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ALCOOLISMO
Corote e as consequências do alcoolismo para a classe trabalhadora
Fábio Nunes
Vale do Paraíba

Publicado em 1845 "A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra" de Friedrich Engels é um marco na interpretação do processo de desenvolvimento do capitalismo. Percorrendo os bairros operários de grandes centros industriais como Manchester e Liverpool, o jovem Engels descreve as condições de vida e de trabalho do proletariado urbano inglês no final do século XIX.

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As casas são ruínas, há lixo pelas ruas, a fome é um fantasma que ronda os bairros operários ingleses. Engels fala de crianças deformadas por mais de dez horas de trabalho forçado no chão das fábricas e de trabalhadores embriagados perambulando pela miséria produzida em nome do lucro da indústria capitalista.

Assassinato social, assim Engels vai denominar as inúmeras mortes levada a cabo pela burguesia. Conforme o autor, são várias as formas que esta classe social dominante utiliza para cometer seus crimes contra a classe trabalhadora e a produção e o estímulo ao consumo de bebidas alcoólicas é uma delas. Engels dedica um capítulo desta obra à análise das conseqüências do alcoolismo sobre os trabalhadores e as trabalhadoras pobres da Inglaterra em 1845
Num exercício de pensar as análises deste autor nos dias atuais, tentaremos aproximar suas idéias desenvolvidas no capítulo dedicado ao alcoolismo para pensarmos as consequências do alcoolismo para a juventude e a classe trabalhadora e a produção/consumo de bebidas alcoólicas de péssima qualidade destinadas aos setores mais precários da sociedade. Elencamos a cachaça "Corote" como um símbolo atual desta devastação social.

"Michelzinho Temer tem 2 milhoes em bens e eu só 5 reais para tomar um "Corote".
"Gostosa, prática e acessível, é um sucesso! Pioneira no segmento, a Cachaça Corote virou sinônimo da categoria, mas a legítima só a Missiato".

Produzida pela Missiato Indústria e Comércio Ltda (SP) o "Corote" ou "corotinho" é encontrada na versão 500ml em embalagem PET. Vendida por R$ 3,50, R$ 4 em mercados e bares é uma pinga de péssima qualidade consumida por milhares de jovens e trabalhadores pobres em todo o país. Também conhecida como "barrigudinha", tem efeito devastador, segundo médicos, assistentes sociais e consumidores. O "Corote" tem agravado a situação de moradores de rua e usuários de crack. Meio litro de pinga barata com alto teor alcoólico ajuda à disfarçar o frio e a fome.

O mundo é vasto e velho e por isso não podemos afirmar que toda bebida alcoólica consumida é em nome da miséria. Outros povos, outras histórias e mesmo nas sociedades capitalistas não podemos trabalhar com tal afirmativa. Pois nem tudo que é bebido, fumado ou inalado é resposta ao desespero. Nem tudo que delira sofre. O álcool pode fazer parte de uma celebração.

Mas no caso do "Corote" e de outras bebidas alcoólicas a situação é trágica em muitos casos. O que temos são condições de miséria social tão profundas que articuladas à solidão, ao desespero, levam a juventude e a classe trabalhadora à buscar formas imediatas de alivio numa bebida alcoólica que devasta o corpo e a mente. Nesse sentido, o álcool e aqui elencamos o "Corote" como um símbolo atual, aparece como um instrumento utilizado pela burguesia para controlar e destruir.

Como mecanismo de controle, faz com que o trabalhador sublime seus sofrimentos diários, ao invés de se revoltar contra o trabalho extenuante e se organizarem contra a patronal, o trabalhador se alcooliza para fugir da dura realidade cotidiana degradante. Aos poucos, de gole em gole, o álcool corrói o corpo exausto pela exploração, sem se falar em seus efeitos físicos indiretos. Socialmente também é comum a pessoa alcoolizada canalizar suas frustrações cotidianas sobre pessoas não diretamente envolvidas na produção de sua opressão. Bêbados, os trabalhadores brigam entre si e tendem a esquecer e/ou desviar a parcela de responsabilidade da burguesia sobre a miséria social a qual os trabalhadores estão imersos.

Não há qualquer celebração, estamos no terreno da produção e do consumo capitalistas, onde o mais importante é o lucro e a manutenção das sociedades burguesas. O álcool e o "Corotinho" em particular aparece aqui como mais um paliativo, um “remédio” para a insanidade moderna. Uma forma deprimente e ilusória de abrigo entre corpos deformados pela violência do trabalho exausto e de tantas outras formas de opressão.

No lugar do coletivo organizado, o corpo frágil dos trabalhadores vitimados pelo consumo excessivo de álcool. Depois de horas de trabalho, a classe trabalhadora corre desesperadamente atrás de um copo de alguma bebida alcoólica barata e geralmente de péssima qualidade, uma forma mais acessível de relaxamento físico.

O corpo ganha novos movimentos, estes não são compassados pelo tempo das fábricas, por alguns reais a liberdade temporária, o lúdico momentâneo enfeita a jaula de ferro. Para Engels, amortecida, culpando-se por estar jogada nas piores formas de vida e habitação, adoecida, inválida, a classe trabalhadora, lançada ao microcosmo do fracasso individual, encontra dificuldades para organizar uma revolução social.

Enquanto isso, a família Missiato, produtora do "Corote", vende milhares e milhares de litros desta bebida alcoólica que vem adoecendo e matando jovens, trabalhadores e pessoas em situação de rua. Como coloca Engels no livro "A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra", trata-se de assassinato social. Para lucrar e encher seus cofres produzem e reproduzem a miséria

 
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