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MES/PSOL
Do golpismo ao namoro com a REDE: para onde vai o grupo de Luciana Genro?
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

Nas últimas semanas o Movimento Esquerda Socialista (MES, grupo interno do PSOL), através de sua principal porta voz Luciana Genro declarou em entrevista que “a Rede é um partido com o qual temos pontos de contato importante”. Depois de ter mantido uma orientação pró-Lava Jato e favorável ao golpe institucional até os 45 do segundo tempo, vejamos quais são os pontos de apoio do grupo de Luciana Genro e de um partido financiado pelo Itaú.

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O papel da Lava Jato na política golpista do MES

Quando a luta contra o golpe institucional já estava completamente atrasada não somente pela política covarde das centrais sindicais atreladas ao PT como a CUT e também a CTB, mas também pelo fato de que havia chegado o fatídico dia 17 de abril que votou na Câmara dos Deputados o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, neste momento e somente nele Luciana Genro, um dia antes, declarou-se contra o impeachment. Foi a primeira vez que vimos alguém da corrente MES/PSOL se declarar contra o impeachment. Antes disso suas declarações eram no sentido de dizer que se tratava de “briga dos de cima” e que a Lava Jato estava marcando um momento histórico no país por isso precisávamos de uma “Lava Jato até o final”.

Se no último momento o MES declarou sua oposição ao impeachment, foi porque uma simples análise das articulações ultrareacionárias da votação do dia 17 de abril deixaria muito mal quem legitimasse aquela monstruosidade. Entretanto, o MES manteve após o impeachment a mesma posição de Marina Silva e da Rede, organização pró-golpe: remover Dilma pela Lava Jato de Sérgio Moro e convocar eleições presidenciais antecipadas. Essa defesa febril do autoritarismo judiciário, que generaliza os métodos antidemocráticos com os quais a burguesia reprime nas periferias as contradições inerentes à pobreza estrutural e se prepara para atacar as organizações operárias quando for necessário, está em sintonia com a opinião da patronal da FIESP e da grande imprensa: o fortalecimento do Judiciário como árbitro geral da situação. Há que dizer com todas as letras: o MES teve uma política abertamente reacionária e adaptada ao mais podre da política direitista da classe dominante nacional.

Em assembléias de base chegou a fazer blocos com o PSTU e também com correntes diretamente pró-golpe como Movimento Negação da Negação, batalhando pra que por exemplo a categoria de trabalhadores da USP não se posicionasse contra o impeachment. Felizmente os trabalhadores da USP não permitiram que essa posição golpista, defendida ali pelo MES, fosse aprovada e hoje podemos dizer que a assembleia de trabalhadores da USP se posicionou firmemente contra o golpe institucional e contra os ataques do então governo Dilma.

Basta observar os monopólios estrangeiros beneficiados pelas “investigações” de Moro, treinado pelo Departamento de Estado norteamericano, para entender que não é preciso sequer uma “sensibilidade de esquerda” para repudiar os objetivos da Lava Jato. As petroleiras ianques Exxon Mobil, Chevron, a anglo-holandesa Royal Dutch Shell, a francesa Total, e as chinesas China National Petroleum Corporation (CNPC) e China National Offshore Oil Corporation (CNOOC), para citar as maiores, estão envolvidas não apenas nas negociações de entrega do pré-sal, mas na aquisição de porções da Petrobrás, com a compra de distribuidoras e terminais de gás natural. Sérgio Moro não investigou qualquer uma das multinacionais que controlam a produção de navios-sonda ou as operações nas plataformas, como a Halliburton, Schlumberg e a Transocean. Dizer mais seria acender uma lanterna em plena luz do dia: cavar espaços para o capital estrangeiro controlar os ativos do país.

Nada mais pró-imperialista, portanto, que a orientação nacional do MES que exige mais Lava-Jato, o que somente pode ter como resultado o fortalecimento do autoritarismo do Poder Judiciário, da Polícia Federal e dos setores de direita como Sérgio Moro com mil e uma ligações com as empresas imperialistas.

Esta corrente buscou justificar em muitos momentos que era necessário apoiar a Lava Jato “apesar dos excessos” e “apesar das contradições”. “Contradições” que, como observamos acima, tratam de substituir um esquema de corrupção com a cara petista por um esquema de corrupção com o rosto da direita. Sustenta até hoje que não se tratou de golpe o que ocorreu, às vezes pra dialogar com algum setor “assume” que foi um tipo de “golpe palaciano”, mas na prática considera que se tratou de algo por dentro das leis do regime burguês, a quem tanto preza buscando sempre a “ética”. Uma ética que preserva o PSDB e seu “trensalão” ou propinoduto no metrô e na CPTM em SP, os desvios de verbas na construção do Rodoanel por Serra, o mensalão mineiro em Furnas por Aécio, ou a máfia das merendas de Alckmin.

