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JUNHO 2013 | 17 de junho no Rio: A noite em que a ALERJ foi da Juventude!

Jenifer TristanEstudante da UFABC

quinta-feira 18 de junho de 2015 | 00:28

Aquele dia começava com muitas dúvidas sobre como a manifestação ia ser, pois muitos jornais e a mídia burguesa estava em cima dos supostos “vândalos” que queriam destruir a cidade, mas com uma certeza de que ir para a rua reivindicar nossos direitos mesmo com tantos ataques era a solução!

Na concentração haviam muitas pessoas, muitas mesmos e muitos cartazes, me lembro de ter lido muitos, frases muito criativas, expressões de revolta, algumas ironias e muitos xingamentos ao Governador Sergio Cabral e o Prefeito Eduardo Paes, mas cada um desses cartazes continham palavras que descreviam um anseio de ser parte daquele processo de luta que se instaurava em todo o país, um anseio de ser ouvido, com cartazes que mais são gritos, de uma juventude cansada de receber ataques, cansada de ser cobrada sem que o estado garanta os direitos básicos como de moradia, educação, saúde e ali a causa principal o transporte, mas que é excelência em repressão policial.

O clima era de tensão e euforia, já sabíamos que em São Paulo a repressão era certa, muitos noticiários as ruas cheias de policiais muitas horas antes da manifestação e no Rio de Janeiro não era diferente com Caveirões, BOPE, tropa de choque e todo tipo de polícia na rua.

Quando enfim a manifestação saiu da concentração já não havia como enxergar o fim do ato, não sabíamos quantas pessoas estavam nas ruas, eram muitas que ali com um ar de orgulho por estar fazendo parte da história e alegria de ver a quantidade de pessoas que estavam na rua; rostos extasiados de setores da esquerda e do movimento estudantil, que por anos iam as ruas reivindicar o direito ao transporte, mas que naquele momento era tudo diferente, aquela demanda era de todos agora, diziam que “O gigante acordou”, o gigante era a juventude cansada de viver nessa guerra velada onde só a gente não está de todo preparado para ela.

Pessoas nos prédios do centro piscavam as luzes de maneira frenética, era uma cena linda a multidão gritando “Quem apoia pisca a luz!” e todos os prédios com as luzes piscando por todo o caminho, cantando “Quem não pula quer aumento!” eram tantas pessoas que era possível sentir a trepidação do chão aos pulos dos milhares.

Com muitos boatos, rumores soubemos que Brasília foi ocupada e em Minas um jovem havia sido morto, ao saber da morte o choque e rapidamente os manifestantes começaram a cantar algo para expressar que a juventude carioca estava na rua e na luta junto aos mineiros, isso levou alguns minutos e cantávamos enquanto estávamos parados. Com o informe sobre Brasília e o ato que passaria em frente a ALERJ foi desviado e parou no meio do caminho todos ficaram ali parados na esquina entre a Avenida Rio Branco e a Rua Evaristo da Veiga no impasse de seguir ou não, a esquerda que dirigia o carro de som, se negou a seguir junto aos milhares que com muito ódio contido de alguns anos, saiu enfurecida gritando: “ALERJ, ALERJ!!”, começamos então a ouvir bombas, tiros e muitos barulhos.

O ato se divide e a esquerda fica para trás parada na rua enquanto a juventude avança aos milhares em direção a ALERJ, para todos viver aquilo era uma experiência incrível mesmo com a falta de direção e preparo, se negar a estar ali era se negar a ser parte da história do país que naquele momento estava sendo construída pela juventude em todo país.

A barricada fecha as ruas para abrir novos caminhos!

Ao chegar na porta da ALERJ o espaço estava tomado por jovens junto aos aguerridos índios da Aldeia Maracanã, todos envolta de uma fogueira cantando palavras de ordem, festejavam estar ali na luta contra o aumento da passagem, ainda que todo aquele sentimento já expressasse que não eram “Só os R$0,20” e sim por direitos, tinha carro como barricada, madeiras, arvores muitas pedras enquanto a polícia tinha todo tipo de bomba, armas letais e bala de borracha.

Cantavam, pois, a ALERJ já havia sido tomada pelos manifestantes, alguns policias ali na frente tentaram impedir, mas acabaram trancados cerca de 80 policias dentro da ALERJ, onde entraram para tentar se proteger, mas ali mesmo ficaram sem ter por onde sair, pois iam se deparar com a massa da juventude enfurecida.

Muitos começaram a ir embora, e o desespero de que fizemos tudo chegamos até ali sem um momento e uma direção capaz de levar essa revolta a frente, capaz de levar a frente as reivindicações da juventude que não tem direito ao futuro e seguem nos arrancando.

Algumas tentativas falidas de dispersar a multidão e resgatar os policias foram feitas, me lembro como se fosse agora, quando pela rua São José um grupo com caveirões, viaturas e bombas tentaram passar pela multidão que os gritos de “Recua! Recua! Recua! Sem mais ter o que temer a juventude expulsou a polícia aos berros, as pedras e acima de tudo com muita moral. Nesse dia a polícia atuava na rua dando tiros de arma de fogo, sim! Arma de fogo contra a juventude que na rua estava armada de pedras e sonhos.

Haviam muitos jovens negros dos morros do rio de janeiro, jovens que era a primeira vez que participavam de uma manifestação, mas que com certeza não foi a primeira que se enfrentaram com a polícia. Mas ao fim da comemoração chegou o corpo de bombeiros que para muitos no Rio de Janeiro são amigos, mas nunca pensei dessa forma, pois o corpo de bombeiros é parte do aparato repressivo do estado, esses bombeiros começaram a apagar os fogos das barricadas depois de umas 3 ou 4 horas ali na frente, as pessoas comemoravam, mas havíamos passado momentos de muita tensão, onde junto a meus camaradas nos acalmávamos e nos protegíamos, tendo a clareza que quem faz a nossa segurança, somos nós mesmos. E um laço de fraternidade entre todos ali, que se ajudavam, cuidavam de ferimentos, ajudavam a respirar, compartilhavam água, vinagre e leite de magnésio.

Algum tempo depois com as barricadas já apagadas os bombeiros fazem um cordão de isolamento na porta da ALERJ para tirar os policias que desde então estavam ali dentro presos, alguns machucados pelo enfrentamento com os manifestantes, nesse exato momento decidimos ir embora, talvez com um pouco de arte como diz o Trotsky saímos exatamente no momento em que muitos caveirões, choque e carros da policiam desciam as ruas para reprimir os manifestantes é claro que não conseguimos simplesmente ir embora sabendo que muito companheiros haviam ficado, demos a volta na rua, encontramos outras pessoas na subida da fuga dos “vermes” ajudamos alguns, encontramos alguns caras conhecidas e só então decidimos ir pra casa. Extasiados, felizes, tentando ainda digerir tudo o que havia acontecido. Mas fortalecidos, pois estávamos todos ali juntos e intactos do começo ao fim, sabendo que esse dia, não seria o único e que agora era organizar essa juventude para ir por mais.




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