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LUTA PROFESSORES MÉXICO
Centenas de milhares nas ruas do México em apoio aos professores
Pablo Oprinari

No domingo (26) centenas de milhares de pessoas protagonizaram um novo dia de luta em solidariedade aos professores. Fizeram sua a luta da CNTE e saíram às ruas da Cidade do México para proteger as e os professores, mostrando ao governo que o magistério não está sozinho.

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Um domingo de luta contra a reforma educativa

Desde cedo, muito antes das 11 da manhã, ficava claro como a jornada de mobilização não seria comum. Que seríamos centenas de milhares que nos manifestaríamos nas ruas da Cidade do México junto à Coordenadora Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE).

E assim, um rio humano, formado por professores, trabalhadores, donas de casa, jovens, amplos setores populares e das classes médias percorreram o Paseo de la Reforma.

Milhares e milhares marcharam atendendo à convocatória do MORENA [partido de centro-esquerda mexicano – Nota do Tradutor] e de Andrés Manuel López Obrador, do Ángel de la Independencia à Glorieta a Colón. As bases deste partido, seus simpatizantes e votantes, se manifestaram solidários com as e os professores.

Milhares passaram deste ponto de concentração e se dirigiram ao Zócalo, incluindo contingentes de dezenas e até centenas de escolas. Se notava nas ruas a efervescência política, a organização que surge desde baixo e que traz novas camadas de trabalhadores e de jovens fartos do autoritarismo e do atropelo das conquistas trabalhistas e democráticas.

Enquanto isso, em frente ao Antimonumento, outros milhares, provenientes de distintos lugares do país, atendiam à convocatória da Coordenadora Nacional de Trabalhadores da Educação e se aglutinavam desde as 11 horas. Sob um sol flamejante, marcharam depois até a Procuradoria Geral da República, exigindo a aparição com vida dos 43 estudantes normalistas de Ayotzinapa.

Os cantos eram contra Peña Nieto e Nuño [presidente mexicano e seu Secretário da Educação Pública - NT] e sua mal chamada reforma educativa. Eram em solidariedade aos professores e pela liberdade dos presos políticos.

Os que marchavam vindos do Ángel de la Independencia, ignoravam as indicações da direção do MORENA de fazer uma “marcha de silêncio”: entoavam as consignas contra o governo e junto aos professores.

Em simultâneo, a multidão que os esperava em frente ao coreto na Glorieta de Colón, demandava justiça para os 43 de Ayotzinapa, exigiam a liberdade dos presos políticos e justiça para os assassinados em Nochixtlán.

Durante todo o dia, essa zona nevrálgica da cidade esteve literalmente ocupada pelos manifestantes. Nos fez lembrar as jornadas de 2006, quando centenas de milhares – e até milhões – se levantaram contra a fraude que levou Felipe Calderón a Los Pinos [residência do presidente mexicano - NT]. E também nos lembrou as primeiras mobilizações pela aparição dos 43 companheiros normalistas de Ayotzinapa, quando multidões incontáveis percorriam as principais ruas da Cidade do México e gritavam que Foi o Estado. E agora, os que saíram às ruas neste domingo sabiam bem que nesta guerra contra os professores Foi o Estado o responsável pelos mortos e feridos em Nochixtlán.

A força dos trabalhadores: a chave para derrotar o governo

É deste tamanho o movimento que despertou em solidariedade ao magistério, se expressou neste dia até onde alcançava a vista.

Se Peña Nieto, com a brutal repressão, quis derrotar os professores e impedir a unidade com o resto dos trabalhadores e do povo, está conseguindo o contrário. Um ascenso nas lutas sociais, que não só percorre o magistério a nível nacional, senão que toca a juventude estudantil e outros setores de trabalhadores – como na saúde. Que se faz sentir desde Chiapas até Paso del Norte, com as mobilizações de trabalhadores na Ciudad Juárez e em San Quintín.

