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TERMINA A ASSIMILAÇÃO DO PODEMOS
Pablo Iglesias: “Essa idiotice que dizíamos quando éramos de extrema esquerda de que as coisas mudam nas ruas e não nas instituições, é mentira”
Alejandro Arias

Os líderes de Podemos, Pablo Iglesias, Iñigo Errejón e Irene Montero expõem em uma conferência na UCM sua nova orientação após o tombo do 26 J. Baixando o ritmo e se preparando para ser uma “oposição responsável”.

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Sem dúvida, o resultado das eleições gerais teve um grande impacto nas aspirações com que os dirigentes do Podemos se apresentavam diante da votação do 26J [26 de junho, quando ocorreu a eleição no Estado Espanhol NdT]. Assim, Pablo Iglesias, Iñigo Errejón e o restante da cúpula da organização se viram obrigados a repensar sua hipótese inicial, que contemplava uma rápida vitória no terreno eleitoral.

Um reposicionamento que foi possível perceber em uma conferência apresentada por Iglesias, Errejón e Irene Montero ao longo dos cursos de verão que estão ocorrendo atualmente na Universidade Complutense de Madrid em San Lorenzo del Escorial. Ali, o dirigente anunciava “o fim da hipótese de Blitz, da guerra de movimentos, do assalto”.

Em um claro emprego da terminologia política de Antonio Gramsci – com a deformação empostada que é característica aos dirigentes do Podemos quando se referem ao comunista italiano – Iglesias argumenta: “agora passamos a uma guerra de posições em que o tempo político se desacelerou”, uma fase na qual opera “uma forma de entender a política muito mais convencional e com tempos muito mais lentos”. O que implica que seu partido deve se erguer como uma alternativa política que se mostre responsável e não gere medo diante da perspectiva de se tornar governo.

Uma política que já se antecipava durante o monólogo inicial que inaugurou o programa de televisão Fort Apache, conduzido por ele própriuo, dedicado ao balanço eleitoral. Ali atribuiu a culpa pela perda de mais de um milhão de votos precisamente a esse medo de um governo do Podemos, apesar de serem capazes de gerar certa “simpatia” entre amplos setores que, finalmente, não teriam lhes concedido seu voto diante da perspectiva real de uma vitória eleitoral de Pablo Iglesias.

Por sua vez, na inauguração dos cursos de verão da Universidade Computense, Iñigo Errejón reforçou esta tese, ainda que tenha adiantado sua intenção de encabeçar uma série de mudanças no interior da agrupação: “vamos ganhar as eleições, mas certamente não com o mesmo Podemos que atravessou esse ciclo curto”.

Durante sua intervenção, o número dois do Poemos comentou a necessidade de “multiplicar as trocas de cargos” no seio do partido para que “ninguém seja imprescindível”. “Onde ontem havia um, hoje pode haver três. É necessário ensinar que uma troca é para que venha alguém que o faça melhor”.

O fiasco do fracassado “ultrapassagem” [possibilidade que era alardeada de que o Podemos ultrapassasse o PSOE eleitoralmente NdT] deu asas ao setor de Errejón, que parece começar a questionar a liderança, até agora indiscutível, do próprio Pablo Iglesias. A não ser que a reestruturação seja um acordo de cúpula, algo que ainda não está claro.

Podemos se prepara para a política parlamentar

Mas se aumenta o enfrentamento entre “pablistas” e “errejonistas”, em nenhum caso este se explica por diferenças de ideologia ou estratégia. Pelo contrário, ambos setores defendem a mesma necessidade de se erguer como uma alternativa política “normatizada”, que se mostre responsável no governo de Estado, do Regime de 1978 e das instituições que lhe são próprias.

A reflexão interna pós 26J, longe de significar uma mudança de rumo estratégico para a organização, afunda no inexorável processo de moderação programática e discursiva, mas agora se apresenta com pretensões corrigidas.

Em que pese a verborragia bélica, já faz tempo que o Podemos havia perdido toda a iniciativa ofensiva quando toda a pretensão de encarnar a morte do bipartidarismo ficava submetida à intenção de formar acordos de governo com o PSOE, que deve aos vai e vens de Iglesias e sua mão estendida boa parte de sua sustentação como força hegemônica da esquerda. Nada mudou nesse sentido. “Nós vamos governar se nos colocarmos de acordo com o PSOE, e isso não tem que significar amizade, boas vibrações ou carinho, mas sim falar da Espanha”, afirmava Iglesias na UCM.

A reacomodação de Podemos, na realidade, significa a assimilação completa do Podemos à política institucional burguesa e a preparação do terreno para exercer uma oposição parlamentar formal que mostre seu sentido de Estado até as próximas eleições.

“Nós aprendemos em Madrid e Valência que as coisas mudam a partir das instituições, essa idiotice que dizíamos quando éramos de extrema esquerda de que as coisas mudam nas ruas e não nas instituições é mentira”. Essa foi a frase forte de Pablo Iglesias, a que buscava as manchetes, demonstrando seu desprezo não apenas pela luta de classes, mas também por todas aquelas mulheres, jovens e trabalhadores que preferem confiar mais em suas próprias forças do que nas negociações de palácio dos democratas burgueses (e pequeno-burgueses).

Ainda está por ver se aqueles que depositaram suas esperanças de mudanças no Podemos continuarão comprando o discurso de Iglesias e engolirão o sapó de mais quatro anos de governo do PP e de oposição responsável. Os resultados das eleições expressam um crescente ceticismo naquilo que viemos denominando como “ilusão do político”, especialmente naquelas cidades em que os novos reformismos vêm demonstrando até onde chega a “mudança”.

A possibilidade de que se coloque uma hipótese distinta, de um reflorescer da luta de classes derivada de um recrudescimento das políticas de ajuste que deverão ser aplicadas por um governo débil, volta a ganhar forças. Se for assim, será possível voltar a colocar sobre a mesa todas aquelas reivindicações que os dirigentes do Podemos nunca tomaram ou foram abandonando no caminho até sua vitória infértil.

 
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