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USP | 7 motivos para que os estudantes lutem ao lado dos trabalhadores da prefeitura da USP

Os trabalhadores da prefeitura do campus da USP entraram em greve nessa terça-feira. Queremos com esse texto explicar quais são os motivos para que os estudantes se coloquem em luta ao lado dos trabalhadores contra o desmonte e a precarização da universidade.

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

quinta-feira 1º de outubro de 2015 | 02:10

Essa semana por ordens da reitoria, o prefeito do campus tentou implementar a transferência de vários setores de trabalhadores, que no totalizam quase metade da prefeitura. Os trabalhadores se recusaram aceitar mais esse ataque da reitoria e após uma reunião de unidade deram início a greve contra o desmonte da prefeitura. Apresentamos abaixo 7 motivos para que os estudantes entendam como a luta dos trabalhadores da prefeitura é parte da nossa luta em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade para todos.

1) Uma tentativa de atacar todos os lutadores dentro da universidade
A tentativa do reitor de separar os trabalhadores da prefeitura do campus visa um único interesse: dividir os trabalhadores enfraquecendo a luta. A prefeitura da USP sempre foi um histórico bastião de luta e resistência, sendo que alguns trabalhadores estão a mais de 30 anos na universidade, na linha de frente das mobilizações, greves e piquetes, se enfrentando com a repressão da polícia, da reitoria e dos governos, em defesa de uma universidade que esteja efetivamente a serviço da população pobre e trabalhadora. Se a reitoria consegue derrotar os trabalhadores e impor o desmonte da prefeitura encontrará caminho aberto para implementar todo o seu projeto de desmonte e privatização das creches, bandejões, escola de aplicação, hospital universitário e todos os outros serviços oferecidos pela universidade, até chegar a tão falada cobrança de mensalidades.

2) A manutenção da universidade é fundamental para a qualidade do ensino e da pesquisa
Muitos estudantes devem se perguntar o que exatamente os trabalhadores da prefeitura fazem, já que essa é uma das unidade da USP que não está diretamente vinculada a alguma área de ensino. Contudo o serviço dos trabalhadores da prefeitura são extremamente importantes para o funcionamento da universidade. São eles que cuidam da manutenção e conservação do campus, como troca da fiação elétrica, cuidado com os gramados, manutenção dos prédios e tantos outros serviços que muitas vezes passam desapercebidos em nosso cotidiano. Serviços fundamentais para garantir o funcionamento da universidade no que diz respeito a sua estrutura física. E todos nós sabemos que um bom ambiente é extremamente importante na hora de estudar.

3) A precarização abrindo caminho pra privatização
A tentativa de desmonte da prefeitura vem sendo implementada há muito tempo, antigamente essa unidade contava com mais de mil trabalhadores sendo que hoje foram reduzidos a pouco mais de 200. A reitoria culpa os salários dos trabalhadores diante da crise universitária e aponta como solução a demissão, contudo nem sequer cogita abrir o livro de contas das fundações privadas que atuam dentro da USP ou reduzir os super salários pagos a burocracia universitária. Ano passado o reitor Zago declarou que o modelo de universidade de excelência para ele era o da Universidade de Bolonha na Itália. Uma universidade que funciona com apenas 3 mil trabalhadores efetivos para 80 mil estudantes. Mas é claro que esse número de trabalhadores é insuficiente para manter uma universidade desse porte, sendo necessário, portanto, a contratação de mais funcionários, que nesse caso seriam trabalhadores terceirizados e precarizados. Hoje na USP alguns setores como a limpeza, por exemplo, já são terceirizados e coincidentemente os donos dessas empresas são professores de alto escalão da burocracia acadêmica, como o professor da ECA, dono do Bandejão das Químicas. O desmonte da prefeitura vem a serviço desse projeto de privatização.

