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Obscurantismo | 40 anos do HIV: da antiga sentença de morte ao persistente preconceito

Quatro décadas de avanços científicos em torno da prevenção e do tratamento da Aids permitiram que a doença passasse de uma sentença de morte para a possibilidade dos soropositivos conviverem de forma tranquila com a doença. Em contrapartida, o contexto obscurantista do governo Bolsonaro evidencia que esses avanços da medicina não foram acompanhados pela consciência da população em que predomina o estigma e o preconceito.

quarta-feira 1º de dezembro de 2021 | Edição do dia

A Aids foi reconhecida pela primeira vez em 1981, pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, e a sua causa — o HIV — foi identificada na primeira metade da década. Em 1988 a Organização Mundial da Saúde instituiu a data de hoje como Dia Mundial do Combate à Aids (a mesma que somente em 1990 retirou a homossexualidade da sua lista de doenças).

De lá para cá o conhecimento e principalmente os tratamentos em torno da doença se desenvolveram bastante, com seu diagnóstico deixando de ser uma sentença de morte, permitindo que as pessoas soropositivas convivam com o vírus, inclusive reduzindo a carga viral a níveis indetectáveis. Evolução que não foi acompanhada pelo esclarecimento da população em geral, cujo preconceito segue latente. Fato que nosso presidente reacionário ilustra bem, chegando ao ponto de produzir fake news vinculando as vacinas com o desenvolvimento da doença, um obscurantismo digno do período de descoberta da doença.

Um estudo do Unaids (programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids) com 1.784 soropositivos brasileiros mostra que 64% já sofreram algum tipo de discriminação: 46% por meios de comentários de familiares, vizinhos e amigos, 25% em assédios verbais e 20% chegaram a ter perda de fonte de renda ou foram rejeitados em uma oferta de emprego.

Essa relação entre o diagnóstico e a perda do emprego ou da renda expõe bem o vínculo entre o preconceito e o capitalismo, que tem na LGBTfobia um pilar para o incremento da exploração, expulsando esses indivíduos para os piores postos de trabalho. Um exemplo disso foi a ação que a Confederação Nacional das Indústrias moveu uma ação para derrubar a garantia de estabilidade de emprego para pessoas que vivem com o HIV e estão ameaçadas de demissão discriminatória.

Outra materialização do preconceito é nas Forças Armadas, que ainda hoje exigem exame para detecção do vírus, eliminando os candidatos que testem positivo.

"Uma pessoa com HIV, além do problema serio para ela, é uma despesa para todos aqui no Brasil. Agora, essa liberdade que pregaram ao longo de PT, tudo, de que vale tudo, (em que) se glamouriza certos comportamentos que um chefe de família não concorda, chega a esse ponto. Uma depravação total. Não se respeita nem sala de aula mais".

declaração de Bolsonaro em fevereiro de 2020

Veja mais:Pessoas que convivem com HIV não são uma despesa! Basta de discriminação e ódio!

Ataques como esses são possíveis num contexto de obscurantismo em que Bolsonaro faz questão de explicitamente atacar a parcela da população soropositiva, dizendo que são uma “despesa para todos aqui no Brasil”. Posições que encontram eco no discurso da sinistra Damares Alves que prega a abstenção sexual como forma de prevenção às IST, além do próprio ministério da Saúde que promoveu campanha contra as ISTs, alentando maior preconceito: “Se ver já é desagradável, imagine pegar. Sem camisinha, você assume esse risco. Use camisinha e se proteja dessa e de outras infecções sexualmente transmissíveis”.

Por isso, nestes momentos de ofensiva reacionária e de grandes polarizações, o movimento LGBT precisa retomar sua combatividade e radicalidade para questionar não apenas estas medidas, mas todo o sistema legitimado por diversas instituições "democráticas" que perpetuam o controle dos corpos, de nossa sexualidade e identidades. Somente erguendo uma grande bandeira pela separação da igreja do Estado, uma luta pela educação sexual nas escolas, pela prevenção combinada e pela legalização do aborto é que podemos contrapor os projetos reacionários que visam aprofundar a já triste realidade das LGBT e das mulheres cisgêneras que pagam com suas vidas por esta repressão.

A vida das pessoas com HIV não é uma despesa! O tratamento é um direito fundamental.Basta de discriminação e de preconceito!




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