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PROFESSORES DO CHILE
Professores: Por que dizemos “Basta de AFP”?
Patricia Romo
Delegada gremial do Liceo Domingo Herrera Rivera, B13

Chile, 2016. A grande maioria dos chilenos já tomaram plena consciência de que nós, os trabalhadores de todo o país temos sido vítimas da maior trapaça por parte do Estado.

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Esse ataque acontece há 34 anos e tem nome e sobrenome: sistema previdenciário de capitalização individual. Quem coordena esse ataque? As AFPs que, a partir da década de 1980 e, após a engenhosa ideia do economista José Piñera (como já sabemos, irmão do ex-presidente Sebastián Piñera) são as responsáveis por nos tirar 10% do salário e submetê-lo a todo vai e vem da economia mundial, além de ser utilizado como fundo de investimento (capital) por diversas empresas privadas e instituições financeiras.

Hoje em dia, dezenas de governos empresariais, como o nosso, solicitam a “expertise” de José Piñera que, na figura de iluminado, sai pelo mundo ensinando como utilizar os fundos de pensões dos operários e trabalhadores para o investimento e o lucro dos empresários e grupos econômicos dominantes. Estamos falando daquele setor que concentra toda a riqueza em suas mãos.

No Chile a essa altura, não deveríamos nos surpreender com o fato de que aqueles que administram nossos fundos de pensões (AFPs) são as mesmas empresas que utilizam nosso dinheiro como “investimento” ou capital. Os mesmos donos, os mesmos empresários responsáveis por apoderarem-se de nosso esforço, nosso suor e nossas lágrimas. São uns abutres que nos atacam, como se já não nos tivessem roubado o suficiente, através das instituições de saúde (ISAPRE) ou conluio de preços. Os mesmos que financiam os políticos e os mesmos que mantêm os pilares da ditadura, mesmo depois 26 anos do retorno da “democracia”. Foram décadas de aproveitamento nas costas dos trabalhadores.

Nós, os professores não estamos isentos dessa realidade. Por ser uma das carreiras universitárias com o menor salário, nosso cálculo de pensão no momento de se aposentar é miserável. Os montantes vão de 90 mil a 200 mil pesos chilenos (respectivamente: R$450 a R$1000, aprox.). Essa situação se agrave pela precarização dos professores que foram transferidos em 1981 ao setor municipal e que, hoje em dia, se arrastam com o peso da Dívida Histórica. Dívida essa que foi gerada pelo Estado na ditadura e que os governos da Concertación e da direita desconhecem e omitem intencionalmente. Essa situação é engendrada pelo descumprimento por parte do Estado em aumentar os salários dos docentes através de uma atribuição que, com o tempo, implicaria em salários mais altos na atualidade e, portanto, pensões menos miseráveis. Até a presente data, aproximadamente 15 mil professores morreram esperando o pagamento da dívida histórica.

Tudo isso, tem como efeito que a grande maioria dos docentes se mantêm trabalhando mesmo depois da idade de se aposentar, superando inclusive 40 anos trabalhando na sala de aula. Uma realidade ainda mais dramática é a dos professores que vivem diretamente na pobreza; todos conhecem o caso de Alicia Morales que foi professora por 35 anos e hoje (aos 74 anos) pede esmola na Praça de Armas de Copiapó (na região do Atacama) para suprir seus gastos médicos, já que o montante que recebe de pensão simplesmente não é suficiente. Essa é a violência das AFPs com toda sua brutalidade.

Nos dias atuais e anteriores, é evidente que os dirigentes do Colégio de Professores nunca tiveram intenções reais de travar uma verdadeira batalha pelo pagamento da dívida histórica ou contra as AFPs. Com a força que nós professores temos e com dirigentes que dão a cara a tapa e são leais as suas bases, já deveríamos ter avançado nessa questão. O que podemos esperar deles, se até o ano de 2000 o Colégio de Professores foi acionista de quase 50% da AFP Magister, ações que acabam sendo vendidas a Inverlink? O que se pode esperar se até 2012 o mesmo Colégio de Professores continuava sendo acionista minoritário da AFP Planvital? Jorge Pavez e Jaime Gajardo foram os presidentes do magistério em ambas ocasiões, respectivamente.

Se os dirigentes do grêmio continuam mostrando mais lealdade a seu governo empresarial, somos nós, os professores e os trabalhadores que este domingo nos organizamos para dar um primeiro grande aviso de mobilização nacional; em cada cidade do país, nós docentes devemos sair com nossas famílias e amigos às ruas para exigir do governo o fim dessas pensões de pobreza e, também, para gritar alto e claro: “Basta das AFP”

Tradução: Cassius Vinicius.

 
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