4) Se passa esse ataque na prefeitura os próximos são as creches, escola de aplicação, bandejões e o Hospital Universitário
A luta para barrar o desmonte da prefeitura do campus deve ser encarada como parte de uma luta contra o modelo de universidade que o reitor tenta implementar. As creches, a escola de aplicação, os bandejões e o hospital universitário são considerados segundo palavras do próprio reitor "gordura para ser queimada". No inicio do ano várias crianças ficaram sem creches, o que obrigou diversas estudantes a optarem por levarem seus filhos pras salas de aulas ou abandonar seus cursos, sendo que a reitoria já anunciou que ano que vem não abrirá vagas novamente. Nos bandejões quase todos os trabalhadores possuem doenças ocasionadas pelas péssimas condições de trabalho, que juntamente com a falta de funcionários faz com que 44% dos trabalhadores estejam comprovadamente com restrições médicas. Enquanto isso segue o desmonte do HU, com fechamento de leitos e avanço do PiDV. Alguém tem alguma dúvida que Zago vai contentar-se em apenas desmontar a prefeitura enquanto ainda tiver “gordura pra queimar”? Dessa forma assim que passar o desmonte da prefeitura, os próximos na lista de cortes são setores ligados ao ensino e a pesquisa.

5) Estagiários precarizados no lugar de trabalhadores efetivos
Ano passado a reitoria cortou inúmeras bolsas oferecidas aos estudantes, em contrapartida esse ano anunciou a abertura de mais de 4 mil bolsas estudantis no Programa Unificado de Seleção de Bolsas e voltou a oferecer bolsas de intercambio. O que aparentemente parece ser uma boa notícia esconde na prática a lógica perversa do reitor. Essas 4 mil bolsas não são todas bolsas de permanência estudantil desvinculadas de qualquer trabalho a ser oferecido por parte dos alunos. Pelo contrario são bolsas trabalho, nas quais os alunos recebem após prestarem serviços para a universidade, serviços que deveriam ser exercidos por um trabalhador efetivo e com todos os direitos garantidos agora passam a ser responsabilidade dos estagiários precarizados e sem quaisquer direitos. O que perecia uma benevolência do reitor é na verdade um meio de garantir que a demissão de tantos funcionários seja amenizada através da exploração de diversos estudantes, que para permanecer na universidade precisam dessas bolsas. Se a reitoria implementa seu projeto de desmonte começando pela prefeitura essa realidade tende a ser cada vez mais comum daqui pra frente.

6) A reitoria ocupa os blocos K e L enquanto falta permanência estudantil
Falta vagas no Crusp e bolsas de permanência para toda demanda. Enquanto isso os blocos K e L permanecem ocupados, se antes davam lugar a antiga reitoria, agora o novo projeto do reitor é transferir todo o setor administrativo da prefeitura do campus para lá. Ano passado a reitoria tinha se comprometido a devolver os blocos K e L, o que ela ainda não cumpriu e demonstra que nem pretende cumprir. Enquanto isso diversos estudantes correm o risco de abandonar seus cursos por não ter onde morar e continuam sofrendo a procura de um emprego precário que minimamente garanta permanência na universidade, o que muitas vezes acaba se contrapondo a levar a graduação a frente de forma qualificada como deveria ser.

7) Se apoiar na luta iniciada pelos trabalhadores da prefeitura para barrar os ataques e lutar em defesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade
Essa luta iniciada pelos trabalhadores da prefeitura deve ser tomada por todos os estudantes, professores e funcionários, como um pontapé inicial na luta em defesa de uma universidade que coloque seu conhecimento a serviço da população oprimida e explorada. Nossa tarefa enquanto estudantes é prestar total apoio e solidariedade a esses trabalhadores, mas também discutir em cada sala de aula, com cada colega, a necessidade de construirmos nossa própria mobilização lado a lado com os trabalhadores.

O congresso dos estudantes da USP, que começa nessa quinta feira, deve servir pra que o conjunto do movimento estudantil seja parte ativa de uma luta que está acontecendo agora dentro da universidade. O debate sobre o que está acontecendo na prefeitura deve permear todas as discussões do congresso, tirando medidas concretas para que cada delegado volte para seu curso construindo uma forte mobilização contra o desmonte e precarização da universidade.

Precisamos tirar uma politica concreta para varrer o governismo da universidade, responsável direto pela passividade reinante no ME e que hoje dirigem os principais Centros Acadêmicos da FFLCH, incluindo o CAELL, CA da Letras, o maior curso da América Latina. Cabe a atual gestão do DCE (PSOL/PSTU) romper com a dinâmica de atividades rotineiras e efetivamente armar os estudantes para luta. Não só apoiando ativamente a greve dos trabalhadores da prefeitura como discutindo com todos os estudantes da universidade, em todos os campi da USP, a necessidade de que os estudantes se coloquem na luta, lado a lado com os trabalhadores.


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