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ELEIÇÕES EUA
Trump: um Richard Nixon na decadência do imperialismo norte americano
Isabel Inês
São Paulo

Por que um discurso realizado por um candidato a presidente dos Estados Unidos em 1968, retornaria na boca do direitista Donald Trump em 2016? “Fazer a América grande de novo”, “Lei e Ordem”, foram também as frases fortes do ex-presidente americano, Richard Nixon, em sua campanha em 1968, ano marcado por levantes da juventude e processos revolucionários pelo mundo, pela Guerra do Vietnam, e por um Estados Unidos marcado pela revolta da população negra com o assassinato de Martin Luther King Jr, símbolo da luta contra o racismo, gerando um despertar de uma série de manifestações.

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Se as condições na luta de classes não são as mesmas, é fato que as atuais eleições Americana marcam uma virada histórica desde a crise econômica aberta em 2008 e um resultado e expressão da decadência do Imperialismo Norte Americano. Trump, um candidato abertamente xenofóbico e militarista é expressão da crise dos partidos tradicionais e do regime, como das principais campanhas ideológicas e econômicas do pós queda do muro de Berlin.

Ou seja, o grande “empreendimento” da burguesia com o neoliberalismo que possibilitou a recomposição da burguesia após a queda do muro, afirmando o desenvolvimento de um capitalismo vencedor com os Estados Unidos a frente com seus grandes monopólios, a Globalização e o suposto fim das fronteiras, esta colocada totalmente em questão. Existe uma crise totalizante, econômica, social e política que atinge amplas camadas da população americana, que rompem com as antigas representações políticas e desenvolvem novas formas de pensar.

Seja à esquerda ou a direita, é a expressão política de um momento onde não esta aberto um período de revolução e contra revolução, mas que se desenvolvem novos fenômenos políticos e um amplo espaço de politização e questionamento. O suposto “desenvolvimento harmônico” do capitalismo questionado, algumas idéias voltam a surgir e fenômenos políticos mais clássicos de polarização política e social. A esquerda a ideia de revolução e socialismo toma conta da juventude, e a direita o nacionalismo e o anticomunismo, dois polos ideológicos opostos que a burguesia tentou mascarar durante os anos de neoliberalismo onde pouco se falava em luta de classes.

Trump retoma o discurso de crescimento interno, criação de empregos para um Estados Unidos para os Americanos, sua orientação em dialogar com a classe média que vem sofrendo com a crise, e um setor do operariado mais acomodado que corre risco de perda dos empregos. Trump com um discurso populista, tenta capitanear esse sentimento para uma política xenofóbica com os imigrantes, propondo inclusiva construir um muro na fronteira com o México.

Ironicamente a menção a Nixon, vem nesse momento para parecer um candidato mais “responsável” para a burguesia, após séries de criticas ao seu humor instável, mas ao mesmo tempo fortificando sua política como alternativa de direita. Richard Nixon foi eleito em 1968 após a morte de Luther King e um levante de manifestações de revolta negra, se apoiando no reacionário com o lema da “ordem” como resposta a revolta do levante negro.

Também foi um presidente abertamente anticomunista, fortalecendo grupos para-militares facistas na América lática, e diretamente fortalecendo os golpes militares, principalmente no Chile, sendo o signo da sua política externa ofensiva. Nixon foi o presidente “duro” que a burguesia precisava para derrotar a luta de classes, não por acaso Donald Trump retomou seu discurso logo após as marchas negras contra os assassinatos policiais.

Alguns analistas observem, contudo, que os EUA de hoje é bastante diferentes de 1968 “O discurso da lei e da ordem funciona se a sociedade realmente está em uma situação de desordem, mas em muitos aspectos, a sociedade americana é mais ordeira hoje do que em muito tempo”, disse Geoffrey Kabaservice, consultor do Partido Republicano e autor do livro Rule and Ruin.

Entre suas semelhanças e diferenças, a história nunca se repete como os mesmos fatos e atores, mas tem a arte de criar seus fios de continuidade e paralelos, ainda que a situação dos EUA e mundial seja diferente de 68 – ano conhecidamente em filme e nos livros como uma época de revoluções, virada nos modos de vida, nos exemplos de luta e no ascenso da juventude – e isso Geoffrey acerta, mas o que ele não vê, ou propositalmente não quer ver, é que na superfície os EUA parece mais estável, mas Trump é a prova de que no subsolo da luta de classes está se desenvolvendo uma pressão mais profunda que 68.

Sem futorologismo de como irá se desenvolver, e sabendo dos limites que o neoliberalismo impôs para a juventude e principalmente para a organização revolucionária da classe trabalhadora. Trump, por um lado, e a busca do socialismo pela juventude ligado a negação do “establishment” são parte de uma polarização ideológica que ainda não se pôs a ação. Ao contrário do final da década de 60, em que os Estados Unidos se preparava para tornar-se a potência incontestável do capitalismo mundial, Trump representa o processo de decadência hegemônica da "ordem liberal" pela liderança norte-americana, depois de longos anos de crise capitalista e guerras impopulares.

Nixon falava em ordem e em uma América grande, em um momento de consolidação dos Estados Unidos como imperialismo hegemônico, que se selaria com o fim da União Soviética em 1991 e a abertura comercial na China, em que centenas de milhões de trabalhadores foram assimilados ao sistema de exploração capitalista, junto a "novos mercados", o que deu bases materiais para um "fôlego" parcial do capitalismo mundial, com os EUA encabeçando a ofensiva neoliberal.

Hoje vivemos numa situação distinta. Como disse Owen Jones, a nova geração empobrecida e golpeada pela crise"está mais próxima da queda do Lehman Brothers do que da queda do Muro de Berlim". O triunfalismo imperialista cede espaço a profunda polarização social, e as velhas ideias capitalistas naufragam nas imagens dos imigrantes mortos no Mediterrâneo. Trump é o produto putrefato, pela direita, da catástrofe que o capitalismo prepara para sobreviver, contra a juventude e os trabalhadores.

Entretanto, no mesmo coração do imperialismo, os setores mais à esquerda da juventude que se colocaram nas ruas contra a violência policial, o Black Lives Matter, os movimentos defensores dos direitos trabalhistas podem dar origem a novas formações políticas independentes dos dois partidos dominantes, ancorados na classe trabalhadora e de combate ao capitalismo.

 
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