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ATUALIDADE POLÍTICA
Peña Nieto em seu labirinto
Pablo Oprinari

O governo de Peña Nieto seguramente vai querer esquecer, como um pesadelo, este mês de junho. Com o correr dos dias, se abriram múltiplas frentes de batalha, com distintos elementos de crises para a atual administração. A tática e a estratégia do Partido Revolucionário Institucional (PRI) estão comprometidas. O terreno é pantanoso e o horizonte está encoberto pela tempestade.

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Um precipício chamado cinco de junho

As eleições do princípio deste mês mostraram Peña Nieto com uma derrota eleitoral não prevista. Depois de ter pego o vendaval de mobilizações pós Ayotzinapa, o governo estava contendo a resistência dos professores e 2018 prometia uma continuidade do PRI em Los Pinos. Manlio Fabio Beltrones, na direção do PRI, assegurava publicamente uma cadeia de triunfos nas urnas e ele mesmo se imaginava como um “presidenciável”.

Mas não foi assim. Os agentes do PRI leram mal todos os sinais. Não deram crédito ao desgaste governamental, nem à baixa nas pesquisas de popularidade de Peña Nieto. Subestimaram o crescimento do Movimento Regeneração Nacional (Morena), acreditando se tratar de um fenômeno metropolitano. Confundiram a guerra suja entre os pré-candidatos do Partido da Ação Nacional (PAN) com a incapacidade dele para se recuperar eleitoralmente. O velho dinossauro se converteu, pela primeira vez, em oposição na maioria das gestões e acabou em um doloroso segundo lugar na votação nacional.

O castigo para o presidente favoreceu o bloco PAN-Partido da Revolução Democrática (PRD) e o Morena, ambos com possibilidades para 2018. O jogo perigoso de Beltrones, que prometeu mais do que podia oferecer, o afastou quase irremediavelmente do sonho de Los Pinos. No horizonte, em 2017, estão as eleições do Estado do México. Uma possível tormenta para o PRI em seu desafio mais importante.

Empresários e Igreja: o que Peña Nieto não suspeitava

Um governo vitorioso pode impor, sem maiores conflitos, sua agenda a adversários e aliados. Mas não é o caso do México atualmente. Vamos aos pontos.

O reconhecimento do matrimônio igualitário e a legalização parcial da maconha foram promovidas por Peña, em grande medida, em busca de simpatia (e votos) em setores progressistas, objetivo não alcançado. Porém, o que se conseguiu com aquelas medidas foi alentar a oposição inflamada de setores conservadores.

Uma consequência da raiva despertada foi a deflagração, conhecido após a derrota, da “ordem” dada pela igreja de não votar no PRI.

Pode se especular o quão efetivo resultou isto, mas que o clero anuncie que militou contra o PRI é um fato que só pode trazer escuridão para 2018 e um crescimento do direitista PAN.

Quase simultaneamente, vieram os atritos com a poderosa confederação patronal Coparmex. A chamada Lei 3x3 originou uma insólita manifestação de grandes empresários, que se apresentaram, engomados em caros trajes, no Anjo da Independência. À Peña não restou outra coisa: vetou a lei, que agora será novamente discutida no Poder Legislativo.

Patronal e Igreja, são duas novas frentes que indicam a perda de legitimidade entre “os de cima”

Habemus Brexit

Pouco importa que apenas 0,7% do comércio exterior do México seja com o Reino Unido. Tampouco é transcendente, nestes momentos de grandes turbulências, o aumento evidente nos investimentos estrangeiros nos parques industriais que recorrem à fronteira norte e ao brejo mexicano. O fato é que a economia nacional está sacudida por marcadas turbulências.

Em tempos de instabilidade financeira, o peso se mostra como é: uma das moedas “emergentes” mais exposta aos movimentos dos mercados e dos chamados ataques especulativos. Uma economia com fortes tendências de desvalorização, explicitada pelos baixos preços do petróleo e pela redefinição das baixas perspectivas de crescimento anual , que não ultrapassam os 2,3%. E atada aos fluxos da economia estadunidense, em um momento de incerteza financeira que pode ter consequências no terreno da produção e do comércio internacional.

Uma nova frente, desta vez de tormenta, começa a aparecer. Se Peña Nieto pôde apresentar nos anos anteriores dados alentadores baseados no crescimento das exportações e dos investimentos transnacionais, a primeira metade de 2016 levanta neste terreno, múltiplas perguntas.

O temor peñanietista é – ou deveria ser – que os vendavais financeiros se combinem com uma aceleração do desgaste político. Mas as frentes não se acabam aqui.

O ressurgimento dos protestos sociais

O governo fez o que sabe fazer o priismo. Golpear duramente, para conseguir triunfos avassaladores que pavimentam o caminho para seu objetivo estratégico: a estabilidade política e social baseada no esmagamento da resistência operária e popular. E fez sabendo que estava debilitado, lançando a guerra contra o magistério como uma forma ofensiva de recuperar a iniciativa e a fortaleza, pensando em utilizar a seu favor as debilidades e dificuldades que os professores tiveram para despertar o apoio popular nos meses prévios.

Porém, na luta de classes não existem resultados escritos: as jogadas mais arriscadas e ofensivas podem ter um efeito contrário ao planejado.

A repressão despertou um grande movimento de solidariedade com alcance nacional que respalda a Coordinadora Nacional de Trabajadores de la Educación (CNTE).

Nesse movimento se entrelaça a resistência magisterial, que alcançou estados que não se mobilizavam desde 2013, com um protesto social que chegou à outros setores de trabalhadores, e também um grande movimento democrático de massa em repúdio ao autoritarismo. Isto apareceu no último domingo: centenas de milhares de pessoas se reuniram na Cidade do México, respondendo à dupla convocação da CNTE e do Morena. Aconteceu também em mais de 20 de estados. Nas assembleias massivas na Universidade Nacional Autônoma do México, nas paralisações dos trabalhadores da saúde e da Universidade Autônoma Metropolitana, e nas manifestações que chegaram até a Fronteira Norte.

Outra frente que Peña – que além disso arrasta muitas críticas a nível nacional e internacional – quer fechar, como dissemos aqui, com armadilhas na mesa de negociação, já que sua administração não tem – por enquanto – a legitimidade para tentar uma nova ofensiva repressiva.

Então o governo se encontra em um verdadeiro labirinto, o que coloca um sinal de interrogação sobre o caminho que tomará. Inclusive existem aqueles que o convida para iniciar uma transição antecipada, entre eles López Obrador.

Peña Nieto fez sua aposta, até o momento perdida, de derrotar os professores, o setor dos trabalhadores mais combativos e resistentes. O que busca agora é tranquilizar as águas dos protestos sociais e da resistência magisterial: essa é a intenção com o diálogo proposto pelo ministério do interior e a recente chantagem de suspendê-lo unilateralmente ante a continuidade dos bloqueios. Pretendem assim preparar melhores condições para impor seus planos.

Mesmo assim, é preciso acompanhar para ver se isso é suficiente. Peña Nieto não depende apenas de suas ações, nem de como resolverá as contradições políticas e econômicas. Depende também da resposta vinda dos explorados e oprimidos, dos centenas de milhares que se mobilizaram, e os que ainda não o fazem e que habitam com seu descontentamento as fábricas, as escolas e as colônias. São eles quem têm a palavra e as ruas à sua frente.

 
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