Este domingo se mostrou, sem dúvidas, que há condições para que o magistério, com o apoio de amplos setores, retome a ofensiva.

Para isso é preciso manter no alto a bandeira de colocar abaixo a reforma educativa, encomendada por Washington e pelas multinacionais. López Obrador, enquanto chama a mobilização pelos professores e faz suas algumas das justas demandas deles, não menciona esta demanda fundamental que é compartilhada também por amplos setores de trabalhadores e jovens que votaram nele. E em troca se refere a “reformular a reforma educativa para elaborar uma de consenso, com participação de autoridades, professores e pais de família”.

Mas os professores e professoras sabem que toda discussão que não parta da revogação da reforma, representa um grande perigo para a luta magisterial. Eles sabem que não é possível “consensuar” com as autoridades. Elas querem o oposto do magistério; é porque Penã Nieto e seus secretários sabem disso que buscam impor a reforma a sangue e fogo. Por isso as demandas da CNTE, assim como um diálogo verdadeiramente público e que não seja uma nova armadilha, só serão conquistados com a mobilização nas ruas. É preciso impor essa demanda ali, contra Peña Nieto, Aurelio Nuño e Osorio Chong.

Milhares, que o consideram como a verdadeira oposição ao governo, escutaram López Obrador propondo a Peña Nieto “um governo de transição” até 2018, “com um gabinete diferente, sob a premissa do diálogo e da reconciliação”.

A realidade é que os trabalhadores da educação e o resto da classe operária e do povo, não podem depositar nenhuma esperança “no diálogo e na reconciliação” com Peña Nieto e com as instituições responsáveis pelo massacre de Iguala e pelas desaparições de Ayotzinapa. Muito menos em um hipotético “governo de transição” edificado nos marcos deste regime político, sob o qual todos os dias são atacadas as conquistas trabalhistas e sociais e as liberdades da população. Assumir esta política e confiar na “reconciliação” com o assassino de Atenco, só nos levaria a retroceder no que estamos conquistando.

E o que conquistamos é que – nas últimas semanas – centenas de milhares estivemos nas ruas. E esse movimento começa a mostrar nossa força. E que, se confiamos nesta força, podemos passar à ofensiva.

Para isso, para abalar o governo e obrigá-lo a descartar a odiada reforma educativa, devemos contar com um plano de ação que aprofunde a mobilização unificada contra Peña Nieto, com plena independência dos partidos e instituições a serviço dos empresários.

E o que precisamos, de forma urgente, é de uma verdadeira paralisação nacional, onde se expresse a força dos trabalhadores, suspendendo no ar todos os setores da economia do país.

As centrais que se dizem opositoras como a União Nacional de Trabalhadores – que lamentavelmente não esteve presente nas últimas ações dos dias 24 e 26 de junho – devem, em coordenação com a CNTE, colocar uma data para esta medida de luta.

E também fazerem um chamado público para que se incorporem a essa paralisação os milhões de trabalhadores que no setor industrial e de serviços se encontram sob o controle das centrais governistas e vendidas. É preciso ir às fábricas e locais de trabalho para somar estes grandes destacamentos da classe operária à mobilização.

Como defende a Agrupação Magisterial e Normalista Nossa Classe aqui, é fundamental convocar, de forma urgente, um Encontro Nacional de Organizações Operárias, Populares e Estudantis. Ali se poderá discutir democraticamente um verdadeiro plano de luta que ponha o freio necessário ao governo e seus planos de fome e miséria.

As últimas semanas ensinam que há disposição no magistério nacional. E que amplos setores dos trabalhadores e do povo estão dispostos a fazer ações efetivas em solidariedade com os professores e contra o governo de Peña Nieto. A maior e mais recente mostra foi a mobilização deste dia 26.

O que é imperiosamente necessário é um verdadeiro plano de ação para que a classe operária entre em cena com seus métodos de luta, as paralisações e as greves.

Tradução: Francisco Marques

 
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