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Eleições DCE-UFMG
Para o DCE da UFMG, voto crítico na Chapa 2 - Virada. Pra além das eleições, quais são os desafios dos estudantes?
Francisco Marques
Professor da rede estadual de Minas Gerais
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Hoje, dia 29 e amanhã, dia 30 de abril, acontecerá a votação que encerrará o processo eleitoral para o Diretório Central dos Estudantes da UFMG, principal entidade estudantil da universidade, que conta com uma importante história de luta contra a Ditadura e uma grande estrutura e recursos.

As eleições acontecem em meio a um cenário de cortes na educação e crise orçamentária na UFMG (sobre a qual já escrevemos há algumas semanas), com atraso em bolsas de pesquisa, demissões de funcionários, atraso nas contas de luz e redução do tempo de funcionamento de bibliotecas e serviços da universidade.

As chapas inscritas são a “Chapa 1 - Podemos”, formada por militantes do PT e Levante Popular da Juventude junto a estudantes independentes; a “Chapa 2 - Virada”, formada por militantes do PSTU, PCR, CST-PSOL, Isegoria-PSOL, Juntos e Coletivo LGBT MOOCA, junto a independentes; e “Chapa 3 - Pra Frente É Que Se Anda”, formada por militantes do PSDB e independentes.

O processo eleitoral começou no dia 13 de março com a formação e inscrição das chapas. A partir do dia 1º de abril deveria ter iniciado a campanha, mas esta foi fraca e incapaz de chegar à maioria dos estudantes que vêm demonstrando grande politização em torno às questões nacionais e da universidade, que vem sofrendo cortes no orçamento por parte do governo federal e da Reitoria.


"Chapa 1 - Podemos”: ao lado de Dilma e da Reitoria, contra os interesses dos estudantes e da população

A Chapa 1 reivindica as duas últimas gestões do DCE (Pés no Chão) e propõe a continuidade de uma política atrelada à reitoria e ao governo Dilma/PT. Nos últimos dois anos, o DCE atuou como freio às mobilizações estudantis; desde as jornadas de junho de 2013 este mesmo governo a que são ligados foi profundamente questionado, e a postura do DCE foi sempre de total apatia e de organização de atividades atreladas à reitoria e ao governo como (falsa) resposta às reivindicações estudantis. E foi assim também na luta contra a Copa de 2014 e contra o uso do campus da UFMG para auxiliar o evento, e também no início deste ano nas mobilizações contra o corte de verbas na educação do país e na UFMG. Essa chapa fala em combate às opressões, mas segue ao lado do governo que nega às mulheres o direito ao aborto, aos LGBTs direitos básicos como da união estável e a criminalização da homofobia, e segue apoiando a polícia racista nas favelas (como as UPPs) e ocupações militares.

Já em 2015, enquanto bolsas de assistência estudantil atrasavam ou eram cortadas, centenas de trabalhadores terceirizados eram demitidos, faltavam insumos básicos para funcionamento de laboratórios da universidade e do Hospital das Clínicas da UFMG, a atual gestão “se fazia de morta” e não soltou nem um comunicado sobre a questão, muito menos passou nas salas de aula, organizou assembleias e mobilizou os estudantes para lutar contra os desmandos da Reitoria e os cortes de Dilma.

Quanta diferença da disposição que mostraram estes mesmos membros da gestão “Pés no Chão” durante as eleições presidenciais de outubro do ano passado, quando se jogaram com todas as forças na campanha pela reeleição de Dilma Rousseff, fazendo propaganda do discurso “Dilma muda mais” e defendendo que não se poderia tolerar os retrocessos da velha direita, que cortaria nos gastos sociais e atacaria os direitos dos trabalhadores. Entretanto começou o segundo mandato da petista e não foram capazes de levantarem um dedo para lutar pelos mesmos direitos que diziam defender durante as eleições presidenciais, neste momento atacados pela própria presidente.

Chapa 3 - Pra Frente É Que Se Anda”: a direita aposta na despolitização
Neste ano a chapa da direita (PSDB + independentes) levanta um programa com maioria de propostas vazias de conteúdo e o restante de propostas reacionárias, como a implantação de câmeras e catracas sob o comando da reitoria. Em um momento onde o Congresso é o mais conservador desde a ditadura militar, o presidente da Câmara é o reacionário Eduardo Cunha com suas declarações machistas e homofóbicas, e a direita vem se organizando, o que a Chapa 3 propõe é atrelar o DCE a esse projeto político, também defendido por Aécio Neves, de ataque aos setores oprimidos e aprofundamento do caráter elitista, racista, machista e privatista da UFMG, com cortes de bolsas aos estudantes que necessitam (maior parte dos negros), corte nos auxílios-creche para as mulheres, etc.

Querem institucionalizar o DCE e desligá-lo dos interesses da população de fora da universidade, como veio fazendo a gestão Pés no Chão nos últimos anos, mas neste caso, tiram esta ferramenta das mãos dos estudantes para colocá-la nas mãos da direita. Querem paralisar qualquer perspectiva de que os estudantes emerjam como sujeitos políticos nacionalmente neste momento de crise econômica e política no país. Sabemos com a experiência da gestão Onda, de 2012, que nas mãos da direita o DCE serve somente à paralisia, que deixa mais fácil para reitoria aprofundar a elitização e privatização da UFMG, como com o aumento nos preços do bandejão naquele ano.

