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ALTA DO DÓLAR
O dólar cresce e a economia brasileira em queda
Santiago Marimbondo
São Paulo
Flávia Silva
Campinas @FFerreiraFlavia
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Desde o começo do ano o dólar teve um crescimento de sua cotação frente ao real de mais de 20%, chegando a R$ 3,24 hoje, sua maior cotação desde abril de 2003. Somente nesta semana, o acumulado da valorização do dólar chegou a 6,4% de aumento.

Essa valorização na cotação da moeda americana, ou um “dólar mais caro”, fez com que diversos analistas econômicos tivessem um prognóstico ainda mais pessimista em relação às possibilidades de crescimento da economia brasileira durante esse ano.

Fica cada vez mais claro que as falas da presidente Dilma e de sua equipe econômica de que a crise é “passageira” e “conjuntural” são apenas palavras ao vento para tentar iludir o conjunto da população que após um breve momento de "cintos apertados" e "dever de casa" feitos, voltaremos aos rumos do crescimento.

A crise política que afeta o governo, por sua vez, tem efeitos, também, sobre a conjuntura econômica, pois tudo que não querem hoje os “mercados” (na verdade os grandes capitalistas nacionais e estrangeiros) é que a instabilidade política afete a aprovação de leis e projetos que sirvam para garantir seus interesses (ou seja, o pacote de ajustes neoliberais de Levy).

É dessa forma, que se cria um círculo vicioso no qual a crise econômica alimenta uma maior fricção entre os partidos do governo (pois o que vemos é que existem algumas diferenças entres os setores da burguesia, industriais, latifundiários e banqueiros, de como os ajustes neoliberais devem ser aplicados, por exemplo, com relação ao aumento nas taxas de juros e nas reformas trabalhistas e o fim da desonerações de impostos) e a crise política e esta, por sua vez, alimenta a perda de confiança dos investidores (empresários e banqueiros) na capacidade do governo de aprovar as reformas que servem para manter seus lucros e que aumenta as dificuldades na economia.

A recuperação da economia estadunidense e seus efeitos sobre as economias periféricas (semi-coloniais)

Outro fator ainda que vem pressionando a uma desvalorização do real frente ao dólar é a recuperação da economia dos Estados Unidos (veja mais sobre o tema aqui e aqui). Apesar de essa recuperação ainda estar longe de ser sustentada e estável, como tentam fazer crer os economistas ligados aos interesses capitalistas, ela tem impactado a economia de todos os países periféricos (semi-coloniais) levando a um aumento da cotação do dólar internacionalmente e a consequente queda na demanda de moedas menos fortes, como o real.

Fruto dessa relativa recuperação da economia estadunidense, o FED (Banco Central dos EUA) vem estudando o aumento de juros para o segundo semestre (o que deve se definir na semana que vem com a reunião do FED do próximo dia 18). O que deve impulsionar uma maior desvalorização das moedas, inclusive do euro, libra e o real. Isso se dá por que, com o fim das políticas de estímulo e emissão de moeda por parte do FED (o quantitavive easing), é mais seguro para os especuladores internacionais investir no dólar do que em qualquer outra moeda, o que faz com que os especuladores corram para transformar seus ativos em moeda estadunidense.

O mecanismo do QE (ou uma grande oferta de dólares pelo mundo) tornou o dólar mais barato, isso também se combinou com os juros mais baratos nos EUA (um política com o objetivo de estímulo a investimentos a serem realizados com empréstimos a um custo menor para os empresários e isto, teoricamente, ajudaria a economia dos EUA a se recuperar dos efeitos da crise de 2008). Dessa forma, o dólar ganhou competitividade em relação à outros países e suas exportações ficaram mais baratas, pois o custos destas em dólar se reduziu, o que se viu nos últimos anos, foi um aumento importante das exportações norte-americanas para o mundo, com destaque para países como o Brasil, um grande importador dos EUA junto com a Europa.