A outra face da mesma política do grupo de Luciana Genro revelou uma enorme adaptação ao próprio PT, sem nenhuma exigência às centrais sindicais e fazendo parte de forma acrítica da Frente Povo Sem Medo ao lado da CUT e da UNE sem exigir que rompessem sua subordinação ao PT para organizar um plano de luta sério contra o golpe, que fosse mais do que atos festivos. Tanto é assim que o MES, e sua coluna de juventude Juntos estiveram nos atos mais golpistas de toda a esquerda organizados pelo PSTU sob o lema “Fora Todos”, ou seja, primeiro sai a Dilma, depois... e já sabemos aonde termina essa história.

O cinismo do MES, que se opôs ao impeachment na reta final ao mesmo tempo em que participou dos atos funcionais aos golpistas da direita convocado pelo PSTU, é a culminação do método de lançar um piscar de olhos à direita e outro ao petismo.

REDE e MES: juntos?

O eleitoralismo febril do MES, afastado como sempre esteve de qualquer princípio de independência de classe, e sempre próximo aos patrocínios patronais e alianças com políticos burgueses, levou Luciana Genro a ser a quinta roda da política de Marina Silva, exímia candidata do Itaú e do Bradesco e uma das maiores defensoras da reforma trabalhista neoliberal que buscam aplicar Temer e Meirelles.

A confluência na defesa da mesma política de eleições antecipadas já foi a maneira encontrada pelo MES para driblar o “problema” de colocar abertamente sua posição sobre o impeachment. Que Marina Silva levante a política de antecipação das eleições presidenciais como pré-campanha eleitoral é compreensível, mas Luciana Genro diretamente se somar a isso mostra como seu eleitoralismo desenfreado buscava uma forma de dialogar com toda a base de direita do impeachment pró-Lava Jato ao mesmo tempo que queria dar alguma resposta pros setores petistas desiludidos mas que ainda acreditavam em algum nível de “democracia”.

Obviamente que organizar a luta dos trabalhadores e da juventude, em assembleias de base, com greves, piquetes, paralisações, cortes de rua, tudo isso passava bem longe da política concreta do MES, até mesmo pelo seu peso quase inexistente no movimento operário.

O fato é que alguns meses se passaram e começa a ficar cada vez mais próxima as eleições municipais, onde o MES tem como objetivo de eleger Luciana Genro para prefeitura de Porto Alegre. É por isso que em Porto Alegre o PSOL está propondo a possibilidade de uma frente justamente com a Rede de Marina Silva, um partido burguês golpista e financiado pelo Itaú e pela Natura, que não aceitou ainda a proposta do PSOL porque negocia ao mesmo tempo com o PDT e o PMDB.

Em entrevista para a Sul21 Luciana Genro fala abertamente que pensam em “confluências políticas” e que neste sentido “temos pontos de contato importantes com a Rede”. Entre as mais importantes, junto com o apoio ao golpe institucional, está a confluência na elaboração de um plano de segurança publica, que passa pelo fortalecimento da Brigada Militar, pela colaboração da guarda municipal com a Brigada e com a integração dos fiscais de transito aos quadros da guarda municipal. Um projeto de aumento dos contingentes repressivos, que só faria aumentar o nível de militarização de Porto Alegre. Um salto, mesmo para uma corrente que já havia transformado um delegado da Policia Federal em herói nacional, como Protógenes Queiroz no caso Daniel Dantas em 2008.

Para fundamentar sua linha golpista, Luciana Genro e o MES criticam as alianças pragmáticas de Dilma e do PT, mas repetem este critério buscando aliança com a Rede e o PPL em Porto Alegre. Mas não é uma novidade na política dessa corrente “esquecer” de algumas críticas quando é conveniente. Por exemplo, Luciana Genro tinha orgulho de se apresentar como a primeira a ter apoiado Tsipras do Syriza da Grécia. Depois que seu governo de coalizão com a direita xenófoba fez um pacto neocolonial com a Alemanha, absolutamente anti-operário e anti-popular, e descarregou a crise nas costas dos trabalhadores e da juventude, Luciana esqueceu do seu aliado de antes sem nenhuma auto-crítica. Agora, apresenta o Podemos da Espanha como exemplo, mas “esquece” de dizer que este vem perdendo base social por sua tentativa incessante e descarada de acordos com os social-liberais do PSOE (uma espécie de PT espanhol) a elite empresarial espanhola e até mesmo o Rei, constitutivos de um regime político tão podre e desgastado quanto o brasileiro. Esses “esquecimentos” são coerentes com quem aqui no Brasil insiste numa aliança com a Rede (ou com o PPL, outra “opção cidadã” para o MES).

Este grupo também advindo do morenismo engrossou o coro da esquerda golpista há alguns meses atrás e agora namora com a Rede de Marina Silva em função de melhores resultados eleitorais. Não há receita pior para um grupo que, já havendo abandonado qualquer perspectiva revolucionária, termina sendo hoje mais um obstáculo para a construção de uma verdadeira alternativa dos trabalhadores e da juventude frente a crise do PT.

 
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