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BARBÁRIE
O capitalismo chinês em um minuto de vídeo
Evandro Nogueira
São José dos Campos

Vídeo de agressão pública como disciplinamento a trabalhadores na China vira notícia no mundo

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A cena bizarra começa com um homem de microfone na mão aparentemente entrevistando oito trabalhadores que estão em pé num palco. Ele pergunta por que motivo não atingiram os resultados esperados no treinamento, ao que alguns respondem “por que não me esforcei o suficiente”, “não soube trabalhar em equipe” ou “não tive coragem”. O homem então anuncia: “prepararem-se pra apanhar!” Na plateia, cerca de 200 trabalhadores assistem e até esse momento parece que não esperam o que vai acontecer, uma trabalhadora até ri, mas em seguida o homem do microfone passa a distribuir pauladas nas nádegas dos trabalhadores, que permanecem em pé enquanto ele vai e volta pela fila, acertando quatro vezes cada um.

São quatro homens e quatro mulheres. As pauladas ecoam no salão, os trabalhadores fazem grunhidos de dor. Existe inquietação entre os que assistem, mas o agressor segue seu trabalho tranquilo. Uma das trabalhadoras se desloca dois passos à frente pela dor da paulada, instintivamente tenta se proteger, mas é repreendida pelo agressor, que lhe acerta mais uma vez e continua pela fila. Segundo relatos depois disso os homens ainda tiveram a cabeça raspada e as mulheres os cabelos cortados.

O Banco Rural de Changzhi contratou uma empresa terceirizada que oferecia um “novo tipo de treinamento” para seus funcionários. Após a ampla repercussão do vídeo dois altos executivos do banco foram afastados, incluindo o presidente. O agressor logo se pronunciou eximindo os executivos de responsabilidade e ainda disse que “uma palmada é um método de ensino utilizado há muitos anos”. Changzhi é uma cidade no nordeste da China, com cerca de 700 mil habitantes, de economia industrial. Dois dias antes desse ocorrido a cidade realizou seu 13º Congresso Municipal Popular, com figurões recém eleitos para a burocracia local do Partido Comunista da China.

Longe de dissertar sobre as causas profundas da cultura e da economia desse país que levam ao escabroso caso relatado, o que sabemos é que não se trata de algo por fora das contradições do capitalismo, que no caso da China é administrado por uma burocracia enriquecida e extremamente corrupta, chamada Partido Comunista, que absolutamente nada tem a ver com comunismo ou qualquer coisa que seja à serviço dos trabalhadores e da emancipação da humanidade.

Lembramos que em janeiro o jogador de futebol Rafael Marques, atualmente no Palmeiras, que esteve atuando no futebol chinês comentou que presenciou “Agressão no vestiário, de treinador em jogador... Me incomodou muito, vi duas ou três atitudes como essa. Entrava no vestiário, ainda trocado, e procurava sair. Esperava acalmar entre os chineses para eu poder tomar meu banho, esfriar a cabeça e voltar a hotel.”

A China teve uma reforma nas leis trabalhistas em 2008, quando passou a ser obrigatória a formalização dos contratos de trabalho, assim como garantido o direito dos trabalhadores conhecerem os motivos das demissões. Ainda sim continuaram acontecendo os conhecidos casos de trabalho escravo denunciados em mensagens secretas nos produtos vendidos, assim como as jornadas que chegam a 180 horas extra em um mês e também o trabalho de crianças e adolescentes de 14 anos em fábricas. Outro fato conhecido são os altos índices de suicídio, o maior do mundo entre os jovens. O caso da empresa Foxconn também é bastante dramático e representativo dessa tragédia, onde catorze operários se mataram em 2010, três em 2011, um em 2012 e outros três em 2013. Além das centenas de operários que ameaçaram suicídio coletivo como forma de luta por melhorias nos salários e condições de trabalho durante esses anos.

Com a desaceleração da economia o governo já anunciou que deverá demitir cerca de 6 milhões de trabalhadores nas empresas estatais, que por sua vez representam cerca de 40% da produção industrial do país, com 37 milhões de trabalhadores. Não existem muitos dados divulgados, mas certamente esses milhões se multiplicarão em muitos outros pelo impacto no conjunto da economia e com as tendências de continuidade da desaceleração econômica do país. Enquanto o gigante que é a classe operária chinesa não superar essa etapa atual da sua consciência infelizmente o que o capitalismo reserva são mais cenas bizarras como essa dos trabalhadores do banco sendo agredidos publicamente ou esses trágicos casos de suicídios continuarem acontecendo.

 
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