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DEBATES E TEORIA
Apresentação sobre sindicalismo de base no kirchnerismo e giro a direita na superestrutura política na Argentina, gera interesse e debate na III Semana de Economia Política em Fortaleza (CE)
Gonzalo Adrian Rojas

No segundo dia da III Semana de Economia Política da Universidade Federal do Ceará (UFC): Acumulação de capital e Emancipação Humana, subdesenvolvimento, crise ambiental e lutas sociais no século XXI na cidade de Fortaleza, Ceará, organizado pelo Núcleo de Economia Política (Viès), nos grupos de trabalho se destacou a apresentação de Shimenny Wanderley, licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e colaboradora deste Jornal Esquerda Diário.

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Seu trabalho intitulado “A economia política kirchnerista, o sindicalismo de base e seus desafios com o giro a direita na superestrutura política Argentina” gerou interesse e debate no evento.

Shimenny Wanderley se apresentou em termos acadêmicos como integrante de Praxis. Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Estado e Luta de Classes na América Latina da UFCG e em termos políticos como colaboradora do Jornal Esquerda Diário impulsionado pelo Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT)

Esclareceu que sua pesquisa faz parte de um estudo comparativo maior folego dos governos latino-americanos ditos “pôs-neoliberais” que foca nos estudos de caso de Argentina, Brasil, Venezuela, Bolívia e Chile e em menor medida Equador e Uruguai, um conjunto heterogêneo de governos que governaram a última década. O triunfo de Macri na Argentina, o golpe institucional a través do impeachment de Dilma no Brasil, a derrota de Evo Morales no plebiscito pela re-reeleição e a gigantesca crise política em Venezuela são só alguns destes indicadores.

Particularmente seu trabalho estuda o caso da Argentina durante os governos de Nestor Kirchner (2003 – 2007) e Cristina Fernandez de Kirchner (2007 – 2015), mas nesta ocasião acrescentou o momento político de giro a direita na superestrutura do pais.

Explicou que o kirchnerismo surgiu como uma resposta política à crise política e econômica de 2001, expressa principalmente com as jornadas de 19 e 20 de dezembro de 2001, conhecida como “Argentinazo” e que analisa a política econômica dos “governos K” e sua relação com o sindicalismo de base, com a finalidade de compreender se há uma continuidade nas relações de força no interior do bloco no poder no pais. Frente ao fim de ciclo “k”, no marco do fim de ciclo dos governos “pòs-neoliberais” na América Latina entende que os desafios do sindicalismo de base se resinificam com o “giro a direita” na superestrutura política, expressada com a vitória eleitoral de Macri.

Shimenny Wanderley realizou uma caracterização dos governos Kirchneristas, apresentou o relato oficial dos próprios k, assim como o relato alternativo da oposição de esquerda. Neste tema foi importante o livro do dirigente nacional do Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) Christian Castillo; La izquierda frente al kirchnerismo quem também foi entrevistado por ela para sua pesquisa no mês de novembro de 2015.

Argentina apresentou durante os governos k um bloco no poder no qual a fração da grande burguesia interna melhorou sua posição relativa no interior deste, mas não conquistou a hegemonia, esta continuou sendo do grande capital financeiro. O fortalecimento da burguesia interna permitiu uma transformação no interior do modelo, nas relações de força entre as frações de classe e não uma mudança do próprio modelo. Esse fortalecimento da burguesia interna se expressou com à união entre a burguesia industrial argentina e o governo.

Explicou que o efeito “rebote” e o crescimento econômico assim como políticas governamentais de cooptação e repressão levou a uma fragmentação do movimento de desempregados o que junto a recomposição econômica favoreceu o desenvolvimento do sindicalismo de base, classista, que ressurge como um novo fenômeno sindical e político, propondo a independência política da classe trabalhadora ao enfrentar os sindicatos burocráticos ligados ao governo e as patronais recuperando tradições de luta dos trabalhadores no momento de alça de massas da primeira década dos anos ’70 no pais, pautada na organização no lugar de trabalho, as comissões internas nas fábricas, o que traz uma mudança qualitativa e constitui uma base importante para enfrentar os desafios da classe trabalhadora na luta de classes.

Este tema gerou um importante interesse, já que nas intervenções e debate foi inevitável fazer uma comparação com o Brasil e diferenciar o papel apático da CUT e do PT durante e depois do golpe com sua criminosa passividade, a importância política da independência política da classe trabalhadora, os conflitos e a luta de classes no pais assim como a relação entre sindicalismo de base, Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) e a relação com sua expressão eleitoral na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) desde uma perspectiva marxista revolucionária. Isto permitiu a Shimenny Wanderley aprofundar e desenvolver os conflitos no caso de Zanon hoje Fasinpat, de Lear, de Kraft, de Donelley hoje Madygraf controlada pelos trabalhadores e demais conflitos onde o sindicalismo de base tive protagonismo. Isto gerou um renovado interesse por essas experiências de luta.

Finalizou falando sobre o giro a direita na superestrutura política no pais, como isso tem implicações no bloco no poder e traz novos desafios tanto para o sindicalismo de base no país, o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) e a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT). Neste contexto realizou um balanço das mudanças regressivas do governo Macri nos seus primeiros seis meses de governo, para depois apontar um fato político muito relevante como foi o triunfo na eleição para o SUTNA (sindicato nacional dos trabalhadores de pneus) já que pela primeira vez desde a redemocratização de 1983 a esquerda classista triunfa e recupera um sindicato nacional. Também destacou a importante eleição do sindicalismo de base no sindicato da alimentação.

Consultada por Esquerda Diário sobre porque acha que um trabalho sobre sindicalismo de base na Argentina pode ter tanta repercussão num evento acadêmico no Brasil, Shimenny respondeu o seguinte:

“O interesse acerca do tema surgiu em primeiro lugar, pela atualidade do tema, como foi bastante destacado em todas as considerações. Segundo e principalmente, é inegável a relevância política, em um contexto de fim de ciclo desses governos “pós-neoliberais” o que os presentes compararam muito com o Brasil, com o fato de a direita estrar avançando na América Latina com a eleição de Macri na Argentina e com o golpe institucional no Brasil que colocou Temer como presidente interino. Isso nos permitiu expor a posição política do MRT de haver sido contra o golpe, delimitando-se politicamente de forma clara tanto da oposição de direita a Dilma como das diferentes variantes governistas que não organizaram nenhuma luta séria contra o golpe nem agora, que como Lula, o PT e a CUT que pretendem ser uma ‘oposição responsável’ só preocupados com as eleições de 2018 e a candidatura de Lula.

O sindicalismo classista e o movimento de fábricas recuperadas geraram muitos questionamentos, pois é algo quase inexistente aqui no país, onde muitos dos presentes aproveitaram para criticar a CUT e outras entidades sindicais por se alinharem aos governos e não representar de fato as demandas dos trabalhadores, contra os ajustes e as demissões, entre outras. Na ocasião debatemos sobre os desafios para os sindicatos de base nesse novo contexto, onde é urgente aprofundar nossa intervenção na luta de classes. Em relação as fábricas recuperadas que estão sobre auto-gestão operária, geraram curiosidade em relação ao processo de recuperação e como funcionam.

Enfim, considero que foi um momento muito proveitoso e serviu para inserir esse debate, assim como as posições de Esquerda Diário e do MRT em um novo espaço”.

 
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