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DEBATE
Como fazer para o povo decidir na crise política?
Isabel Inês
São Paulo

Frente à crise de representatividade dos partidos, grande parcela do eleitorado não quer nem Dilma nem Temer. Qual seria a resposta? Novas eleições como defende parte da esquerda?

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Segundo uma pesquisa recente, uma grande parcela do eleitorado não quer que Temer siga governando e quer que ele convoque novas eleições. Outra parcela quer que Dilma volte para ela convocar eleições. Somados, isso dá mais de metade da população, porém esta divisão expressa também o nível de descrédito dos políticos burgueses no país. De um lado golpistas, de outro ajustadores brutais que sofreram um golpe depois de uma farra de corrupção com o PT, assumindo os métodos mais espúrios das elites capitalistas e seus representantes políticos.

Nesta situação, por hora contornada a favor de uma relativa estabilidade de Temer, mas que traz consigo um grande descrédito de todos os políticos, uma crise de representatividade entre representantes e representados: abre-se espaço à direita e à esquerda. Será o descontentamento capitalizado por novas alternativas à direita ou à esquerda. À Esquerda pelo PT, buscando se relocalizar com “maior diálogo com os movimentos sociais”, ou por uma esquerda inserida na luta de classes e que supere a histórica conciliação de classes promovida por Lula e companhia?

Ciente deste risco que implica os ouvidos abertos à novas ideias e que pode colocar questionamentos ao próprio plano de ajustes pelo qual colocaram Temer no poder, setores da elite se questionavam antes do impeachment se a melhor saída não seria eleições, Aécio propunha isso, a Folha de São Paulo e Marina Silva também. Durante o processo do golpe institucional, houve grupos que foram campeões na defesa dessa política, tais como o PSTU e MES (grupo de Luciana Genro no PSOL). Naquele momento isso significava apoiar o Fora Dilma, o que só podia se dar pela via do judiciário, da mídia, e de congressistas reacionários. Ou seja, era apoiar o golpe.
Passados dois meses, mais grupos começam a adotar a mesma palavra de ordem que encontra ressonância na crise de representatividade dos políticos, no entanto, como argumentaremos, acaba contribuindo para ajudar este regime político questionado a se recompor.

Antes da consolidação do impeachment, alguns setores da esquerda levantaram a necessidade de tirar todos os políticos e chamar novas eleições, o que se ligava à dinâmica concreta do golpe, quando havia atos importantes da população contra o mesmo, a chave da luta era organizar esses atos, exigir dos sindicatos ligados ao PT e PCdoB medidas concretas para barrar o golpe com os métodos da classe trabalhadora, e essa indignação para impedir que Temer e a bancada reacionária assumissem o governo. Levantar eleições gerais nesse momento era se colar com essa direita que queria que a Dilma saísse, para instaurar um governo que passasse mais ataques. Pois, como chegava a formular o PSTU em cartazes, o impeachment era como que um primeiro passo em seu fora todos.

Diferentes posições da esquerda que não apoiou o golpe também tendem agora a novas eleições. O chamado da Frente Povo Sem Medo para a realização dos atos nesse dia 31 coloca como eixo (junto ao Fora Temer e à luta contra os ajustes), a necessidade de “o povo decidir”. Este eixo é ambíguo o suficiente para permitir que seja interpretado e defendido como um plebiscito para que volte Dilma, para um plebiscito de novas eleições, caso ela volte, e ainda para que Temer convoque um plebiscito. Diferentes variações de uma política que ajuda os interesses da Folha de São Paulo, ou agora também o Valor Econômico, para que troquemos quem senta na cadeira presidencial, enquanto todo o avanço do judiciário e outras medidas golpistas ficam intactas. Pior, abençoado pelas urnas, teríamos agora um ajustador com legitimidade para seus ataques.

Há grupos que como nós do MRT se opuseram ao golpe e defendem uma luta contra Temer desde uma perspectiva crítica e independente do PT, tais como o recém fundado MAIS e o NOS, que hoje defendem além de “Fora Temer”, “Eleições Gerais”, só que sob novas regras. Diferente do petismo que quer que Temer, ou Dilma, ou Gilmar Mendes organizem novas eleições, estes grupos afirmam que deveriam ser eleições mais democráticas. Nunca desenvolvem plenamente que regras seriam essas e como seriam impostas. Evidentemente, não imaginam que serão aceitas por Gilmar Mendes ou por este congresso reacionário. Deste modo, entendemos que defendem uma linha de mobilização para forçar, para impor, essas eleições com novas regras.

Se conseguimos construir um movimento forte o suficiente para não só barrar a reacionária reforma política que negociam no Congresso, mas também impor contra a vontade desse congresso, do judiciário e do governo golpista de Temer novas e mais democráticas regras, por que pararíamos neste ponto que é, hoje, por hoje funcional a recompor o regime? Por que não aproveitaríamos o fato e não questionaríamos de conjunto o regime político? Por isso defendemos a necessidade de lutar para impor uma Nova Constituinte que venha pelas mãos dos trabalhadores, para se apoiar no descontentamento e descrédito dos partidos burgueses, para avançar a um questionamento aos privilégios dos políticos, para questionar que o judiciário não é eleito por ninguém, para acabar com a reacionária instituição de uma “alta casta” da política, o Senado. Em suma, um movimento independente do PT e da burguesia pode e deve se propor a abrir caminho através de consignas democráticas como uma Nova Constituinte, para que os trabalhadores façam a experiência com essa democracia degradada e possam avançar a posições que defendemos, a necessidade de uma resposta anticapitalista e revolucionária, um governo operário baseado nas organizações de luta da classe trabalhadora.

 
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