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METRO SP
E as mulheres metroviárias? Terão voz na próxima diretoria do Sindicato?
Helena Galvão
Economista

Começaram as eleições para o Sindicato dos Metroviários. É tempo de debate nas áreas do Metrô. As chapas apresentam as suas propostas, que são em grande medida parecidas, muito se fala das pautas históricas da categoria como PR igualitária, planos de carreira. Mas pouco se fala de algo que toca diretamente 20% da categoria, mais da metade dos usuários, e a esmagadora maioria dos terceirizados. Pouco se fala das mulheres.

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O Sindicato é masculino, sua diretoria é composta majoritariamente por homens, na assembleias quem falam são homens, na arquibancada cheia ou vazia, predominam os homens. Tá certo, nossa categoria é majoritariamente masculina. Mas nem tanto... pra que se justifique podermos contar nos dedos das mãos e dos pés o numero de mulheres na arquibancada de uma assembleia. E muitas vezes ser uma ou duas as que intervêm no microfone.

A verdade é que o ambiente político é masculino. Os entraves para as trabalhadoras que tem o serviço de casa sob sua responsabilidade, que tem que cuidar dos filhos, que tem que lidar com o ciúme e chantagens dos maridos pra sair de casa, que muitas vezes são o pilar de toda a família tendo que lidar com os mais diversos tipos de problemas, são muitos. Isso, pouco se discute.

Pouco se discute também aquilo que passamos nós mulheres e trabalhamos na estação, na segurança, na manutenção do Metrô, em trabalhos ainda considerados masculinos. "Onde está o homem aqui?" dizem os usuários para nós que estamos na catraca fazendo nosso trabalho. Os chefes que te dão "cantadas" e te convidam pra sair. Os próprios colegas reproduzem esse machismo, batem palma quando batemos cartão. As piadas, conversas, comentários que ouvimos na copa, na bilheteria, com a nossa dupla de segurança. As piadas machistas que ouvi nas reuniões da Cipa entre a chefia e muitas vezes entre representantes votados pela categoria. Um ambiente que reforça muito o machismo.

Pouco se discute que as que mais ouvem insultos, são as mulheres: "vagabunda", "gostosa", "gorda", "vaca". Que temos que nos provar muito mais pelo serviço que realizamos para mostrar que somos capaz de realizar um serviço "masculino". Que somos as que agredidas nas catracas do Metrô. E sofremos silenciosamente, porque também somos as que por tudo isso sofremos com depressão, estresse e outros distúrbios psíquicos.

Pouco se discute a contradição que é sermos apenas 20% da categoria metroviária, e ao mesmo tempo sermos na realidade muito mais que isso nas estações, sermos a maioria, porque estamos nós, mulheres e negras, nos trabalhos terceirizados e precarizados da limpeza, das lojinhas de bijouterias, roupas, farmácias das estações.

Sem falar nos assédios que sofremos enquanto usuárias nos trens. Todo dia entramos no trem lotado pensando: "Será que é hoje que viro mais uma estatística?". E pensamos em mil estratégias, em ficar encostada com a bunda na porta e os olhos atentos para garantir de não ser a próxima a ser encoxada. Quando estamos trabalhando na estação, tentamos dar algum conforto para a mulher assediada, com os poucos recursos que o Metrô nos oferece.

Nas ruas, nas Olimpíadas, viemos mostrando que não queremos viver relegadas ao nosso espaço privado do lar, que queremos sim estar no espaço público e nos colocar na política. O Sindicato, nosso organismo de representação e organização, não pode estar atrás.

Cada mulher que se sente recuada no ambiente de trabalho, que não vai nas assembleias, significa uma perda para nós enquanto classe trabalhadora, significa que a categoria se divide e se enfraquece.

O Metrô se sente extremamente acuado quando demonstramos nossa força. Não à toa a Companhia fez de tudo para acabar com a Subcomissão de Saúde e Proteção a Mulher que criamos na Cipa da Linha 1-Azul e que fizemos o esforço para votar também nas outras linhas, mas foi vetado pela bancada da empresa.

Precisamos construir um novo sindicato, com novas práticas, precisamos romper a rotina e pra isso é necessário novas pessoas. Pra isso é necessário um sindicato que paute também o desejo de mudança que as mulheres cada vez mais carregam consigo e que sejamos nós mesmas as porta-vozes do que queremos.

Construir um Sindicato que ajude a romper o silêncio que existe e levar cotidianamente o debate do assedio que sofremos no ambiente de trabalho muitas vezes pelo chefe, mas também pelos colegas de trabalho e usuários. Fortalecer a nossa secretaria de mulheres para mudarmos essa cultura.

Um sindicato que lute para exigir que o Metrô assuma a responsabilidade pelos milhares de casos de assédio nos trens superlotados e dê condições mínimas para que possamos atender essas mulheres. E que lute também para que acabe a precarização do trabalho com a terceirização, que lute pela efetivação das trabalhadoras terceirizadas sem concurso público.

Para isso construímos a Chapa 5. Uma chapa que possui 40% de candidatas mulheres e a única Chapa que carrega como uma de suas ideias principais a luta contra as opressões: o machismo, o racismo e a homofobia. Somos a única Chapa que pautamos esse debate nas eleições e fazemos isso porque achamos que é a hora de renovar nossa entidade. É hora de fortalecer em nosso Sindicato a voz das mulheres!

 
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