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HOLLANDE
FRANÇA: Um passo a mais na ofensiva autoritária
Claire Manor

O governo proíbe a manifestação de 23 de junho em Paris. Depois da manifestação de 14 de junho contra a Lei El Khomri, a maior desde o início do movimento, Valls e Hollande procuram por todos os meios fazer calar a rua. No dia seguinte o primeiro ministro ameaçava proibir as manifestações se a "preservação das pessoas e bens não pudesse ser garantida". Hoje ele persiste e assina.

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Após ter requerido por meio da autoridade municipal que a manifestação parisiense organizada por 7 sindicatos no 23 de junho fosse apenas uma concentração, ele anuncia a proibição pura e simples. A intersindical pediu ao Ministério para rever sua posição.

Falsos pretextos e verdadeiras razões de proibir a manifestação

A proibição de uma manifestação tem riscos junto à opinião pública tradicionalmente ligada às liberdades democráticas e além disso 70% são contra a Lei El Khomri e 60% apoiam a mobilização. Após a utilização mal digerida do 49.3 e mesmo se certos arautos da direita uivam com lobos contra os "Vândalos", mostrar um rosto ultra autoritário é muito arriscado. O que leva porém o governo a ir tão longe?

Na realidade, poucas pessoas se deixam enganar com o argumento de manutenção da ordem e de proteção "das pessoas e dos bens" colocado pelo presidente e seu primeiro ministro. É cada vez mais claro que a violência, mesmo que possa ocorrer do lado dos manifestantes, é antes de tudo uma resposta às provocações e à violência policial.

A verdadeira razão, para o executivo, de proibir a manifestação de 23 de junho é preciso achar alhures. Durante o primeiro período do movimento contra a Reforma Trabalhista [Loi Travail – “Lei Trabalho”], Hollande e Valls contavam com a desmobilização. As jornadas saltadas, a diferença de sincronização entre o movimento estudantil e o dos trabalhadores, os ritmos diferentes das greves prorrogáveis [ou seja sem duração pré-determinada], a flutuação da participação nas manifestações poderiam lhes fazer pensar que conseguiriam, se corressem um pouco, a extinguir o movimento antes do verão. O recomeço da luta num nível mais elevado durante o mês de maio com a multiplicação das greves e dos bloqueios, e a manifestação culminante de 14 de junho com 1,3 milhão de participantes colocaram em dificuldade essa estratégia. Desde então o executivo procura com urgência como conseguir parar o movimento.

A concentração, uma tática para impedir uma manifestação de massas

A amplitude da manifestação de 14 de junho tem um significado inquietante para o governo. Enquanto as manifestações permanecem dentro de números razoáveis e agrupam só os militantes de costume, não há muito a temer, pensam eles. Quando as manifestações tomam uma proporção massiva, é outra coisa.

Entre 1984 e 1995 uma dezena de leis ou de projetos de lei caíram por causa de greves e de manifestações de rua, a mais forte foi a de 1995 contra o plano Juppé. Então na consciência coletiva, se fixa a ideia de que quanto mais uma manifestação é massiva mais ela tem chance de ser bem-sucedida. É assim que é preciso compreender a batalha de números que surgem nos canais de televisão na noite de 14 de junho e que se destinava a destruir, no espírito dos manifestantes e de seus apoiadores, a consciência de sua própria força. É em todo caso o que guiou o executivo na condução de sua estratégia.

O percurso do pensamento do primeiro ministro revelou-se através de suas sucessivas declarações. Sempre sob o mesmo pretexto de proteção " das pessoas e dos bens" ele em uma semana ajustou sua tática. Primeiro, na quarta 15 de junho ele declara que estão fora de questão manifestações no centro de Paris (que têm evidentemente um efeito de massificação). Logo em seguida aparece a ideia de "caso a caso", certas manifestações "sim", outras "não" em função das "garantias" dadas. Um caso por caso que viu a CGT de Toulouse ceder ao governo, anulando seu ato previsto por causa do jogo da Rússia. Se tratava, de certa maneira, de dar uma garantia de "responsabilidade" a Valls e como se viu, não fez dobrar o governo.

Na segunda 20 de junho, surge uma terceira tática: substituir a manifestação parisiense por uma concentração, o que equivaleria a reduzir o sentido da manifestação, a marcha sendo por sua amplitude e sua duração a demonstração mesmo da potência da mobilização e da capacidade de combate (graças ao tous ensemble - "todos juntos ao mesmo tempo"). No espaço de algumas horas somente , o ministro do interior comunica à intersindical a proibição pura e simples da manifestação parisiense.

Os sindicatos mantém por enquanto a marcha. O impasse está dado. A petição inicial dos sete sindicatos anti- Lei Trabalho (CGT, FO, FSU, Solidaires, Unef, Fidl e UNL) foi enviada na quinta-feira, 16 ao Comando da Polícia. Segunda pela manhã receberam a resposta lhes pedindo uma concentração parada, afim de melhor enquadrar e melhor assegurar a manifestação e de fazer de modo que haja menos depredação. O secretário-geral da CGT-Ile de France declarou à AFP: "acabamos de comunicar ao comando de polícia que mantemos nosso pedido de manifestação entre Bastille e Nation a partir de 14h. Ele esclarece que os sindicatos tomaram a precaução de fazer um percurso curto permitindo assegurar a maior segurança possível.

Algumas horas mais tarde, proibindo pura e simplesmente a manifestação Valls endureceu sua posição. Ele só o pode fazer em respeito à Constituição se aplicar o artigo 3 que estipula que "se a autoridade investida de poderes de polícia estima que a manifestação prevista é de natureza à perturbar a ordem pública ela o interdita por um decreto que ela notifica imediatamente aos signatários da declaração". Esta obrigação não está sujeita contudo à observância de nenhum prazo.

Deixar fazer a concentração e proibir a marcha é evidentemente a pior das situações para os manifestantes forçados ou à se submeter e ficar quietos, ou de partir em "manifestação selvagem" com a série de violência policial e repressão que isso possa causar. Nenhuma dúvida que Valls tem consciência e que tenha escolhido ir ao fundo da estratégia de confrontação para tentar um enorme golpe de repressão e de descrédito. Verdadeiramente um passo a mais na escalada autoritária do governo. Não ceder, manter nossas manifestações!

Se trata da construção da relação de forças que está em questão através das mobilizações de 23 de junho e das que se seguirão. Não ceder, manter as manifestações e é necessário vir determinados e em grande número. Lutar pelo direito de se manifestar, para esta mobilização especialmente chamada pela intersindical, incluindo a CGT, contra a Lei Trabalho que é rejeitada pela maioria da população é a única maneira de refutar um ataque que marca um salto na ofensiva do governo contra nossas liberdades democráticas. É a melhor maneira de barrar esse governo que gostaria de nos impor sua Lei Trabalho por um 49.3 na rua!

Tradução: Sérgio Vinhas

 
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