Chapa 2 - Virada”: uma oposição ao governismo e à direita. Mas é preciso ir por mais!

A Chapa 2 unificou diversos grupos de esquerda: PSTU, CST-PSOL, Isegoria-PSOL, Juntos!, Coletivo LGBT MOOCA e PCR. O processo de formação de programa junto a independentes da chapa durou praticamente todo o período de campanha, e a campanha só começou de fato, extrapolando os estreitos limites da vanguarda presente nos fóruns do Movimento Estudantil, no dia 23 de abril.

Essa chapa parte da correta denúncia da atual gestão e seu atrelamento ao governo federal, e propõe uma saída à esquerda aos estudantes, tendo como eixo central a retomada do DCE para as mãos dos estudantes, independente do governo, e a luta contra os cortes de verbas na UFMG. A Chapa 2 - Virada se propõe, corretamente, a avançar na construção de um Movimento Estudantil antigovernista, que lute por permanência estudantil de qualidade a todos que necessitam, sem interferência de fundações privadas como a FUMP; que lute contra o machismo, racismo e lgbtfobia que esses setores oprimidos sofrem dentro da universidade; por espaços de cultura e lazer livre de opressões e também que seja destinado 10% do PIB para a educação.
Porém, seu programa não diz que para termos essa universidade realmente democrática e sem opressões, é preciso transformar toda sua estrutura de poder, elitista, racista, machista e homo-lesbo-transfóbica por excelência, onde as opressões não apenas se expressam nas agressões e violências cotidianas, nos trotes, nos corredores e também nas salas de aula, mas também no silencioso trabalho precário e terceirizado feito em sua maioria por mulheres e negrxs. É preciso acabar com a burocracia privilegiada que toma todas as decisões na universidade, que cala frente às opressões – porque necessita delas e as reproduz –, que mantém do lado de fora a ampla maioria da juventude, que decide qual conhecimento será produzido, e a serviço de quem – no caso, sempre do lucro dos empresários. Precisamos de um Movimento Eestudantil que lute para revolucionar a universidade: efetivar todxs xs terceirizadxs; acabar com a Reitoria e o Conselho Universitário e construir um governo de estudantes, funcionários e professores com igual peso no voto; acabar com o vestibular, filtro de classe e cor que impede a juventude negra e trabalhadora de estudar aqui.

É necessário que o Movimento Estudantil seja sujeito político nacional ao lado dos trabalhadores e de toda população, conformando esta “aliança perigosa” que pode não só barrar os cortes e ajustes deste ano, mas pode também conquistar os direitos tão almejados e que vieram à tona com força desde as jornadas de junho de 2013. A grande politização entre os estudantes, com mobilizações pontuais em diversas universidades do país, e as grandes greves dos professores do Paraná e agora de SP, mostram que há bases fortes para essa terceira via contra a direita e o governo Dilma.

O DCE da UFMG pode e deve intervir nos grandes debates nacionais, se colocando contra a redução da maioridade penal; pela punição dos corruptos na Petrobrás e que todo político ganhe o mesmo que uma professora, dando resposta à crise no regime; contra os cortes no FIES, que atingem os milhões de jovens que só puderam estudar nas universidades privadas, lutando pela rematrícula e perdão das dívidas dos ex-alunos que perderam suas vagas, na luta pela estatização das universidades privadas; contra os assassinatos e agressões a LGBTs e pelo direito ao aborto livre, legal, seguro e gratuito para as mulheres; contra o PL 4330 que aumenta a terceirização e pela efetivação dos terceirizados na UFMG e em todo o país; contra a crescente violência racista da polícia nas favelas e pela punição dos policiais assassinos, contra as UPPs e ocupações militares.

É necessário romper com a tradição que foi criada pela militância do PT ao longo de décadas, que separava a necessária luta dos estudantes da luta dos trabalhadores e dos movimentos sociais. Temos que, ao contrário, unificar as demandas de toda a população.

Além disso, precisamos de uma concepção de entidades radicalmente democráticas. A Chapa 2 – Virada defende conselhos de CAs e DAs deliberativos, mas nós acreditamos que devemos impulsionar os fóruns de organização históricos do Movimento Estudantil, que são as assembleias, como forma de auto-organização dos estudantes e espaço onde estes podem ser sujeitos políticos de fato, não só depositando um voto e elegendo representantes nas entidades estudantis. É só assim que se pode por em movimento a força capaz de quebrar a vontade da Reitoria e dos governos.

É necessário convencer os estudantes que a resolução de seus problemas mais sentidos do dia-a-dia deve se articular numa mobilização conjunta na luta por outro projeto de universidade e pela resolução dos problemas de todo o povo explorado e oprimido. Votaremos na Chapa 2 - Virada para fortalecer esta perspectiva: expulsar o governismo das entidades estudantis e colocar o DCE nas mãos dos estudantes, por uma Universidade pública, gratuita e de qualidade, por um Movimento Estudantil que seja sujeito nacional ao lado dos trabalhadores em luta e da juventude de fora das universidades públicas.

 
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