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RESPOSTA AO EDITORIAL DO ESTADÃO
Porque a luta dos estudantes das estaduais paulistas incomoda tanto a mídia burguesa?
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG
Vitória Camargo

O Jornal O Estado de São Paulo publicou nesse domingo um novo editorial, onde ataca novamente a luta dos estudantes das estaduais paulistas. Estudantes estes que acabaram de sair de uma greve de mais de 3 meses, onde se colocaram frontalmente contra o racismo e o elitismo dessas universidades, numa das maiores mobilizações estudantis dos últimos anos. Afinal porque a luta dos estudantes incomoda tanto a mídia burguesa?

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O editorial intitulado Universidade Dividida já começa escancarando abertamente o posicionamento do jornal e consequentemente da ala burguesa a qual este representa. A tentativa de colocar a opinião pública contra aqueles que hoje lutam em defesa da educação começa ao tentar colocar as greves, métodos históricos de luta da classe operária e também do movimento estudantil, como se fosse métodos violentos fruto da radicalização ideológica dos grupos de esquerda. O que o editorial não diz é que a greve de mais de três meses, protagonizada por estudantes e trabalhadores da USP, UNESP e Unicamp foi uma greve em defesa das cotas raciais e da permanência, foi uma greve que colocou no centro a luta contra os cortes no orçamento das universidades e a defesa da educação pública.

Esquecem propositalmente de mencionar a massividade que essa greve alcançou, com assembleias de centenas em todo estado e especialmente na Unicamp com 20 dos 24 cursos paralisados. E colocam como se a violência estivesse com os estudantes grevistas. Mesmo mencionando claramente que as deliberações da greve foram votadas democraticamente em assembleias, fazem de tudo para parecer que os piquetes, um método legítimo para garantir que nenhum aluno fosse prejudicado por aquela minoria que não consegue respeitar a democracia das assembleias e tentam a todo custo dar aulas e provas impondo sua vontade, seja visto como um método violento dos estudantes.

Mas cara elite burguesa, queria lhes dizer que violenta é a polícia que mata a juventude negra todos os dias na periferia, enquanto vocês do alto de seus luxuosos gabinetes se negam a dialogar com aqueles que lutam pelo direito básico da implementação das cotas raciais, contra o racismo estrutural das universidades. Violência é você ser mãe e não conseguir estudar porque a sociedade machista deixa sob sua responsabilidade o cuidado dos filhos, sem creches, sem restaurantes, sem lavanderias públicas. Violência é furar o filtro social do vestibular, mas não ter condições de continuar estudando porque não tem permanência. Violência é saber que nas universidades de excelência a pesquisa é destinada as grandes empresas como Avon e Natura, enquanto lá fora as pessoas ainda morrem por doenças medievais. Violência é ver gente morrendo na fila do hospital porque o reitor fechou os leitos. Violência é deixar famílias inteiras sem salário por três meses, enquanto a burocracia continua com seus supersalários.

Em relação aos grupos da esquerda que compõe o movimento a tentativa do editorial de equipará-los a grupos criminosos é absurda. Como se não bastasse toda a restrição a esquerda que vem sendo acordada entre os partidos da burguesia. O editorial tenta colocar como se o problema fosse que os grupos de esquerda que dividem o movimento ao não fazer coro com o desejo unificado da burguesia em cortar verbas, privatizar, cobrar mensalidades, fechar creches, hospitais, bandejões e demitir trabalhadores.

Quando pedimos mais verbas do ICMS não é porque queremos manter a Torre de Marfim baseada nos pilares da meritocracia, aliás acho que isso é a única coisa que o jornal acerta. Queremos acabar com os pilares dessa universidade criada pela e para elite escravocrata do estado. Queremos acabar com essa meritocracia que só mantém a estrutura de dominação social, queremos transformar radicalmente essa universidade, abrindo-a para toda população pobre e trabalhadora. Basta de universidades onde o conhecimento não está voltada para as necessidades da população, basta de universidades onde a maioria dos negros só entra para limpar o chão e ocupar os postos mais precários de trabalho. Queremos mais verbas para educação, mas não para manter esse projeto de universidade fechada, elitista, racista, machista, LGBTfóbica que existe hoje, queremos transformar radicalmente as universidades, para que elas sejam abertas, a serviço daqueles que a sustentam.

Diante de um cenário nacional de um governo golpista tentando mostrar para burguesia que pode ser o aplicador dos grandes ataques que ela pretende desferir contra os trabalhadores e a juventude. Em meio a uma enorme crise política, econômica e social em vários países do mundo, que abre espaço para o desenvolvimento de fenômenos políticos tanto a esquerda quanto a direita, é necessário que a burguesia utilize de todos os recursos ideológicos que possui para tentar convencer uma ampla parcela da população de suas ideias. E para isso, também, é extremamente necessário editoriais como esse do Estadão, que do alto da sua “imparcialidade jornalística”, desfere inúmeros ataques aqueles que se colocam contra o projeto de precarização e privatização do ensino.

Todo esse cenário deixa a burguesia preocupada pelo fato de que existe uma geração inteira de jovens se levante contra sua baderna no ensino público. Uma geração inteira forjada no calor de junho, das lutas dos secundaristas e das estaduais paulistas. Preocupa muito ao Estadão e a toda burguesia que em meio à crise de representatividade os jovens sejam ganhos para as ideias da esquerda. Que as leis dessa democracia dos ricos sejam questionadas, assim como a ordem vigente das coisas. Por isso, tentam a todo custo colocar que somos uma geração sem causa, para mascarar que cada vez mais a juventude deixa de ter ilusões com esse sistema.

Para que a juventude possa ter a oportunidade de ter uma visão diferente da ideologia dominante, para que cada jovem saiba que não está sozinho, mas sobretudo para que possamos construir uma voz contra esse sistema de exploração e opressão. É para isso que queremos transformar esse portal, em um diário da nossa classe, uma jornal que possa expressar a voz das mulheres, das LGBT, dos negros, dos trabalhadores e de toda juventude que luta de forma independente dessa direita golpista e da conciliação petista. E convidamos a toda juventude anticapitalista para expressar sua voz pelo Esquerda Diário.

 
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