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ELEIÇÕES ARGENTINAS | A Frente de Esquerda e dos Trabalhadores protagoniza eleição inédita da esquerda argentina

O milhão de votos na esquerda trotskista é uma mensagem clara aos poderosos: há uma disposição política enorme dos trabalhadores, das mulheres e da juventude para enfrentar o ajuste e as políticas direitistas, quer seja Scioli ou Macri o ganhador a 22 de novembro.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

quarta-feira 28 de outubro de 2015 | 00:00

Com a apuração praticamente definida, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores conquistou a maior votação da história da esquerda argentina para a categoria presidencial com Nicolás Del Caño, superando os 800 mil votos (3,3% a nível nacional), tornando a FIT a quarta força política nacional e conquistando 1,1 milhão de votos para deputados, uma bancada na Província de Buenos Aires e batalhando contra a fraude em Jujuy. Tudo isso em meio a uma grande polarização entre os candidatos do ajuste Scioli e Macri, numa eleição que mostrou como a conclusão da década kirchnerista abriu o caminho para a direita.

Estes números ganham um maior valor em vista do contexto político em que se inscreveram. Apesar de uma inesperada polarização entre os dois principais candidatos dos ajustes, Daniel Scioli (candidato kirchnerista do partido Frente para La Victoria) e Mauricio Macri (do partido da direita, PRO) e a campanha demagógica do “voto útil” de que se serviu o kirchnerismo para “que a direita não volte”, Del Caño aumentou a votação das eleições primárias (PASO, Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias).

O candidato da FIT passou de 375 mil votos recebidos em agosto para mais de 800 mil para o cargo executivo, o que vários jornais sublinham como uma votação que a esquerda jamais havia feito antes. Nas últimas eleições presidenciais na Argentina, de outubro de 2011, a FIT havia obtido 503 mil votos, um pouco menos do obtido nas PASO deste ano.

A fórmula presidencial da FIT , Del Caño-Myriam Bregman, dirigentes do PTS, alcançou importantes resultados nos principais centros urbanos. Nos cargos legislativos (para deputados), a FIT ultrapassou os 5% em quase todos os principais estados: recebeu 5,5% na Cidade de Buenos Aires, quase 110 mil votos; na Província de Buenos Aires, recebeu quase 400 mil votos (4,51%); em Mendoza, alcançou a marca de 123 mil votos (12%), 30 mil a mais que nas primárias; em Córdoba, 119 mil votos (5,67%); em Jujuy, 17 mil votos (5,46%); em Neuquén, 28 mil votos (8,31%); em Salta, 42 mil votos (6,6%); em Santa Fé, 71 mil votos (4%); em Tucumán, 25 mil votos (3,22%).

A imprensa nacional teve de ecoar o lugar conquistado pela FIT anunciando que a "Frente de Esquerda celebrou o quarto lugar", e enfatizando que "Nicolás Del Caño, da FIT, ganhou a batalha pelo quarto lugar contra Margarita Stolbizer, de Progresistas", chegando perto de "1 milhão de votos, algo que nenhum candidato da esquerda jamais conseguiu".

Estes resultados consolidam a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores como força política nacional com peso em diversas categorias do tecido econômico nacional, entre as mulheres e os jovens, defendendo um programa claramente operário e socialista.

O milhão de votos na esquerda trotskista é uma mensagem clara aos poderosos: há uma disposição política enorme dos trabalhadores, das mulheres e da juventude para enfrentar o ajuste e as políticas direitistas, quer seja Scioli ou Macri o ganhador a 22 de novembro.

Nem Scioli nem Macri são alternativa

Consultado pelos jornais sobre a posição da FIT frente ao segundo turno, no próximo 22/11, Del Caño assegurou que “nós, coerentemente com o que dissemos em nossa campanha, vamos chamar o voto nulo e não acompanhar nenhum dos dois candidatos”.

A experiência brasileira com a demagogia petista do “mal menor” para que “a direita não volte” mostrou ser o caminho mais curto para a direita se fortalecer. Ela ilustra a situação do kirchnerismo em crise na Argentina, que de suas origens como governo de passivização e contenção atingiu a restauração das forças da direita no país.

"Chamamos a votar nulo, com plena convicção do que dissemos em campanha acerca dos dois candidatos. No Brasil, antes do segundo turno, Dilma Rousseff disse que não ia atacar os interesses das maiorias populares e dos trabalhadores e desde o início do ano está aplicando um tremendo ajuste, que já custou 2 milhões de postos de trabalho", disse Nicolás Del Caño do PTS na FIT. "De nenhuma maneira cairemos na armadilha do mal menor. Chamamos a população trabalhadora e o milhão de votantes da FIT a dar as costas aos ajustadores".

A consolidação da FIT, uma frente da esquerda independente sem paralelo na América Latina, coloca a possibilidade de que o ajuste seja enfrentado nas ruas com os métodos da luta de classes por uma camada minoritária mas importante do movimento de massas dos trabalhadores, das mulheres e da juventude. Uma grande força que combateu a idéia do "mal menor" que como no Brasil com o PT abriu o caminho para os ajustes e a direita reacionária, e que insiste na idéia de que é possível conquistar peso em setores de massas sem abandonar a luta para que o movimento operário se transforme em sujeito político, avance das lutas sindicais à militância política e construa um partido com independência de classe que lhe seja próprio.

Estas são grandes perspectivas para a esquerda latinoamericana, em um subcontinente atravessado pelo esgotamento dos governos ditos “progressistas” neoliberais, que como mostram Brasil, Argentina e Venezuela estão profundamente golpeados pela crise econômica.

Comparto con ustedes mi discurso de anoche:

Posted by Nicolás Del Caño on Segunda, 26 de outubro de 2015




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