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PALESTINA
Oriente Médio: a tríplice aliança em cena
Miguel Raider

Por trás da “iniciativa de paz” da Arábia Saudita, o Estado de Israel prepara uma aliança com a petromonarquia dos Saud e Turquia para conter o Hamas e contrapor o papel do Irã como potência regional emergente.

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Apesar das cantramarchas, a colonização da Palestina segue avançando. O premier israelense Benjamin Netanyahu aprovou a construção de 800 novas vivendas na Cisjordânia, somadas a outras 600 no bairro árabe de Beit Salafa na Jerusalém Oriental. Como forma de represália, a notícia foi coroada com os primeiros anúncios pela instalação de 42 vivendas no assentamento de Kiriat Arba, onde recentemente foi assinado um bebê israelense por um adolescente palestino.

O assentamento de Kiriat Arba está próximo a Hebrón, talvez a cidade palestina mais quente do planeta, onde menos de cem colonos judeus provocam diariamente mais de 250 mil palestinos, submetidos a políticas de apartheid. Enquanto a chamada Intifada dos lobos solitários decresceu consideravelmente desde seu início em setembro do ano passado, os ataques individuais protagonizados por jovens e mulheres palestinas com armas brancas se mantém de forma intermitente.

A retaliação israelense foi complementada com a mobilização dos batalhões de soldados que cercaram o perímetro de Hebrón e cancelaram as permissões de trabalho de milhares de assalariados palestinos que diariamente se vêem obrigados a suportar os padecimentos dos checkpoints para cruzar até o território israelense.

Em pleno verão, com temperaturas superiores a 40˚C, a companhia pública israelense Mekorot reduziu significativamente o fornecimento de água para as cidades palestinas da Cisjordânia para abastecer as colônias e assentamentos judeus que ocupam 60% da superfície do território palestino. O Estado de Israel se aproria ilegalmente das águas doces do rio Jordão para suprir a necessidade de 550.000 colonos judeus armados até os dentes em detrimento de 2,6 milhões de palestinos residentes da Cisjordânia. Segundo os Acordos de Oslo de 1993 que propiciam a resolução entre os Estados, 80% da água está nas mãos dos israelenses, enquanto reserva os 20% restante aos palestinos (Amira Hass, editor do jornal israelense Haaretz, certifica que apenas atinge 13%).

Mais próximo do gênero fantástico que da realidade mais prosaica, os jornais israelitas não deixam de incentivar “negociações de paz” imaginárias, omitindo premeditadamente a degradação das condições de vida do povo palestino.

A coalizão direitista encabeçada por Netanyahu não tem nenhuma intenção séria de estabelecer negociações com os palestinos, um aforismo histórico que o Likud elaborou para fazer do Estado de Israel “uma muralha de ferro” mediante a “transferência dos árabes”, como sintetizou já em 1923 o líder do sionismo revisionista, Vladimir Jabotinsky. A “resolução do conflito” propiciada demagogicamente pelo Partido Trabalhista e a fraude dos Acordos de Oslo, baseado nas ilusões das classes médias liberais concentradas em Tel Aviv e Haifa, cedeu espaço à “administração do conflito permanente” pelos falcões do Likud, apoiado no movimento de colonos que alimentam o racismo e a xenofobia do regime colonial.

A “iniciativa de paz” da Arábia Saudita

De maneira previsível, Netanyahu rechaçou a Conferência de Paris que se propunha ressucitar as “negociações de paz”, estancadas desde 2014 após a operação Margen Protector que terminou com mais de 1400 palestinos assassinados e com a destruição da infraestrutura de Gaza. Netanyahu descartou categoricamente o documento de Paris, apesar de sua completa indeterminação, que nem sequer contemplava um calendário, diretrizes e objetivos que fixassem prazos para desenvolver as conversações, e em troca se pronunciou a favor da “iniciativa de paz” da Arábia Saudita de 2002, enquanto defendia negociações “diretas e bilaterais” com a Autoridade Palestina, que nunca chegaram a se concretizar. Com razão, o chefe da Liga Árabe, Nabil al Arabi, afirmou que por trás dessa declaração o imaculado líder Lukid não buscava nenhum acordo com os palestinos senão abrir uma via para ampliar o comércio exterior com os países árabes.

Efetivamente, a proposta da petromonarquia presidida pelo rei Salman contempla a abertura dos mercados árabes como “incentivo econômico”, nas antípodas do Cume Árabe de Jartum de 1967 que clausurava taxativamente a possibilidade de abrir negociaçãoes entre os países árabes e o Estado sionista a partir da defesa formal (e demagógica) do povo palestino. No entanto, o curso traçado na realidade revela a formação de uma aliança entre os sionistas, Arábia Saudita e Turquia para contrapor a influência crescente do Irã enquanto potência emergente (após o acordo com os Estados Unidos em troca de limitar seu programa nuclear) e o fator militar no combate contra as milicias do ISIS no Iraque e na Síria, além de sua incidência no norte de Iêmen com os hutis e ao sul do Líbano com Hezbollah. Os agravos dos Estados Unidos com as guerras do Iraque e Afeganistão abriram uma geopolítica do caos com novos fenômenos e realinhamentos políticos.

A crise da ordem regional (baseada nos acordos de Sykes Picot de 1915) e a tendência à desagregação dos estados nacionais (Iraque, Síria, Iêmen, Líbia) obrigam o Estado de Israel a buscar aliados nas potências regionais sunitas que aspiram recuperar seu poder em confronto com a potência xiita.

A restituição das ilhas de Tirán e Sanafir à Arábia Saudita resulta por acaso na melhor expressão da associação com o Estado sionista. Os Saud cederam temporariamente essas ilhas ao Egito em 1950, dada sua proximidade ao Golfo de Aqaba, a única saída para o mar dos israelenses nessa região, que durante a Guerra dos Seis Dias de 1967 o general Nasser ameaçou bloquear estabelecendo uma posição militar que obstruiria a circulação de barcos marcantes israelenses. A devolução das ilhas deixa para trás definitivamente essas velhas desavenças em prol de “normalizar” as relações.

Na mesma direção, o Egito aumentou consideravelmente a quantidade de efetivos militares na fronteira com o Estado hebreu e a faixa de Gaza. O Egito colabora ativamente com a Força de Defesa Israelense (FDI) na destruição de túneis, construídos pelo Hamas para contornar o bloqueio imposto sobre Gaza desde 2007. Netanyahu planeja construir um muro de concreto em torno de Gaza que se estenderá subterraneamente para evitar a proliferação de túneis e garantir a asfixia.

O Ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, admitiu os “custos políticos” que deve pagar o governo pela “guerra de desgaste” mantida com o Hamas, com o qual “uma futura confrontação é inevitável”, ainda que em seguida assegurou que “será a última”. É conhecida a fama de valentão do bairro de Lieberman; no entanto o fogo cruzado mantido entre a FDI e o Hamas durante cinco dias do mês de abril não parece apontar para um horizonte pacífico.

O restabelecimento das relações entre Turquia e o Estado de Israel é a outra perna da entente, conquistada com 20 milhões de dólares em caráter de indenização a onze cidadãos turcos assassinados por soldados israelenses em 2010, quando mediante um comboio humanitário tentaram romper o bloqueio de gaza.

Em contrapartida, a tríplice aliança ente o sionismo e as burguesias árabes mais reacionárias são agora novos pesadelos para o povo palestino e os povos oprimidos do Oriente Médio.

 
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