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MORADIA EM SÃO PAULO
1% dos proprietários concentram 45% do valor imobiliário em São Paulo
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

A desigualdade é a marca fundamental do capitalismo, e numa cidade como São Paulo, a mais rica do país, isso se expressa com toda a força em cada aspecto da vida. A questão da propriedade de imóveis é um retrato dessa sociedade onde a fortuna de poucos é a miséria de tantos.

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Foto: vista aérea da mansão de João Dória Jr.

Segundo a urbanista Raquel Rolnik, em levantamento feito no fim de 2015, a cidade de São Paulo contava com um déficit de 230 mil moradias. Outras estimativas apontam para a existência de 440 mil residências em favelas. É difícil que passe um mês sem que vejamos um novo incêndio “misterioso” em alguma dessas favelas que todos sabem serem quase sempre atos criminosos deliberados causados pela especulação imobiliária, mas cujos responsáveis jamais são encontrados; ou alguma reintegração de posse efetivada brutalmente pela polícia militar, deixando centenas de famílias nas ruas. Essas, quase sempre estão defendendo a propriedade de algum milionário que deve milhões em IPTU, e deixa um terreno ou um prédio abandonado por anos esperando que ele valorize para que ele possa lucrar mais alguns milhões com sua venda.

Do outro lado desse retrato, temos os proprietários milionários. São 2,2 mil donos de imóveis que concentram em suas mãos um valor de R$ 749 bilhões. O universo de proprietários é de cerca de 2,2 milhões; sabemos que a maioria nem está nessa conta, porque vive pagando aluguel, sem ter direito a uma casa própria; ou ainda em moradias ocupadas ou precárias e irregulares. Muitas vezes em barracos construídos em áreas de risco, ou em casas construídas a duras penas nessas mesmas áreas, que do dia para a noite podem sofrer despejo ou inundações ou um “misterioso” incêndio.

Mansão de Abílio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, avaliada em mais de R$ 50 milhões

Os dados sobre os proprietários milionários são calculados pelo Estadão com base no cruzamento da base de contribuintes imobiliários divulgada pela Secretaria Municipal de Finanças com a de valores venais de imóveis da cidade (ou seja, um valor que é sempre abaixo do preço real de mercado, o que significa que a cifra é ainda maior). A mesma pesquisa afirma que todos os imóveis em nome da prefeitura, 3,3 milhões no total, contabilizam R$ 1,7 trilhões de reais.

Mansão de Paulo Maluf, avaliada em mais de R$ 45 milhões

Dentre os imóveis mais valorizados, contudo, apenas 8 mil são da prefeitura, enquanto 820 mil estão nas mãos desse 1% de proprietários mais ricos. Entre estes, cada um é dono de, em média, 37 imóveis, o que equivale a um patrimônio de R$ 33 milhões de reais.

Mansão de Joseph Safra, do Banco Safra, avaliada em mais de R$ 100 milhões

Como analisa Mônica Muniz Pinto de Carvalho de Souza, pesquisadora do Observatório das Metrópoles e professora da Universidade Federal do ABC, "É muita concentração. E, como se está falando em termos de valores e não de número de imóveis, são propriedades em áreas mais valorizadas, onde há melhor infraestrutura urbana. Ou seja: é uma concentração não só de quantidade, mas de qualidade, pois 1% é dono dos melhores lugares da cidade". As mansões com mais de 700 metros quadrados são 1840 na cidade. Apenas essas, somadas, representam uma área equivalente a de 107 mil casas populares.

Entre o grupo dos milionários estão os candidatos dos patrões e as empreiteiras que os financiam.

Um membro destacado desse grupo é o candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSDB, João Dória Jr. Em um único de seus imóveis, a casa onde reside cujo terreno é de mais de 7 mil metros quadrados, ele ultrapassa a média dos donos milionários: ela tem um valor venal de R$ 51 milhões; possui quadra de tênis e campo de futebol. Ele ainda tem um outro apartamento de 988 metros quadrados, sendo que ambos estão situados em duas das regiões mais caras da cidade: a mansão no Jardim Europa, há dois quarteirões da Faria Lima e da sede de sua empresa, e o apartamento nos Jardins. Seu patrimônio declarado para o TSE ao se candidatar é de quase R$ 180 milhões, incluindo mais três casas no Jardim América, somando o valor de R$ 20 milhões, uma no valor de R$ 2 milhões em Campos do Jordão, e uma de R$ 5 milhões em Porto Seguro, na Bahia.

Infográfico da Folha de S. Paulo das dez maiores mansões de São Paulo

Outro grupo que tem uma concentração de imóveis impressionante são as construtoras, como a Gafisa, com R$ 4,2 bilhões, e a WTorre, com R$ 2,8 bilhões. As empreiteiras, como vêm demonstrando os escândalos da Odebrecht, são dos grupos mais envolvidos com a corrupção dos políticos e os acordos fraudulentos de licitação; financiam campanhas com esses esquemas, e estão sempre por trás dos políticos eleitos, como a OAS, que fez grandes doações recebidas pelo marqueteiro João Santana, inclusive à campanha de Haddad à prefeitura de São Paulo em 2012. Também são as construtoras que estão muitas vezes por trás dos incêndios em favelas localizadas em áreas de valorização onde querem construir grandes empreendimentos para aumentar seus bilhões.

As construtoras não são as únicas empresas no grupo dos grandes proprietários: são 9,6 mil empresas. E as mais ricas são os bancos. O Itaú possui R$ 14 bilhões, o que inclui também todos os imóveis que está financiando.

Para ter moradia para todos, é preciso acabar com a desigualdade

Não é aceitável viver em uma sociedade em que tantas pessoas não tem onde morar, em que vemos a crise aumentar a cada dia a população de rua, dormindo ao relento nas piores condições, exposta a todo tipo de violência – em particular por parte da polícia militar e da guarda civil –, e tantos sendo obrigados a deixar uma parte imensa de seus pequenos salários para pagar aluguéis caríssimos, enquanto vemos alguns empresários lucrarem milhões e bilhões com essa situação de miséria. É preciso lutar por moradia para todos, um direito mínimo e elementar.

Por isso, precisamos começar nos organizando para lutar por medidas sérias para começar isso: que sejam cobrados impostos sobre essas grandes fortunas, para que os milhões desses grandes proprietários possam começar a voltar para aqueles de quem foram roubados; fim do pagamento da dívida pública, que é também uma forma de transferir a renda do Estado para os bolsos desses especuladores, e que esse dinheiro todo seja usado para financiar planos de obras públicas para a construção de moradias populares. Que esses planos sejam geridos pela própria população, e não por construtoras corruptas em acordo com os políticos que fazem licitações fraudulentas para contratá-las em troca das propinas para suas campanhas. Isso garante moradia de melhor qualidade e mais barata, como já ficou demonstrado com o setor “entidades” do programa Minha Casa, Minha Vida (não à toa o menor durante o governo petista, conquistado a duras penas pelos movimentos de moradia, e o primeiro que Temer tentou cortar ao chegar ao governo após o golpe).

Também é necessário que se faça um levantamento de todos os imóveis desocupados para especulação na cidade, para que eles sejam expropriados e distribuídos para a população ter moradia. Não mais casas sem moradores enquanto há pessoas sem casas! Essas são as primeiras medidas para podermos avançar seriamente para resolver o problema da moradia e da especulação imobiliária.

 
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