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O ESTADO ESPANHOL AUMENTA SEU INGERENCISMO
A ingerência imperialista e a política de Maduro
Milton D’León
Caracas

A arcaica burguesia espanhola, por meio de seus partidos e do governo oficial de Mariano Rajoy, aumentou sua ingerência imperialista no país. Nesta sexta-feira (27), o impresentável Rajoy chegou ao extremo de convocar o Conselho de Segurança Nacional para por como principal ponto da ordem do dia a situação do país, sob a quimera de “preocupação” pelos espanhóis residentes na Venezuela, um teatro no estilo cínico e arrogante dos velhos colonialismos europeus quando querem justificar o envio de paraquedistas para intervir em algum país africano, por exemplo.

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Fotografia: EFE

Isto acontece nos marcos de que o Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) está dizendo que iniciará na semana que vem os trâmites para suspender o pertencimento da Venezuela a este organismo, buscando aplicar a “Carta Democrática” que prevê, em caso de aplicada, a intervenção no país. Assim como o Mercosur também se prepara para apoiar a direita local, quando na quinta-feira, a pedido do Paraguai, “solicitou” uma reunião para “discutir” a Venezuela, sendo que nesta sexta-feira a Argentina já se pronunciou a favor, e não é de duvidar que Temer do Brasil apoie a iniciativa.
Até o final da tarde também, o G7 fazia sua parte na ingerência imperialista ao emitir um comunicado desde o Japão, onde se encontram reunidos, onde chamavam o governo de Maduro a "respeitar os direitos fundamentais, os processos democráticos, as liberdades e o império da lei", com um claro cinismo pois os presidentes destes países são claros violadores dos direitos humanos e não se importam nem um pouco com o chamado “império da lei” nas suas intervenções militares. Estamos falando de países como Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e a União Europeia.

As diversas variantes do intervencionismo no país

A “comunidade internacional”, ou seja, o imperialismo e seus agentes mais próximos, acentuam a pressão contra o governo de Maduro, para obrigá-lo a renunciar à pretensão de impedir ou postergar o referendo revogatório. Este descarado intervencionismo tem duas variantes: uma, que parece ser a linha compartilhada por Obama e pelo Papa, busca um compromisso ou pacto, para abrir passagem a uma “transição”, para a qual um canal político apropriado seria o referendo, o que depende de um acordo entre a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), setores conciliadores do chavismo e a ala mais negociadora da direita pró-imperialista, representada basicamente por Capriles Radonski, que é, dentro da MUD, o que impulsiona com mais ênfase a linha do referendo.
Maduro, obviamente, se opõe no momento a habilitar o referendo, já que significa renunciar a sua própria continuidade no poder, sacrifício que por agora não entra em seus planos: responde com o endurecimento do caráter bonapartista de seu governo, incluindo o “estado de exceção”, e busca uma forma de negar a habilitação do referendo ou ao menos alargar seus tempos o máximo possível.
A outra linha imperialista, à qual o imperialismo espanhol se prende com tanto entusiasmo, considera que é pouco provável que o referendo seja a melhor forma de “Maduro sair” e opta por maior pressão desde fora, buscando encobrir-se com a demagogia democratista de que “a Venezuela é uma ditadura” para justificar um cerco diplomático e sanções maiores do que Washington já impôs (por agora de pouca amplitude e de valor mais político). São acompanhados nesta linha dura por setores dos “falcões” republicanos nos Estados Unidos, assim como pela direita colombiana e continental; e dentro da oposição venezuelana, seriam setores como os de Leopoldo López e Ramos Allup os que preferem um endurecimento contra o governo.
Ambas variantes se complementam, porque no fim das contas “Maduro sair” exige um acordo com o pilar fundamental do regime de domínio político do chavismo, as FANB, e se bem entre a oficialidade há debates internos, prima o “bolivarianismo” dos altos mandos, forjados sob Chávez. Uma maior ingerência internacional poria limite à reafirmação bonapartista de Maduro e a um eventual “autogolpe”. Mas poderia tanto ajudar a abrir uma cunha entre as distintas alas do chavismo, facilitando uma negociação, como a bloquear esta possibilidade frente à ameaça intervencionista.
Que o embandeirado da intervenção “democrática” seja o imperialismo espanhol que apadrinhou Carmona [presidente golpista da Venezuela durante 2 dias – N.doT.] no golpe de abril de 2002, pode fazer ressurgir sentimentos anti-imperialistas entre o povo; e no fim das contas, é o discurso sob o qual Maduro se esconde quando justifica o “estado de exceção” e as manobras militares com a ameaça externa. Precisamente o risco de polarizar demais é uma advertência que Capriles faz a seus aliados na MUD. Entre outras coisas, porque está latente o temor de “explosões sociais”, dada a enorme tensão social e política em meio à brutal crise econômica.

