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CAMPINA GRANDE - PB
I Seminário dos Discente da Pós-graduação em Ciências Sociais da UFCG com relevante participação do Esquerda Diário
Shimenny Wanderley
Campina Grande

Durante os dias 09 e 10 de agosto foi realizado em Campina Grande (PB) o I Seminário dos Discentes do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), que tinha como tema: ‘Os Desafios do Cientista Social”, que contou com a participação do Práxis - Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Estado e Luta de Classes na América Latina e colaboradores do Esquerda Diário no Nordeste em diferentes atividades. Nesta matéria focaremos na mesa sobre os desafios do Cientista Social e na apresentação dos grupos de pesquisas.

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Mesa: "Os Desafios do Cientista Social”

No dia 09 de agosto, pela manhã, foi realizada a mesa de abertura do evento "Os Desafios do Cientista Social” onde participaram Janaina Freire dos Santos, doutoranda do programa representando os discentes, integrante do grupo Práxis e colaboradora do Esquerda Diário, o professor Luís Henrique Cunha, coordenador do PPGCS/UFCG a professora Tânia Régia Filgueiras, coordenadora do bacharelado em Ciências Sociais da mencionada universidade.

A professora Tânia foi a primeira a fazer suas colocações, começou falando sobre a elaboração do novo currículo para os cursos de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais que está sendo elaborado, já que a atual data de 1992, portanto, defasado tendo em vista a as mudanças que a disciplina de Sociologia para o ensino médio teve ao longo desse período. Em seguida fez um apanhado histórico sobre o percurso da disciplina. Descreveu todo o processo que vai da consolidação como disciplina da grade do ensino médio até as interrupções devido a ditadura militar. Esclarece que a obrigatoriedade da disciplina de Sociologia para o Ensino Médio é relativamente recente e foi proporcionada por uma lei sancionada no ano de 2008, a Lei nº 11.684/08, na qual a inclusão das disciplinas de Sociologia e Filosofia passaram a tornar-se presença obrigatória nos currículos do ensino médio. Destaca como um dos desafios, que diferentemente de outras disciplinas, a Sociologia tem que convencer a todos de sua importância.

Outro desafio é que apesar da disciplina de sociologia ter garantido a sua obrigatoriedade na grade curricular do ensino médio a partir de 2008, seu espaço se limita a uma aula semanal, com duração de quarenta e cinco minutos e que, infelizmente, em muitas escolas é ministrada por profissionais de educação de outras áreas sem a formação específica em Sociologia ou Ciências Sociais, que geralmente assumem a disciplina para complementar sua carga horária. A professora Tânia finaliza traçando a preocupação da coordenação com os egressos do curso, nesse sentido fala da aprovação do Mestrado Profissional em Ciências Sociais e as outras áreas que o Cientista Social poderia atuar. Neste último tema Janaina Freire desenvolverá um ponto de vista contrário.

Do nosso ponto de vista, a multidisciplinariedade é um elemento chave para entender o funcionamento das Ciências Sociais, a partir de uma visão de totalidade. Existem especificidades em que dividimos analiticamente a realidade, mas os limites entre cada disciplina como por exemplo a Sociologia, a Ciência Política, a Antropologia, a Economia, a Educação ou a Psicologia, muitas vezes são difusos e se conectam. Sobre este tema recomendamos a leitura da matéria publicada por La Izquierda Diario México de Onésimo Hernandez e Farid Reyes: La enorme importancia de las Ciencias Sociales y las Humanidades.

O segundo a fazer sua exposição foi o professor Luis Henrique, que dividiu sua fala em dois momentos: 1) o avanço das desigualdades sociais, baseado no livro ‘Capitalismo do sec. XXI’ de Thomas Piketty, e 2) a abordagem do tema nova obscuridade e neoconservadorismo a partir de Jürgen Habermas.

