretamente o plural de “cidadão” é uma prova cabal de que estamos assistindo um adeus claro à disposição da burguesia nacional de tolerar um governo de conciliação de classes como o que foi executado pelo ex-presidente Lula. Espremida pela ampliação da crise sistêmica que abala o Capitalismo, a burguesia brasileira partiu para uma espécie de “tudo ou nada” para erradicar quaisquer insinuações de que podemos construir um sociedade menos absurdamente desigual.

Assim, enquanto se entroniza Alexandre de Moraes, o que vemos é a privatização de empresas públicas, o esfacelamento das políticas de mitigação das desigualdades sociais, e a plena entrega do Brasil à sanha das corporações multinacionais, inclusive com a abertura do mercado de terras aos capitalistas estrangeiros. Isto sem falar no avanço do desmantelamento de quaisquer veleidades em termos de mutilar e regredir a nossa legislação ambiental, cujas repercussões já podem ser vistas no total de desmatamento que está avançando a passos largos na Amazônia brasileira.

Em outras palavras, a burguesia brasileira tirou todas as luvas e partiu para o ataque frontal contra a maioria pobre do nosso povo. A maior prova disso é que em enquetes eleitorais que estão sendo realizadas o proto fascista Jair Bolsonaro está conseguindo se elevar como candidato viável a partir das intenções declaradas dos mais ricos e educados. Assim, o que parece evidente que a aposta dos ricos é pelo conflito aberto e sem mediações de mediadores do tipo representado por Lula.

No meio desse caldo regressivo assistimos ao próprio Lula atuar como bombeiro da luta de classes em prol de uma elusiva candidatura que ele pretende lançar para voltar à presidência da República em 2018. Considero essa postura de Lula, do PT e dos movimentos sociais e sindicatos que estão atrelados ao messianismo lulista um completo desserviço aos pobres brasileiros e, em última instância, a qualquer possibilidade de que o Brasil não retorne aos piores momentos da ordem social vigente desde o Século XVI. É que na eventualidade de vencerem a eleição de 2018, me parece mais do que evidente que não pretendem desfazer o que o presidente “de facto” Michel Temer está fazendo. Essa minha certeza decorre não apenas dos pedidos públicos de Lula para que se “supere” o debate do “golpe”, mas para que também se evitem posturas conflitivas. Além disso, tivemos comportamentos explícitos de colaboração nas eleições que ocorreram para as mesas da Câmara de Deputados e do Senado Federal, e também em múltiplas prefeituras controladas pelas forças que derrubaram Dilma Rousseff.

Ora, quem não aposta no confronto necessário enquanto é oposição, vai se comportar como quando puder a voltar a ser governo?

Por ter esta avaliação é que indico que precisamos definitivamente ultrapassar a fase em que se debate se Lula e o PT merecem que percamos tempo com eles. Em vez disso, considero que os que querem ruptura com a armadilha do governo de conciliação de classes precisam sair a campo para explicar didaticamente a gravidade do retrocesso que está em curso no Brasil, apontando ainda saídas pela esquerda para esse caldo de iniquidades que está sendo gestado pelas políticas ultraneoliberais da dupla Temer/Meirelles. E quanto mais cedo se fizer isto, melhor.




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