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O primeiro ouro olímpico brasileiro é de uma mulher negra
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

Uma mulher negra entra para história ao conquistar a primeira medalha olímpica para o Brasil, no ano em que esse país é sede do mega evento esportivo.

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Rafaela Silva, 23, carioca nascida na Cidade de Deus, judoca brasileira que entra para história ao conquistar o primeiro ouro para o Brasil nos jogos Olímpicos em que foi sede do evento. Para desespero dos racistas e machistas, que nesse momento devem tá se remoendo junto com seu bando de golpistas. Tentando entender como que o primeiro ouro brasileiro da tão falada Olimpíadas é de uma mulher negra. Que contradição, que nas Olimpíadas da crise e da repressão, a primeira medalha dourada venha justamente de alguém como Rafaela. Em 2012, as ofensas racistas criminosas nas Olimpíadas de Londres, quase fizeram ela desistir da carreira. e agora ela tinha ao seu lado sua família, conforme declarou sua mãe Zenilda: “Em Londres, a gente não estava lá. Chamaram a minha filha de macaca. Agora, estamos aqui. O mundo todo chorou e hoje ela vai dar a volta por cima”.

A primeira coisa que me veio a cabeça quando vi a notícia foi, “Puts é de uma mina negra, o ouro que tanto esperavam foi conquistado pelas mãos de uma mulher negra e periférica”. No país onde tenta-se estabelecer um padrão de mulher bela, recatada e do lar, foi lutando que Rafaela entrou para história. Agora só se fala nela, na sua história de superação e de coragem.

E aqui dentro do meu peito, enquanto eu tentava segurar as lágrimas, não por conta de um fanatismo patriota por ter ganho o ouro, mas sim porque sei que como Rafaela existem milhares, que ela chegou lá e ganhou. E agora nesse exato momento assim como eu me emocionei com sua história, tem milhares de outras meninas que voltam ou começam a acreditar que é possível conquistar seus sonhos.

Não é pelo ouro, é pelo que representa tudo isso. Pelo tapa na cara de todos os racistas e machistas de plantão que vão ter que nos engolir, que vão ter que aceitar. Eu sempre fui uma apaixonada por esportes, e alguns anos atrás quando o Brasil foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos de um longínquo 2016, eu comemorei. Na inocência de uma menina que só via o lado bonito da festa, na ilusão de uma menina emocionada com o fato de que seu país se tornaria a sede do maior evento esportivo do mundo, e que durante um mês toda a magia do esporte estaria aqui, muito próxima de mim...

Mas eu cresci, e aquela imagem encantada de uma criança apaixonada por esportes foi se desfazendo ao descobrir que as Olímpiadas nada mais era do que um joguinho dos capitalistas para aumentar seu lucro. Que toda aquela magia era construída em base a muita exploração e opressão. Foi preciso ver acontecer aqui ao meu lado, enquanto milhares morriam com a lama da corrupção, enquanto milhares morriam pelas mãos da polícia genocida em nome da segurança nacional, enquanto um golpe acontecia, enquanto a juventude era reprimida por defender a educação, enquanto Amarildo sumia, enquanto Cláudia era arrastada. A magia se desfez muito mais rápido do que eu conseguia me recuperar dos efeitos dos gases e das bombas da repressão. E agora a lei antiterror que a Dilma aprovou, agora tá sendo usada pelos golpistas para proibir que no grande evento se mostrem cartazes com o grito que eles não podem abafar, afinal primeiramente Fora Temer.

Me emocionei muito com o ouro de Rafaela Silva, assim como tenho certeza que diversas outras pessoas se emocionaram. Não porque acreditamos nessa lógica burguesa de transformar o esporte em mercadoria, mas porque nos dá a esperança e a certeza de queremos e podemos lutar para que outras jovens como ela possam um dia ter a oportunidade de praticar algum esporte, de realizar seus sonhos, de viver a vida plenamente sem as mazelas desse sistema.

Ter uma mulher negra como a primeira medalhista olímpica do Brasil, com o país sediando os jogos, é a expressão máxima da crise que vivemos. Enquanto a burguesia tenta mascarar seus golpes, com uma festa bonita, são os de baixo que lutam, são as mulheres, os negros e todos os oprimidos e explorados que se levantam. Esse ouro não é daqueles que saíram de verde amarelo pedindo a volta dos militares, não é daqueles que acamparam na Fiesp, muito menos do PT, que abriu espaço para essa direita asquerosa em durante seu governo e nunca travou uma luta séria contra o golpe.

Esse ouro é para sambar na cara dos racistas e machistas de plantão, que sempre estiveram ao seu lado os golpistas. É para dizer bem alto que lugar de mulher é onde ela quiser e mostrar aquilo que a mídia golpista tanto tenta esconder, que no país sede das Olímpiadas, o primeiro ouro foi para uma mulher negra, como as secundaristas, como as milhares de trabalhadoras terceirizadas, como a maioria das mulheres brasileiras. E eu só posso terminar dizendo obrigada Rafaela.

Lute como uma mulher!

 
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