A direita espanhola pede intervenção aberta na Venezuela

Poucos dias atrás, o direitista e fiel herdeiro de Franco, Albert Rivera, do partido Ciudadanos, com a permissão do também franquista Rajoy, esteve em Caracas para apoiar abertamente a direita do país e seus planos destituintes. A onda intervencionista da burguesia espanhola chegou ao extremo de que o tema “Venezuela” é ponto central de quase toda a imprensa deste país e de seus principais políticos, focados em dar apoio ao desenrolar dos planos da direita latino-americana.
Outro grande defensor da “democracia e da liberdade” que esteve há poucos meses na Venezuela foi o “socialista” Felipe González, que contou com o aval do governo espanhol para representar a política imperialista de “cercar” o governo de Maduro e pressionar para uma saída conservadora e pela direita frente à crise. Uma cruzada compartilhada por ninguém menos que um outro ex-presidente espanhol, o conservador José María Aznar. O currículo destes “campeões da democracia” fala por si só. Aznar foi o responsável pela participação espanhola na guerra do Iraque junto a Bush, e é o líder da ala “neocon” do PP, um partido fundado por franquistas. González foi o artífice dos “GAL”, grupos de paramilitares formados para reprimir a esquerda basca durante seu governo.
A reunião do Conselho de Segurança Nacional do Estado Espanhol acontece imediatamente depois da viagem de Albert Rivera à Venezuela. Para que se tenha uma ideia do significado da convocatória deste organismo, a última reunião do Conselho Nacional de Segurança aconteceu em novembro de 2015 para tratar nada mais e nada menos que “da ameaça terrorista na Espanha”.
Rajoy fala que apela ao Conselho de Segurança Nacional “pelos espanhóis residentes na Venezuela”. Quem pode acreditar em semelhante argumento se se trata de um governo que atualmente mantém 28,6% de sua população em risco de pobreza e exclusão social, segundo a pesquisa de condições de vida publicada pelo INE do Estado Espanhol, onde o desemprego chega a 21%, e só na metade do mandato de Rajoy foram registrados 1.017.800 empregos destruídos? Não, o verdadeiro objetivo do governo espanhol, além de servir de política de distração para seus assuntos internos e o uso da crise do país para objetivos políticos internos específicos, é realmente dar apoio a uma direita que quer aplicar no país planos reacionários e pró-imperialistas.

Mas Maduro aposta no diálogo que os EUA apoiam e que Zapatero e a UNASUR desejam

Frente a todo este ingerencismo que vem do outro lado do atlântico, Maduro tem buscado fazer um barulho estrondoso mas que não passa de palavras, e para além da falação grandiloquente, aposta na mediação dos ex-presidentes Rodríguez Zapatero do Estado Espanhol, Leonel Fernández da República Dominicana e Martín Torrijos do Panamá. Mas se trata de uma mediação na qual os Estados Unidos também apostam, buscando colocar suas fichas onde pode para assegurar seus interesses. Por isto, nesta mesma sexta-feira vazou que John Kerry telefonou ao ex-presidente do Governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero para “respaldar seus esforços por facilitar um diálogo entre o Governo da Venezuela e a oposição venezuelana”, e que os EUA “estão prontos para ajudar no que o Sr. Zapatero e as partes considerem útil”.
Lembre-se que Zapatero e os outros dois ex-presidentes latino-americanos se reuniram na semana passada primeiro com Maduro e depois com o presidente da Assembleia Nacional, o direitista Henry Ramos Allup; o chefe do grupo opositor de deputados, Julio Borges, e o ex-candidato presidencial Henrique Capriles, entre outros dirigentes da plataforma da MUD. Encontro pelo qual Maduro se sentiu satisfeito, e não foi casualidade que depois de seguidas reuniões, tanto desde o governo como desde a oposição mostraram “seu interesse em abrir um novo período de diálogo nacional".

Rechaço frontal e sem concessões a toda ingerência imperialista

Recentemente Maduro decretou um Estado de exceção. Frente ao mesmo afirmamos categoricamente que este Decreto busca fortalecer os aspectos mais bonapartistas e autoritários do governo, algo oposto aos interesses dos trabalhadores e do povo, e assim o denunciamos.
Maduro pede mais poder para que “o governo se defenda e defenda o país”, mas a rigor, busca “poder” para conciliar com o imperialismo aplicando uma política de ajustes e concessões à burguesia e ao imperialismo, que se expressa no “sinceramento” gradual de preços recentemente anunciado, na entrega ao capital estrangeiro daFranja Mineira de Orinoco, no arremate das reservas de ouro nacionais para pagar rigorosamente a dívida externa, na militarização dos bairros populares com o argumento da “insegurança”e o temor das explosões sociais, na criminalização das lutas operárias e populares, etc.
Este curso não é o que permite defender a soberania nacional nem frear o avanço da direita. Ao contrário, os trabalhadores precisam das mais amplas liberdades democráticas, de organização e mobilização, para derrotar todo avanço reacionário, venha de onde vier, e defender seus interesses, algo que o governo já vem limitando.
A oposição de direita, organizada na MUD, que se envolve na demagogia democrática, representa o mais arcaico da burguesia nacional, que com sua carapaça “democrática” não deixa de representar os que governaram décadas impondo escancaradamente a vontade das minoritárias classes proprietárias do país, além de garantir a espoliação do país por parte dos capitais imperialistas. É uma fração da classe dominante com um caráter antinacional marcado, que não se propõe sequer a resistir à dominação das potências imperialistas sobre o país, senão que ao contrário, se propõe a facilitá-la.
Deve haver absoluta clareza na esquerda: o rechaço frontal e sem concessões a toda ingerência imperialista e de seus agentes no país é inseparável da denúncia do curso bonapartista de Maduro, tanto como o rechaço a este curso é inseparável de delimitar-se categoricamente do campo da direita e do imperialismo, com sua demagogia “democrática”.
Insistimos uma vez mais: para os trabalhadores é de primeira importância ligar a luta contra a ingerência imperialista à luta por suas demandas fundamentais e um plano de emergência operária e popular de saída à crise, em uma clara aliança dos distintos setores operários e populares da cidade e do campo. Para isso é fundamental a total independência política e de classe, por isso uma vez mais insistimos, contra o “estado de exceção”, e também contra a direita reacionária, são os trabalhadores e o povo pobre os que podem abrir o caminho a uma saída progressiva para a crise nacional.

Tradução: Francisco Marques

 
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