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CORONAVÍRUS | A Balança Comercial já estava em queda antes do Coronavírus

As exportações foram um fator para que o PIB brasileiro apresentasse um valor estatisticamente positivo nos anos de 2017 a 2019. Antes mesmo da generalização do impacto da pandemia na Europa, nos EUA e no Brasil, o comércio exterior brasileiro sofria forte queda, implicando em menor quantidade de recursos nas mãos da burguesia nacional, e portanto, um impacto recessivo em várias partes do país.

quarta-feira 1º de abril de 2020 | Edição do dia

As exportações caíram 8,54% na comparação de janeiro e fevereiro de 2020 comparados aos mesmos meses de 2019. Para complicar a situação da burguesia brasileira antes do forte mergulho mundial em março vinha acelerando suas compras de máquinas e agora, com menos recursos no bolso, tem novas dívidas. Dedicamos esse artigo para entender em maior detalhe a balança comercial, por produto, antes de março, e em poucas semanas traçaremos um novo panorama agora com os dados já mais fortemente impactados pela pandemia.

Queda no superávit da balança comercial combinado à queda do volume exportado

O volume exportado sofreu acentuada queda em um ano, passando de US$33,7 bilhões para US$ 30,9 bilhões. Junto a essa queda no superávit também caiu fortemente, mostrando menos exportações e mais importações.

Os resultados de janeiro e fevereiro na Balança Comercial indicavam, apesar do caminho geral de queda, leve melhora em alguns setores, de janeiro e fevereiro apresentou saldo positivo de 1,4 bilhões de dólares, muito abaixo dos 4,7 bilhões de dólares do ano passado. Somente a alta do dólar, que impacta muito no valor das importações porque as encarece, não explica esse fenômeno, buscamos aqui traçar englobar alguns panoramas para tentarmos entender em qual pé o Brasil entra numa das maiores crises da história capitalista com a pandemia do Coronavírus.

Antes de tudo é importante destacar que esses números não apontam tendências, inclusive setores que parecem fortes nessa análise, como o setor petrolífero, amargou perdas históricas com a queda dos preços feita pela Arábia Saudita e que analisamos aqui, além de que a desaceleração da economia global já aumentou as reservas mesmo com a queda nos preços. Ao mesmo tempo, a China já está tentando recuperar sua economia depois das medidas sanitárias, o que pode impactar, positivamente as exportações de grãos e minérios, mesmo que o preço dessas commodities tenha caído. Ou seja, tentaremos dar uma base para acompanharmos o desenvolvimento da crise a partir do cenário imediatamente anterior a ela.

Petróleo e derivados de combustíveis

Comparando 2019 com 2020, o início do ano teve um aumento de 10% nas exportações de petróleo cru, com a China sendo o destino de 60% das exportações. Interessante notar que o segundo e terceiro maiores destinos, os EUA e a Espanha, respectivamente, com participação próxima a 15%, tiveram um aumento de 50% no valor exportado.

O valor das exportações de óleo cru chega perto da casa de 4 bilhões de dólares, enquanto o valor dos óleos derivados (diesel, óleos lubrificantes) estava na casa de 500 milhões de dólares e saltou para 1 bilhão de dólares de um ano para cá. Esse aumento é interessante pois deve ter se dado principalmente por “offshores” que depois redirecionam o produto: Cingapura importou, nos dois primeiros meses de 2019, US$139 milhões, enquanto que no mesmo período de 2020 deu um salto para US$740 milhões.

Minérios de ferro e cobre

As exportações de minérios de ferro se mantiveram praticamente estagnadas, na casa de US$ 3,250 bilhões de dólares, mas interessante notar que os destinos se alteraram bastante. A China, que era o destino de cerca de 50% das exportações passou para a casa de 60% das exportações mesmo no período mais crítico da crise sanitária lá, isso se deu em detrimento de destinos menores do Oriente Médio e do próprio Sudeste Asiático, como a Malásia onde a VALE fechou seu porto. Com a recuperação da economia chinesa após a crise do coronavírus, a tendência seria de aumento da demanda de minério de ferro por lá, mas ainda há todas as cadeias globais de valor na qual a China se insere que podem ficar estancadas por um tempo ainda maior, impactando na demanda por ferro.