Este relativo aumento das exportações norte-americanas é uma das bases econômicas que permite hoje um novo aumento das taxas de juros no EUA e um processo de redução da oferta de dólares na economia mundial, o que fortalece o poder de retorno financeiro de investimentos em dólares (pois além de mais seguro passa a ser mais rentável investir na moeda norte-americana). E ao mesmo tempo, encarece e muito, as dívidas externas dos países da periferia do capitalismo. O Brasil por exemplo, com a valorização do dólar, já teve seu montante de dívida externa ampliada em 20%, pois esta dívida, assim como os juros dela (que os governos se comprometem a pagar todos os anos), está em dólares.

Cada vez mais economia e política passam a interagir e se influenciar no Brasil

Com o desenvolvimento da crise econômica e seus consequentes impactos na vida política do país cada vez mais esses dois fatores passam a exercer influência mútua um sobre o outro.

Cada nova demonstração de que a crise é grave, tende a afetar as relações políticas, as relações entre as classes (com maiores conflitos entre trabalhadores e patrões) e dentro da própria classe dominante.

A crise por que passa o governo petista é, nesse sentido, agravada por cada novo sinal de aprofundamento da crise econômica. Num efeito reverso, por sua vez, a crise do governo e com sua base aliada influenciam de maneira negativa o cenário econômico, principalmente do ponto de vista dos banqueiros e empresários que querem ver os ajustes neoliberais aprovados. Mas também, a ameaça de grandes mobilizações populares, dos trabalhadores e da juventude contra os ajustes dos governos (estaduais e federal), são parte do cálculo político da "incerteza" que está afetando as bolsas de valores no Brasil e o preço do dólar.

Semana passada vimos uma demonstração disso quando os presidentes da Câmara e do Senado (Eduardo Cunha e Renan Calheiros, respectivamente) infringiram importante derrota ao governo ao negar MP’s – Medidas Provisórias (decretos) – que levavam a frente as medidas de “austeridade” (eufemismo para cortes nos gastos sociais e ataques aos direitos trabalhistas) que eram essenciais na estratégia petista de atacar a crise dentro de um ponto de vista capitalista.

Essas derrotas no Congresso de medidas vistas como importantes pelo governo petista, por sua vez, abalam ainda mais a confiança de investidores nacionais e estrangeiros na economia brasileira e criam um cenário de ainda maior incerteza.

Como isso afeta a nós trabalhadores?

A alta do dólar tende a ser um fator ainda maior de deterioração da já capenga economia brasileira o que afeta mais fortemente as nossas condições de vida.

Um dólar caro tende a provocar uma pressão inflacionária, por dois fatores, principalmente: 1) aumenta o preço dos produtos importados, essenciais à produção, principalmente na indústria manufatureira, o que por consequência leva a um aumento dos preços por aqui; 2) torna mais caro para os capitalistas nacionais conseguirem empréstimos no exterior, posto esses serem cotados em dólar, o que também tende a encarecer os preços das mercadorias nacionais.

Um fator positivo que poderia existir como efeito da alta do dólar para a economia nacional seria o barateamento de nossas commodities, (que são os principais produtos de exportação do Brasil, como a soja) e todos os outros produtos de exportação brasileiros no mercado internacional, mas esse possível efeito positivo é limitado, pois alguns de nossos maiores parceiros comerciais ou ainda estão com suas economias patinando, como é o caso da União Europeia e Argentina, ou estão num processo de desaceleração econômica, como é o caso da China (veja mais sobre a economia chinesa aqui), já que a recuperação da economia estadunidense ainda é débil para representar uma efetiva válvula de escape para impulsionar o crescimento da economia mundial de conjunto.

Desse cenário então o que temos a esperar são maiores ataques a nossas condições de vida, a nossos salários e empregos, seja por via de arrocho salarial seja pela via inflacionária. A única maneira de respondermos a esses ataques é seguindo os exemplos de luta que já estão sendo dados por setores de nossa classe, como os metalúrgicos da Volks e da GM e os professores do Paraná.

 
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