Em um primeiro momento faz um apanhado histórico que vai da intervenção política do Estado de bem-estar social até entrar em crise na década de 70, do neoliberalismo, da ascensão dos governos que denominou de populares e o fim dessa tendência, que nós chamamos de “fim de ciclo dos governos ‘pós-neoliberais’. Posteriormente, usando Habermas, diferencia o velho conservadorismo do neoconservadorismo, o primeiro marcado por uma rejeição integral à modernidade e um apego às formas de vida “tradicionais” e o segundo como uma negação da modernização da vida social, como por exemplo rejeita o casamento homoafetivo, o empoderamento das mulheres. Explica que tanto o neoconservadorismo, assim como o velho conservadorismo, combate a modernização cultural, mas o faz em nome do aprofundamento dos processos de modernização social. Do mesmo modo distingue neoconservadorismo de neoliberalismo. Destaca dois movimentos, um de oposição as reformas sociais, e o outro é a prática de impedir que o conhecimento que é construído nas Ciências Sociais se difunda como ciência, tornando mais visíveis seus resultados.

Por fim Janaína Freire, colaboradora deste jornal, fala de como os Cientistas Sociais devem intervir no contexto, a saber: crise orgânica capitalista que vem se aprofundando desde 2008 e o golpe institucional no Brasil no marco de um giro a direita na superestrutura política latino-americana.

Destaca fundamentalmente três desafios para o cientista social:

1) As Ciências Sociais como campo de disputas: explicando que as Ciências Sociais é uma área muito sensível as crises e as mudanças, e é chamada a responder as demandas sociais do seu tempo, a pensar a sociedade e a se posicionar.

2) Compreender e combater as contradições que integram o ambiente e o pensamento social no Brasil: demonstrando como as Ciências Sociais estão divididas entre a ideia de um conhecimento útil e pragmático, voltado para o desenvolvimento de "profissionais para o mercado" x a tarefa histórica das Ciências Sociais de desenvolver ideias, de pesquisar e pensar o mundo. Mostrou que essa dicotomia se ampliou com a Lei 11. 684 de 2008 que instituiu a obrigatoriedade do ensino de sociologia no ensino médio, gerando os problemas que afligem os professores de sociologia como a precarização, por exemplo. Afirmou também que as Ciências Sociais passam por um processo de barbárie, onde há uma ofensiva do capital sobre as universidades públicas e as Ciências Sociais, onde as universidades têm se tornado cada vez mais burocráticas. De outro lado programas como Reuni e Prouni, promovem uma massificação desigual nas universidades, e não correspondem ás reais necessidades da juventude. Outro problema apontado é que as universidades estão mais preocupadas em produtividade cientifica do que em qualidade sem sequer se perguntar a serviço de quem deve estar a ciência.

3) O terceiro e último desafio foi a necessidade de superar a dicotomia especialista/intelectual: Fez algumas críticas aos projetos que se apresentam com aparência de "bons", e progressistas ao meio acadêmico, mas que precisam ser problematizados pelo o que ocultam, como é o caso do Mestrado Profissional, enfatizando que aumenta ainda mais a precarização dos profissionais da aérea.

A questão do Mestrado Profissional foi o ponto mais polêmico do debate. Dividiu a mesa entre os que defendem sua implantação argumentando que vai atingir um público que estão à margem da vida acadêmica, principalmente aqueles profissionais que estão há muito tempo no ensino médio, outro argumento é que tem o mesmo valor que o acadêmico.

Simplificando, a grande verdade é que esta modalidade de ensino precariza cada vez mais os profissionais da área, atendendo a um mercado cada vez mais flexibilizado que visa a terceirização dos professores e mantém a linha de formar profissionais limitados ao mercado de trabalho ao invés de fomentar as pesquisas em sociologia.

Reunião de Grupos de Pesquisa

No dia 10 de agosto pela manhã foi realizada a reunião dos grupos de Pesquisa do PPGCS. Todos os grupos de pesquisa do programa se apresentaram, mas focaremos na apresentação do Práxis. Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Estado e Luta de Classes na América Latina, já que os que apresentaram fazem parte do staff e são colaboradores do Esquerda Diário.

