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8M para fazer tremer o Nordeste: mulheres resistem à seca, à violência e ao desemprego

Marie CastañedaEstudante de Ciências Sociais na UFRN

terça-feira 7 de março de 2017 | Edição do dia

8 de março é dia de luta e resistência. E neste ano, promete paralisar o trabalho das mulheres em todo o mundo. Não faltam motivos para isso: vemos os poucos direitos já conquistados ameaçados pelos poderosos, aqui no Brasil com Temer, seus amigos golpistas, Ricardo Coutinho e Romero Rodrigues; e lá fora com Donald Trump, que avança em arrancar direitos das mulheres nos Estados Unidos.

O misógino e racista Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos e já iniciou seu mandato com um profundo ataque às mulheres, declarando que nomearia à Suprema Corte juízes que são contrários ao direito ao aborto e à difusão de métodos contraceptivos. Contra isso, as mulheres norteamericanas protagonizaram uma marcha histórica de milhões pelos Estados Unidos e, junto ao movimento por Ni Una Menos na Argentina, afirmaram que este 8 de Março seria de enfrentamento pela vida das mulheres, com um chamado internacional de paralisação “dos 99% contra o 1%”, ou seja, abrindo uma perspectiva de um movimento feminista anticapitalista.

Um chamado importante, já que uma das principais operações políticas dos novos fenômenos populistas de direita, como Trump, é separar a luta das mulheres e demais setores oprimidos das demandas da classe trabalhadora, algo que só uma perspectiva de combate anticapitalista e socialista pode unificar.

Trata-se de um ano em que, com a continuidade da crise capitalista, o cenário da América Latina promete ser de profundos ataques à classe trabalhadora, afetando especialmente as mulheres e, em países como o Brasil, os negros e negras. As reformas de Temer, como a previdenciária e a trabalhista, que são um marco contra as condições de trabalho e favorecem ainda mais os patrões nos contratos, atacam ainda mais profundamente as mulheres, que em seu dia-a-dia já são submetidas às duplas e triplas jornadas, trabalhando muitas vezes quase o dobro de horas que os homens e em condições mais precárias, como pela via da terceirização. Ou no telemarketing, um setor de trabalho precário que aparece como uma alternativa aos setores oprimidos, às mulheres trans, LGBTs e negros e negras.

Estamos pagando a conta da crise carcerária (a cumplicidade entre o Estado, as facções e as empresas privadas) que impacta o comércio, nossos empregos e por consequência, o salário que alimentaria nossas famílias. Essa é mais uma conta de Temer e da crise que eles nos quer fazer pagar.

Temer chegou a dizer que queria ser reconhecido como “o melhor presidente no Nordeste”; resta perguntar qual o motivo desse curioso auto-elogio: aprofundou os ataques que vinham sendo aplicados pelo PT e afundou a economia da região, acentuou os efeitos da seca histórica do Nordeste, responsável pela morte de animais e crianças, e legou um recuo de -4,3% do PIB regional, recuo maior que a média nacional.

Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em 2015 foram cortados 76,6 mil postos de trabalho no Nordeste. Já no período que vai de julho de 2015 a julho de 2016, a região Nordeste registrou a segunda maior taxa de demissões no país, com 223.382 trabalhadores que perderam postos de trabalho formais. Dados da Pnad de 2016 mostram que a taxa de desocupação no Brasil é maior entre as mulheres (13,8%, enquanto a dos homens é 10,7%). O Nordeste é a região que apresenta maior taxa de desemprego entre as mulheres em todo o país, de 16,5%.

O Nordeste é também a região onde o número de feminicídios cresceu em quase 80% nos últimos 10 anos, tornando a ameaça da violência e do feminicídio cotidiano das mulheres, além dos assédios no trabalho, na rua.

Realmente não nos faltam motivos para fazer a terra tremer e sentir a força explosiva das mulheres trabalhadoras, jovens, negras, intelectuais, estudantes. Unidas todas encabeçando uma frente comum contra os ataques do governo e dos capitalistas, apoiadas por nossos companheiros homens.

O capitalismo não reserva nada além de opressão e exploração às mulheres, LGBTs, negras e negros e trabalhadores. Não à toa se utiliza das opressões para dividir os trabalhadores e afastar quem seriam seus aliados naturais para lutar, porque sabe muito bem quão perigosas podemos ser para sua ordem.

A CUT e a CTB estão boicotando o chamado à paralisação internacional de mulheres, ignorando a necessidade de convocar assembléias democráticas em cada local de trabalho para deter a produção neste 8M.

Exigimos que as centrais sindicais rompam sua trégua com o governo golpista e construam verdadeiramente esse dia internacional de luta, não somente chamando para os atos, mas convocando assembleias de base onde as trabalhadoras e trabalhadores discutam paralisações e ações em todos os locais de trabalho e possam de fato se ligar ao chamado internacional.

Nós do Esquerda Diário e do Grupo de Mulheres Pão e Rosas chamamos todos a paralisarem seus locais de estudo e trabalho no 8 de março, junto ao chamado internacional de paralisação para dar um claro recado aos patrões e governos: não nos calaremos frente à violência machista da sociedade capitalista! Se nossas vidas não importam, que produzam sem nós.




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