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TRIBUNA ABERTA
No Paraná, o Senhor da Guerra não Gosta de Crianças, e nem de Professores!
Silvester Dias da Silva (Curitiba-PR)
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A mídia geral já lotou os seus portais com notícias sobre a “Mãe de todas as Batalhas” dos professores, ocorridas em Curitiba nesta quarta feira. Portanto o que escrevo hoje é um relato do que vi e senti nas quatro horas que tudo ocorreu.

Logo depois de almoçar, voltei ao acampamento, e desgastado por alguns dias de greve, resolvi tirar um cochilo em uma árvore na praça Nossa Senhora da Salete, a praça dos três poderes do Paraná. Sabia que o confronto aconteceria mais tarde e precisava guardar energias para o que viria. Mas a minha siesta foi interrompida por um helicóptero do Governo do Paraná voando baixo, logo acima da minha cabeça!

Ao perceber o que estava acontecendo, vários camaradas gritavam para mim – Saia debaixo da árvore! O vento vai quebrar os galhos! – Saí do tronco como um gato! Fui para a clareira da praça, onde me sentia seguro. Percebi que o helicóptero não estava ali simplesmente para observar os professores, mas para criar um ambiente de revolta em todos.

Não satisfeito, baixou sua altitude próximo ao acampamento e o vento provocado pelo rotor da aeronave devastou todas as barracas instaladas em outro ponto da praça. Não obstante, acionou a arma sonora de dispersão de multidões. Não surtiu o efeito desejado, mas confesso que por pouco ali, não perco a cabeça e faço alguma coisa errada!

O clima dos professores, após ao episódio do helicóptero era de revolta! O caminhão de som acalmava os manifestantes, mas aquilo soou como uma provocação aos professores, que ninguém mais conseguiu ficar quieto.

Nesse mesmo momento, estavam na ALEP, três senadores, que vieram de Brasília justamente para tentar impedir que o projeto de lei fosse votado. Quando veio a notícia de que mesmo assim o presidente da Assembleia Legislativa não retiraria o projeto de votação, o caldo entornou! O que vi nos próximos momentos, daria um bom filme sobre história contemporânea.

Professores enfurecidos tentam passar pela barreira de mais de 1500 PM´s na tentativa de chegar ao plenário. A resposta veio rápida. Bombas de gás lacrimogêneo, gás de pimenta e efeito moral, assim como as balas de borracha pipocavam como fogos em festa de São João!

No calor do momento, acabei indo para a linha de frente do confronto, e pude ver ali, dezenas de companheiros tombando ao ser atingido por balas de borracha e estilhaços das bombas de efeito moral. Segui firme no confronto, mas morrendo de medo que uma daquelas bolinhas pretas acertasse meus olhos!

Os professores que se feriam, eram atendidos no saguão da Prefeitura de Curitiba, do outro lado da praça, que prontamente estabeleceu ali um hospital de campanha. Segundo alguns amigos meus, aquele lindo prédio do Paço municipal, mais parecia um campo de refugiados!

Na primeira vez que senti o cheiro da bomba de gás lacrimogêneo, acabei por recuar do front, não sabia que sufocava e ardia tanto o tal gás. Ao me recuperar, os companheiros de confronto continuavam firme, então resolvi voltar. A cada granada de efeito moral detonada, os companheiros recuavam e avançavam, como andorinhas revoando ao fim da tarde.

Próximo da meia hora de confronto, já não sentia mais os efeitos do gás lacrimogêneo. Eu, que nunca tinha participado efetivamente de um combate já sabia exatamente o que fazer quando começavam as chuvas de gás! Tornei-me expert em desativação daquelas bombas!

Nós sabíamos que uma hora a munição da PM iria acabar! Então continuamos firmes na luta! Quando parecia que tinha acabado, o Choque executa sua formação e realiza o que parecia ser a sua última investida!

Ao terminar a detonação das granadas percebemos que a munição deles haviam acabado, então partimos pra cima, pois com cassetetes era muito mais fácil combater do que com bombas! Mas algo nos freou.

Nos fundos do Palácio das Araucárias, sede da Secretaria da Administração, no complexo da Praça Nossa Senhora da Salete, funciona uma creche, e a professorinha da creche chega desesperada ao carro de som pedindo que parássemos o confronto, pois as bombas estavam deixando as crianças desesperadas e o gás lacrimogêneo estava atingindo a creche também. Assim como eu, que tenho duas filhas na mesma idade que as crianças da creche, os professores resolvem se render aos policiais, e o clima de comoção pairou sobre os combatentes, e como chuva de verão, a paz se restabelece no campo de guerra.

No fim, a Mãe de todas as batalhas foi vencido pelo Senhor da Guerra, que conseguiu aprovar a lei da previdência por 31 votos a 20. Mas nós professores ensinamos uma coisa ao governo: por mais que eles tenham vencidos a batalha, fomos nós quem optou pela paz! E se o Senhor da Guerra não gosta de Crianças, Nós professores somos apaixonados por elas, e é por amor à elas que lutamos e continuaremos lutando em prol de uma educação cada vez melhor!

 
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