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OPINIÃO
Com continuação da crise política cresce a esperança do PT do retorno de Dilma, enquanto isso segue a conciliação com a direita
Evandro Nogueira
São José dos Campos

Crescem as tentativas dentro do PT de costurar votos no Senado para retorno de Dilma e organização de um referendo ou novas eleições. Hoje Dilma teria se reunido com senadores e sindicatos para articular uma carta com este conteúdo. Este debate é defendido por importantes jornalistas e referências progressistas como a afirmação de uma nova esquerda. É o caso? Ou trata-se de reedição caricata e farsesca da carta de compromissos com o FMI firmada em 2002?

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Tentando se aproveitar da fragilidade política demonstrada pelo governo Temer em seu primeiro mês, que se soma ao clima generalizado de incertezas e ameaças, fortalecido principalmente após o vazamento do pedido de prisão para a cúpula do PMDB, que inclui os presidentes das duas casas do congresso nacional, Dilma e os setores petistas tem articulado um discurso e pequenos gestos jogando com a possibilidade de realizar novas eleições ou plebiscito caso retorne ao poder, e assim com esta oferta tenta atrair senadores para impedir a efetivação do impeachment.

Com essa perspectiva é que nessa terça, 14, Dilma se reuniria com alguns senadores, além de representantes da CUT e do MST para discutir propostas de consulta popular, como um plebiscito, para antecipar as eleições presidenciais. Um pressuposto dessa discussão é que, mesmo uma avaliação otimista do ponto de vista petista, apontando a possibilidade de volta da presidenta, parte-se de que dificilmente ela conseguiria governar, voltando, portanto, somente para organizar sua própria saída (ou, se Sérgio Moro, o restante do “partido do judiciário” e da mídia permitirem e a maioria dos eleitores quiserem, a esperança de retorno de Lula).

Setores do PMDB argumentam que esta possibilidade teria sido melhor colocada antes do avanço do processo de impeachment, agora seria “tarde demais”, o que, além de servir para defender suas próprias posições golpistas, não deixa de expressar um preocupação da frente golpista, pois ter que retroceder do impeachment, seria uma demonstração de fragilidade do processo e dos grupos políticos à frente dele, além de prolongar significativamente no tempo as incertezas políticas, e portanto os ataques que pretendem implementar aos trabalhadores, de forma mais rápida do que Dilma vinha realizando, motivo pelo qual recorreram a este golpe institucional.

Se antes do impeachment a defesa de novas eleições tinha como principais vozes a Folha de São Paulo, Marina Silva (e um eco de “esquerda” por parte de Luciana Genro do PSOL e por parte do PSTU), agora importantes políticos que se opuseram ao impeachment e um importante site ligado ao PT (o Brasil 247) passam a defender abertamente a posição que Dilma argumentou em entrevista recente. Entre os políticos que se opuseram ao impeachment que tem defendido novas eleições, se destaca Roberto Requião (PMDB-PR), que reuniu senadores e declarou, "Tinha 30 pessoas na minha casa, todos fechados com o plebiscito e novas eleições. No fim dos 90 dias de interinidade pode chegar a 40”. Para barrar o impeachment Dilma precisa dos votos, abstenções ou ausências de 27 senadores, segundo alguns sites hoje ela teria 18 votos e Temer, que precisa de 54 teria 37. O parlamentar Álvaro Dias (PV-RR), que votou pelo impeachment também admite que a tese de eleições antecipadas tem se fortalecido.

Nova... o que?

Para fortalecer sua voz política entre as massas, Dilma e os setores petistas seguem com a fábula de que seriam uma alternativa à esquerda do golpista Temer, e não que este esteja implementando diversos planos traçados sob o governo dela, como a privatização de aeroportos e parte da Petrobras, a entrega do pré-sal, a discussão de reforma da previdência, entre muitos outros.

Os últimos retoques dessa fábula estão sendo preparados nessa reunião com CUT e MST, que desde os primeiros passos do golpe tem feito jus ao ditado, cão que late não morde, especialmente (pela sua força) a poderosa central sindical, que enquanto comandada por burocratas como Rafael Marques do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, deve seguir como tem mostrado, seguindo à risca o papel cumprido durante os governos petistas, que nada mais é do que controlar e domesticar os trabalhadores. O próximo capítulo da fábula deve ser uma nova “carta aos brasileiros”. Com muitas frases de “combate ao golpe” encobre-se a política real de aproximar, conciliar, e conchavar com um punhado de parlamentares direitistas, até mesmo com o ex-líder tucano (agora no PV), Álvaro Dias.

Um dos renomados porta vozes do progressismo anti-Temer, e também defensor dos governos petistas, Luis Nassif, diz que a tal carta deve ser uma síntese do que seriam as tarefas da “nova esquerda”, entre as quais, destaca ele, facilitar sim a privatização de setores estratégicos, nas palavras do próprio, “A esquerda precisará abrir mão do viés estatista, identificar e defender as estatais essenciais, mas apostar em modelos que atraiam o capital privado para a infraestrutura e os serviços públicos”.

O que não podemos negar, certamente, é o esforço de Nassif em fazer parecer grandiosa essa óbvia e patética missão histórica que o PT tenta se colocar no momento, que é reforçar sua tinta vermelha de esquerda no discurso para atacar direitos e privatizar mais, se assim tiver oportunidade. Novamente nas palavras de Nassif, “a Carta aos Brasileiros de Dilma poderá se constituir na semente do novo pensamento de esquerda moderna, que poderá emergir a partir das próximas eleições, tendo Lula como símbolo máximo e Dilma como sistematizadora do programa”. Ou seja, se seguirem as diretrizes de Nassif, seria uma reedição farsesca da trágica carta endereçada ao FMI em 2002.

Ao contrário de propostas como estas, erguer uma nova esquerda passa pela crítica radical a todos estes anos de governo do PT, a sua não-resistência ao golpe, a sua farsa de luta contra o governo golpista nos últimos 30 dias, uma crítica a conciliação com os empresários e a direita. Uma nova esquerda hoje deveria colocar suas forças para a derrubada de Temer não pela via de conchavos com a mesma direita, mas com a força e métodos da mobilização dos trabalhadores. E no bojo desta luta impor uma Nova Constituinte que acabe com os privilégios do político, que se enfrente com os patrões que descarregam a crise em nossas costas, em suma, uma nova esquerda não pode ser a reedição do PT mas sua superação afirmando uma perspectiva revolucionária.

 
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