Importante destacar o cobre, que triplicou o valor exportado, passando para quase 1 bilhão de dólares exportados em dois meses ante 300 milhões no mesmo período do ano passado. O destino foi principalmente a União Européia, correspondendo por 80% de toda nova demanda por exportação. O “efeito Chile”, que teve suas exportações impactadas pela revolta social, abriu uma nova janela de mercado momentânea. O aumento exponencial na exportação de cobre se deu em um momento que seu preço internacional, cotado pela Bolsa de Londres, teve ligeira queda, ou seja, o volume exportado cresceu mais que 200%.

Soja, milho e carne

Esses produtos são importantes observar no agregado deles, pois houve uma queda considerável na exportação para a China, que ano passado recebeu US$ 2,3 bilhões dos US$ 2,6 bilhões exportados e nesse ano caiu de US$ 1,6 bilhão dos US$ 2,3 bilhões exportados. Junto com a queda nos preços, que podem explicar a variação no valor da exportação, a questão chinesa tem como principal fator o acometimento da “Peste Suína Africana” que matou metade do rebanho chinês, e ¼ do rebanho mundial. Com isso a demanda por Soja, para alimentar porcos, diminui mas a demanda por carne brasileira aumentou.

A carne bovina teve crescimento das exportações em 30%, chegando a US$ 1 bilhão em dois meses, sendo US 650 milhões somente da China. No caso da carne de frango o crescimento foi menor, até porque a estrutura interna é menos dinâmica: cresceu 15%, chegando a US$ 1 bilhão, com o crescimento da demanda chinesa na casa dos 70%, comprando US$ 270 milhões. Ou seja, em valores o crescimento da exportação da carne “compensou” a queda da soja.

Embora não faça parte dessa cadeia mas seja um produto derivado do extrativismo vegetal, interessante notar a grande queda na exportação de celulose, passando de US$ 1,6 bilhão para US$ 900 milhões em função da antecipação da indústria nacional a demanda por papel higiênico, máscaras e produtos hospitalares na crise do coronavírus, o que reduziu a capacidade de exportação.

Importação de bens de capital

Interessante destacar que no quesito das importações se manteve um nível alto de importações de estruturas petrolíferas, plataformas que deixaram de ser produzidas no país desde o golpe institucional, na casa de US$ 2 bilhões. Máquinas de construção civil tiveram um salto de 2000%, com valor superior a US$ 1 bilhão praticamente importado dos EUA. Queda na casa de 15% dos insumos para a indústria automobilística e eletrônica, que saíram da casa dos US% 750 milhões cada uma para a casa de US$ 650 milhões. Além de um crescimento de importação de caldeiras e máquinas mecânicas na ordem de US$ 2 bilhões, passando para US$ 4,5 bilhões importados.

Alguns indícios

Primeiro, que seria leviano decretar que a soja não terá mais papel tão destacado, mas deve haver uma recomposição e equilíbrio entre esse setor e o de carnes no próximo período enquanto se estabiliza a demanda. Da mesma maneira o setor mineral, que negociando com preços menores, poderá ficar de molho por enquanto mas pode ter um respiro pós crise. O que se mostra mais instável é o petróleo devido à crise instalada entre OPEP e Rússia, o que impacta não só as exportações mas também importante demanda por máquinas e estruturas para o petróleo do exterior, com certeza a Petrobras será muito afetada em sua atividade e em sua capacidade de dinamizar o crescimento. Há uma leve recomposição nos bens de capital, talvez só recompondo depreciação, mas talvez um indicativo que podem haver novos investimentos no parque industrial brasileiros, mas momentaneamente a demanda por eletrônicos e automóveis em Manaus, no Sudeste e nos pólos das outras regiões deve sofrer retração.




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