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GREVE DE PROFESSORES
Mestres obstinados: resposta ao editorial da Folha de São Paulo
Iuri Tonelo
Recife
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Depois de mais de quarenta dias de lutas dos professores da rede é um pouco estarrecedor acordar nesse sábado e ler o editorial da Folha de São Paulo intitulado “mestres indisciplinados” sobre a greve de professores. A todos os que defendem uma educação pública no país, mais que uma sensação de total desrespeito advinda de nossa imprensa, nos dá clareza de que a batalha em jogo não é apenas pelo importante salário, por nossas condições de trabalho, pelos nossos empregos: a verdadeira “guerra” é pela educação pública.

Antes de entrar no “tema” que se refere o editorial é preciso desfazer algumas tramoias citadas: são mais de quarenta dias que os professores da rede entraram com toda gana no embate por uma negociação com o governador Geraldo Alckmin e, ao contrário do que prega a Folha - de que eles fazem exigências descabidas - a verdade é que o governador não negociou nada. Não ofereceu nenhum reajuste, querem deixar os professores com salário menor, já um pouco corroído pela inflação que começa a aumentar.

Mas a Folha coloca dados para dizer como que “não é o melhor dos salários, mas tá bom”, só que coloca dados enviesados. Não é verdade que a realidade dos professores com trabalho de 40 horas seja de um salário próximo às demais categorias. No editorial eles descontam o tempo de trabalho que ficamos preparando aulas, corrigindo trabalho, elaborando avaliações etc. Ou seja, contando a jornada máxima de aulas (32) para um cargo e mais as poucas horas que o estado concede de trabalho extra-classe, totalizando 40h (na realidade muito mais de trabalho em casa), ganhamos aproximadamente metade do que demais profissões do ensino superior.

Isso seria o equivalente aos R$ 2.725 dito no editorial. Mas a realidade é um pouco mais cruel com os professores: agora que os deputados estão votando esse ataque com o projeto de lei 4330 e estamos todos debatendo a terceirização é preciso constatar que formas de precarização laboral já ocorrem na categoria, com os professores trabalhando como temporários, dando as mesmas aulas que um efetivo (mesmo tempo de trabalho), mas recebendo menos, tendo menos direitos, sem plano de saúde, com contratos rompidos e duzentos dias impostos de desemprego (a tal duzentena).

Acho que dezenas de milhares de professores no estado que leem a matéria da Folha dizendo que recebemos R$ 4.416 devem pensar “quem dera eu recebesse os 2.725!”, já que a maioria não passa de R$2.000, pois não conseguem arcar com a pesada carga máxima de aulas. Sem contar que todos os benefícios como vale transporte, refeição ou alimentação já estão “incorporados”, pois não recebem praticamente nada (ou é muitíssimo baixo, como no caso do VA).

E apesar da grande imprensa não estar lá pra negociar, na quinta-feira passada vários professores levaram seus holerites para comprovar o que realmente receberam, a despeito desses números do editorial.

Mas a Folha tem uma resposta: o aumento do salário dos professores vai aumentar onerar muito o orçamento. Sim é verdade, mas ela se esqueceu de dizer com que vai onerar: educação, e de que nesse contexto que o gasto com corrupção, em dados gerais noticiados, chegava a R$ 232 milhões em 2014. Porque não baixam o salário de todos os políticos para que ganhem igual a uma professora, criando um “governo barato”, como primeira medida para o orçamento?

Ou seja, o leitor já deve estar imaginando qual o sentimento dos professores frente aos políticos e especialmente ao governador Geraldo Alckmin que nutre desprezo pela educação e pela docência ao não oferecer nada nas negociações. Se isso não bastasse, o governo está estimulando o corte de ponto, deixando os professores sem poder pagar as contas e a comida em casa.

Nesse contexto, uma parte dos professores, na última quinta-feira, protestou em frente à secretaria de educação e tentaram ocupar a repartição. É verdade. O que a Folha não diz que isso não teria ocorrido se na negociação estivéssemos diante de governos que valorizam os professores e querem buscar soluções que avancem na melhoria do ensino público.

O fato é que frente a uma conjuntura onde os deputados votam ampliar a terceirização e que o governo federal impõe um ajuste econômico, não era de se esperar que Alckmin ou a grande imprensa tivessem qualquer sensibilidade pelas demandas da educação.

Por outro lado, nessa maravilhosa batalha dos professores na greve, bem como no imenso protagonismo de categorias no país em diversas lutas, nós podemos começar a ter confiança que a verdadeira resposta para nossos problemas começa a surgir: a resposta dos “mestres obstinados”, que a despeito disso tudo continuam em sua profissão por um genuíno desejo de mudar a realidade da educação, que seja pública, gratuita e de qualidade para todos.

Esse é o grande medo dos que vivem de encher o bolso com corrupções e desprezam as nossas lutas: de que os de “baixo” comecem a erguer a cabeça e mudar o ruma das coisas. Esse é o recado da resistente e obstinada greve de professores.

 
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