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DOSSIÊ TROTSKI - 76 ANOS
Trotski e a luta contra o fascismo
Ricardo Farías

Este texto compõe o Dossiê em memória aos 76 anos do assassinato de León Trotski, ocorrido em 21 de Agosto de 1940. O revolucionário russo foi quem mais profundamente analisou o fascismo antes que este chegasse ao poder. Seus escritos são fundamentais para estudar e enfrentar um dos fenômenos mais trágicos do século XX. A atualidade de suas análises.

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As consequências da crise capitalista aberta em 2008 provocaram profundas mudanças na Europa, novos desenvolvimentos políticos pela esquerda e pela direita, questionamento aos partidos tradicionais, aparecimento de organizações neorreformistas e crescimento de organizações de direita que configuram um panorama que o marxista italiano Antonio Gramsci chamou de “crise orgânica”: uma combinação de crise econômica, política e social.

Retomar a análise de León Trotski sobre o fascismo é fundamental para discutir caracterizações políticas e o desenvolvimento de uma estratégia revolucionária. Escritos há mais de 80 anos, ao calor dos combates políticos em que se encontrava a classe operária alemã, com a urgência de dar respostas imediatas e orientações aos militantes comunistas, revelam-se como imprescindíveis para conhecer o legado teórico e político do trotskismo.

A derrota da revolução alemã

A Primeira Guerra Mundial havia deixado a Alemanha no bando perdedor e, com o Tratado de Versalhes, tomou-lhe suas colônias e aplicou duras reparações econômicas, além de obrigá-la a se desarmar militarmente. A instável situação que atravessava o país desencadeou a Revolução de Novembro em 1918.

A crise revolucionária que se instala nesse mês encontra os operários e soldados organizados em conselhos, mas lamentavelmente o partido com maior influência na classe operária, o Partido Socialdemocrata (SPD), consegue colocar-se à frente do governo formado na revolução e trai os objetivos desta, acordando um golpe sem igual contra o proletariado alemão. A derrota custará muito caro à classe operária melhor organizada e com maior tradição política do mundo, além da vida de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.

Em 1923, outra situação revolucionária voltará a se apresentar na Alemanha; desta vez, o Partido Comunista (KPD) por falta de uma orientação revolucionária abandona seus planos insurrecionais e novamente deixa o proletariado alemão sem possibilidades de tomar o poder.

Analisando de conjunto a experiência do proletariado alemão nesse período, Trotski dirá que “A história da classe operária alemã desde 1914 constitui a página mais trágica da história moderna. Que espantosas traições de seu partido histórico, a Socialdemocracia! Que incapacidade e impotência de sua ala revolucionária!”. (“Diante da decisão”)

Nesse quadro de derrotas e crise social, faz sua aparição o Partido Nacional Socialista (NSDAP), movimento cujo programa era a atomização do proletariado alemão e o expansionismo imperialista. As classes médias empobrecidas e desesperadas pela situação começam a buscar no nazismo uma saída para sua impotência e votam nas distintas eleições parlamentares pelo partido que tem Hitler como seu líder.

Trotski já desde 1930 advertirá aos comunistas sobre o perigo que representava o fascismo, que estudassem sua base social, a pequena-burguesia desesperada, e opusessem distintas orientações políticas para enfrentá-lo.

Sob a influência da Internacional Comunista, de seu chamado terceiro período e da política de “Classe contra classe”, o KPD caracterizou a Socialdemocracia como “social-fascista” e por isso declarou sua guerra a esta antes que ao nazismo. Nas eleições de 1932, o candidato da Socialdemocracia obteve 53% dos votos, Hitler, quase 37%, e o KPD, 10%. Ou seja, 63% na soma entre a SD e o KPD. Porém, o PC alemão negou-se a fazer frente única eleitoral com a SD e subestimou a força que representava Hitler. Trotski partirá de defender as posições materiais com as quais contavam os operários alemães; as organizações políticas operárias, os sindicatos, os jornais, os clubes, etc.

Como enfrentar o fascismo?

Trotski afirmará que “o fascismo não é somente um sistema de repressão, violência e terror policialesco. O fascismo é um sistema particular de Estado baseado na extirpação de todos os elementos da democracia proletária na sociedade burguesa (...) manter toda a classe em uma situação de atomização forçada”. (“E agora? Problemas vitais do proletariado alemão”)

Diante do sectarismo do KPD, o revolucionário russo aconselhará a este a Frente Única Operária, onde as organizações sobre as quais tenham influência os comunistas devem propor aos operários socialdemocratas o compromisso de lutarem juntos contra os fascistas, mesmo cientes das diferenças políticas que os separavam.

Essa política poderia permitir defender “as trincheiras do proletariado na democracia burguesa” dos ataques do fascismo, mas por sua vez aumentar exponencialmente a influência do Partido Comunista e passar à ofensiva impulsionando a insurreição operária à tomada do poder.

Justamente aí reside uma das chaves da ascensão do nazismo; este avança em sua influência política pelas traições e pelos erros políticos das organizações que tinham influência sobre o proletariado alemão: o SDP por oportunista, sua política consistia em esperar as eleições para eleger algum presidente que juraria fidelidade à constituição, colocando suas esperanças no Estado burguês, e o KPD por sectário, que se negava a chamar frente única argumentando que a socialdemocracia representava os interesses da burguesia igual ao fascismo.

O revolucionário russo não deixa de se surpreender por suas previsões, em dezembro de 1931 escreve: “Se os fascistas conquistarem efetivamente o poder, isso significaria não apenas a liquidação física do PC, mas também seu fracasso político total. Os milhões de trabalhadores que formam o proletariado alemão não perdoarão jamais a IC [Internacional Comunista] e sua seção alemã por uma derrota vergonhosa frente a esta corja de lixo humano. É por isso que a chegada dos fascistas ao poder faria necessária a criação de um novo partido; com toda probabilidade, também de uma nova Internacional.” (“Por uma frente única contra o fascismo (carta a um operário comunista alemão”)

A burguesia alemã antes de levar o nazismo ao poder, ensaiou distintos governos. Porém as consequências da crise de 29 e os choques que as distintas classes vinham experimentando já faziam insustentável a situação e aquela encontra a única saída na chegada ao poder de Hitler.

A interpretação de León Trotski sobre a ascensão e a chegada ao poder dos nazistas contém como poucos uma lucidez teórica sofisticada e um dos ensaios mais sérios que podem ser encontrados sobre o nazismo. A traição da Internacional Comunista, do PC alemão e do restante que os apoiou com seu silêncio determinaram que Trotski chamasse à criação de uma Nova Internacional.

Nesse novo aniversário de sua morte, aprender com seus ensinamentos é uma tarefa inevitável para todos aqueles que se propõem a enfrentar as direitas xenofóbicas que estão ressurgindo no mundo ao calor da polarização social e a promover uma política para que a classe trabalhadora chegue ao poder.

Veja também: O general Dmitri e o "eterno revolucionário" Trotski

Tradução: Vitória Camargo

 
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