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MULHERES NEGRAS
Desde o sumiço do pedreiro Amarildo....
Rebeca Moraes
Coordenadora do CACH - Unicamp
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Desde o assassinato do pedreiro Amarildo, a discussão sobre violência policial se coloca cotidianamente em pauta, escancarando não apenas a violência policial, sentida cotidianamente por negras e negros pobres, mas por ter sido feita pelas mãosda suposta " Polícia Pacificadora das UPP do RJ, que tiveram o Haiti como terreno de treinamento para destilar suas técnicase torturae genocídio sobre nós da pior maneira possível: os casos de assassinato de jovens vidas negras noticiadas na grande mídia demonstram que a polícia no Brasil têm métodos e padrões racistas que se cristalizam na ação violenta, quase sempre dirigida aos jovens negros periféricos.

No entanto, o genocídio da juventude negra e pobre vai lamentavelmente muito além dos casos que ganham espaço na mídia. Desde que nossos antepassados para cá foram trazidos, em navios negreiros para se exaurir no trabalho escravo de que se aproveitava os senhores de engenho, não paramos de enterrar corpos negros.
A criação da Polícia no Brasil tem uma profunda relação com a história de resistência negra à exploração porque passavam. Os capitães do mato que sentiam prazer em torturar e violar os corpos de nossos irmãos são os que hoje arrastam Claudias, que assassinam DGs. Num contexto de segregação e marginalização histórica do povo negro e de sua história e cultura, estereótipos racistas são atribuídos a nós, e cada bala é justificada pelo “combate à violência”, pelo “combate ao tráfico”.
As mortes resultantes deste genocídio são arquivadas, como de praxe. Os autos de resistência são a autorização do Estado à polícia para matar “suspeitos” portando sacos de pipoca ou guarda-chuvas. Não há polícia sem métodos racistas num país em que sua elite enriqueceu sujando as mãos de sangue do trabalho negro. Por isso, apenas sua desmilitarização não seria o bastante para pôr fim aos assassinatos. É preciso lutar por sua extinção e, neste sentido, o combate pelo fim das policias especiais, de elite, como GOE, BOPE, Choque etc. representam um passo importantíssimo na luta contra o extermínio do povo negro.

Essas mortes também afetam as vidas que ficam, matam lentamente familiares, filhos, cônjuges e amigos que arrastam o peso de uma morte brutal como essas para o resto de suas vidas, sendo que alguns chegam até a abdicar de suas próprias vidas, decorrente do trauma gerado, como a mãe de uma das vítimas da chacina de Costa Barros, no RJ, que morreu de tristeza pela perda de seu filho ou a esposa de Amarildo que se encontra em um quadro de depressão e tristeza profunda.

A burguesia detentora dos principais meios de comunicação convence a população que o jovem preto e pobre é em si um risco à segurança, propõe redução da maioridade penal, a partir dos projetos de lei de seus representantes no Estado (PT, PSDB, PMBD e variações da direita), mas a verdade, comprovada nos dados coletados pelo governo, é que a juventude negra têm sido assassinada, e que isso não tem a ver com ser uma maioria, pois este padrão segue mesmo em estados como São Paulo, que apresentam cerca de 30% da população negra. A polícia brasileira é a que mais mata no mundo, no caso de São Paulo, 60% das vítimas são negras: segundo a Anistia Internacional, dos 30.000 jovens vítimas de homicídios por ano, 77% são negros. Queremos ver os jovens vivos. De fato, o problema do racismo vai para além do policial racista que idividualmente decide enquadrar o negro, mas corresponde a um modus operandi do braço armado do Estado. Nesse sentido, a segurança dos negros trabalhadores deve ser autoorganizada por aqueles que entendem que vidas negras importam e todo assassinato cometido contra nós pelas mãos da polícia devem ser investigados e julgados por júri popular. Os autos de resistência representam o consentimento de nossa morte, e não podemos tolerar.

O aumento da desigualdade produzido pela crise econômica, aumento do desemprego, e diminuição do nível de vida nos atinge em particular. O governo de Temer golpista está disposto a vender nosso sangue ao capital estrangeiro dos senhores de engenho para safar a casa grande. Nossa história nunca foi de passividade. Resistimos seja armando levantes históricos, seja no rap e em outras expressões da cultura negra. Nossa voz jamais se calará! No combate aos que vivem de nossa dor, na derrota do sistema de exploração que vivemos, e na conquista de fato da liberdade sobre nossas vidas e de nossa história é que concentramos nossas forças.

 
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