Gonzalo Adrián Rojas, como líder, foi quem apresentou o projeto guarda-chuva do Práxis: que foca centralmente nos governos ditos “pós-neoliberais” na América Latina e estuda em termos teóricos, políticos e empíricos a conjuntura política latino-americana a partir de estudos comparativos por países as relações Estado, governos, classes e a luta de classes. Analisa as consequências da crise capitalista mundial iniciada no ano 2008 nestes países e sua influência nas políticas governamentais e o que se apresenta depois do boom das commodities como o fim desse ciclo desses governos e o giro a direita na superestrutura política da América Latina. Seus membros são estudantes da graduação e pós-graduação em Ciências Sociais.

A apresentação das pesquisas mais especificas ficaram por conta dos doutorandos Danilla Aguiar e Pablo Moura.

Danilla Aguiar apresentou um esboço do seu trabalho de tese intitulado: “Nem decalque, nem cópia”: marxismo e colonialidade em uma perspectiva latino-americana”. Seu trabalho propõe, desde uma perspectiva crítica, analisar o movimento “giro decolonial” na América Latina, como um movimento teórico com consequências políticas que busca romper com o ocidental centrismo no saber e no poder, e que surge através da expansão da teoria pós-colonial e do estudo da subalternidade, num sentido gramsciano do termo. Se apoiando na teoria marxista propõe a reflexão sobre a construção do conhecimento crítico regional, retomando as ideias do peruano J. C. Mariátegui, referência primeira para a compreensão dos processos históricos e políticos do subcontinente, que nos apresenta em suas obras o papel a ser desenvolvido pelos povos autóctones em busca da emancipação social, levando em consideração as especificidades latino-americanas. A importância de Mariátegui é que nos permite pensar uma relação não eurocêntrica entre marxismo e indigenismo, assim como a necessidade de incorporar o índio e o camponês à luta classista. A criatividade no trato da questão indígena, da defesa da independência política do proletariado - entendido como direção das massas oprimidas - assim como seu vivo testemunho na Itália dos anos ‘20 perfizeram o terreno que o fez convictamente marxista e leninista. Sobre este tema recomendamos a matéria de Danilla publicada no Esquerda Diário: Entre a dialética regional e internacional: uma crítica marxista à teoria pós-colonial e às leituras eurocêntricas do marxismo

Pablo Moura, por sua vez, apresentou o tema da sua Tese de Doutorado: Os partidos políticos de matriz trotskista na Argentina (PTS,PO, IS): Atuação frente aos governos kirchneristas. Pesquisou os partidos políticos trotskistas que fazem oposição ao kirchnerismo. Formulou hipóteses que articularam política e economia, luta institucional e eleitoral com as lutas extra-instituicionais, sua relação e mediações. Estudou o que ele denomina uma das expressões das “esquerdas” governistas latino-americanas, o kirchnerismo, sob a perspectiva das esquerdas classistas trotskistas argentinas. Em termos teóricos utilizou categorias analíticas trotskistas e como metodologia como fontes primárias, os documentos dos referidos partidos, assim como fontes secundárias bibliográficas: livros, revistas e artigos científicos produzidos na e por argentinos (as) para melhor proximidade com a temática. Além disso destacou uma longa entrevista realizada a Christian Castillo, uma das principais lideranças do Partido de Trabalhadores Socialista (PTS) da Argentina e candidato a Vice-Presidente da República nesse país em 2011 pela frente dos três partidos estudados, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) – nas suas siglas em espanhol. Destacamos que, segundo nossa informação, seria a primeira tese de doutorado no Brasil que tem como objeto a FIT.

É mais do que necessário discutir educação, pós-graduação, pesquisa e a função social dos Cientistas Sociais e Sociólogos em um contexto de crise orgânica, de desmonte da educação pública que vem sofrendo ataques seguidos dos governos e que se aprofunda no governo golpista de Temer com os cortes recentemente anunciados para as universidades federais de 45 % na verba de custeio e manutenção e de 20% para as bolsas e Iniciação Científica, deixando claro os planos de privatizar a educação.

Nesse contexto, um dos desafios dos Cientistas Sociais, em formação ou já formados, na graduação ou na pós-graduação deve ser também de resistir a estes ataques, se espelhando nos exemplos das escolas ocupadas no Brasil e nos exemplos de lutas do movimento estudantil do Chile.

 
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