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6 vezes em que artistas miraram sua artilharia contra Bolsonaro e militares

Giovana Pozzi

6 vezes em que artistas miraram sua artilharia contra Bolsonaro e militares

Giovana Pozzi

Em 3 anos de Bolsonaro, não foram poucos os artistas que miraram suas armas contra o governo. São muitas, mas buscamos reunir aqui alguns exemplos.

O registro do passado é comumente associado apenas aos historiadores (capitalistas) e seus livros de história. Contudo, muito pincel, teatro, música, poesia e prosa narram a história. A nossa história, dos que lutam contra a exploração e a opressão, da classe trabalhadora, da juventude, das mulheres, negros e LGBTS. Em tempos de esquecimento forçado e adulteração dos fatos, há 3 anos sob o governo reacionário de Bolsonaro e Mourão, a arte vem cumprindo o papel fundamental de resistir, lutar e registrar. Trazemos aqui alguns exemplos de 2018 pra cá.

“aqui, hoje, eu vi
aterrorizado
um artista assassinado
Moa do Katendê,
mestre de capoeira,
autor do Badauê”

A arte não é um ente que paira no ar, como muitos querem nos fazer acreditar. Ela é produto direto - às vezes escancarado, outras mais escondido - da sociedade de classes e seus embates. A citação acima, por exemplo, é do poema-manifesto contra Bolsonaro, escrito e interpretado por Arnaldo Antunes. O poema é de outubro de 2018, momento em que ocorreram as eleições manipuladas pelas quais Bolsonaro e Mourão foram eleitos. Momento também em que o capoeirista negro, Moa do Katendê, foi brutalmente assassinado a facadas por um bolsonarista, logo após a votação do primeiro turno.

Era o prenúncio do que viria. O nascimento de um filho indesejado do golpe institucional de 2016 estava prestes a acontecer para que trabalhadores, jovens e artistas pagassem a conta da crise com ainda mais juros.

“depois de um golpe
que precisa parir outro golpe
ou autogolpe
alimentado por todas as fakes e facas
contra as costas de artistas
como “Moa”

Ainda em novembro de 2018, já com Bolsonaro eleito, o artista Yuri Sousa grafitou Trump e Bolsonaro se beijando em um muro de Maracanaú, Ceará, que incomodou os bolsonaristas. O mural que demorou quase nove horas para ser feito, foi apagado em menos de dois dias. A foto seguiu circulando pelas redes e Yuri teve sua conta nas redes bloqueada pelo próprio Instagram - essa é a nada imparcial censura feita pelos criadores dos tiranos algoritmos. Mas se eles não querem mostrar, aí sim que a gente mostra.

Diga-se de passagem, esse grafite me remete a uma charge da genial Laerte, outra artista que utiliza a ponta do lápis afiada contra todo tipo de reacionarismo. É até difícil selecionar apenas uma charge, mas felizmente há um acervo criado por ela mesma com suas obras, possível de ser acessado aqui. Trazemos esse singelo retrato da posição submissa e colonial que Bolsonaro e os militares impõem ao Brasil.

No começo de 2019, logo de cara, Bolsonaro, Weintraub e o ninho de ratos do Congresso Nacional anunciaram um corte de verbas gigantesco na educação, combinado com o ataque à previdência. A resposta da juventude e dos trabalhadores foi nas ruas: Tsunami da Educação, como ficaram conhecidos os dias 15 e 30 de maio de 2019. Em terras gaúchas, o abre-alas dessas manifestações foram estudantes de teatro, artes visuais e música da UFRGS. Novamente a arte cumpriu um papel de porta-voz das lutas e, mais do que isso, virou ferramenta na luta de classes, a serviço dos interesses da classe trabalhadora.

E no meio da pandemia, artistas sobrevivem do quê? Quando ela estourou em 2020, os artistas foram uma das tantas categorias de trabalhadores afetadas. A crise capitalista e pandêmica tratou de escancarar a situação de um fomento cultural escasso e restrito, levando ao fim de inúmeros grupos independentes. O negacionismo de Bolsonaro, somado à política de ataques dos golpistas, aprofundou uma situação de miséria. Já são quase 500 mil mortos pela COVID. A burguesia empurra a classe trabalhadora e a juventude, principalmente pobre e negra, para uma corda bamba entre o desemprego, a fome, a covid e as balas da polícia.

“Um país em marcha ré”, foi assim que o Teatro da Vertigem definiu o Brasil pandêmico através de uma performance impactante em São Paulo. Ao invés de para frente, a carreata performada andou para trás; e no lugar de buzinaço, o som que saía dos automóveis era o ruído dos respiradores de UTI. Foram agonizantes 30 minutos que mimetizaram meses e meses de um sofrimento pavoroso. Você pode ver a performance completa aqui.

De fato, os ventos que hoje sopram no governo de Bolsonaro e Mourão revelam resquícios de tudo que há de mais reacionário nessa democracia burguesa. Se utilizam de leis formuladas na época da ditadura para perseguir quem luta. Censuram artes e artistas. Veneram estética nazista, como fez Roberto Alvim, ou então cantam músicas celebrando a tortura e a ditadura, como fez Regina Duarte. Enquanto isso, aplicam ataques que impõem retrocesso ao mais mínimo direito trabalhista, jogando a classe trabalhadora à total precarização.

O fato é que estaremos fadados a “andar em marcha ré”, seja material ou culturalmente, enquanto a burguesia permanecer no poder. Mas sabemos que a história não é estática, a luta de classes segue vigente e é ela quem dita as regras, como está mostrando o povo colombiano em luta - muito bem representados por essa colagem digital do artista chileno-carioca Macaco do Sul.

Trabalhadores e juventude organizados em seus locais de estudo e trabalho podem alterar por completo as regras desse jogo, derrotar Bolsonaro, Mourão, militares e todo regime apodrecido. E sobre as ruínas do velho mundo, construir um novo em que não haja exploração nem opressão, onde a arte possa ser livre. Fazer o capitalismo perecer com as nossas próprias mãos. E como diz El Efecto na canção “Consagração da Primavera”:

“E com os teus cacos
brincaremos
E sobre os teus escombros
dançaremos
Por fim, a primavera”


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Giovana Pozzi

Estudante de história na UFRGS
Estudante de história na UFRGS
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