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BARCELONA - IMIGRAÇÃO
A política migratória europeia mata
Cynthia Lub
Barcelona | @LubCynthia
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Fotografia: Cynthia Lub

Em frente ao governo catalão, o Palau da Generalitat [Palácio do Governo, nota do tradutor], um grande cartaz que mostrava um fragmento da lista de vítimas da política migratória Europeia em volta dos manifestantes:
N.N. Trabalhador sem documentação saltou do edifício procurando evitar a detenção policial em Salônica (Grécia), 03-07-2006; N.N. Desidratação e hipotermia, encontrava-se em um barco que desembarcou em Gran Canaria (Espanha), 29-06-2006; N.N. Caiu passando de uma varanda a outra procurando evitar o controle da polícia de Genebra (Suíça), 22-07-2006. N.N. Afogadas, os guardas de fronteira de Marrocos estouraram com uma faca o bote de borracha em que viajavam (Marrocos), 17-01-2007; N.N. Mulheres grávidas morreram desidratadas durante a viagem da Líbia à Itália, 23-07-2006.

Entre as organizações convocantes estavam Fechemos os CIEs [Centros de Internamento de Estrangeiros, nota do tradutor], SOS Racismo, O Espaço do Imigrante e representantes de diferentes comunidades de imigrantes como da Síria, Palestina, comunidades africanas e da América Latina, que puderam falar com um "microfone aberto" junto a todos os manifestantes.

"Temos que resgatar a memória histórica. A Europa saqueou a África. Os políticos estão construindo muros, levantando cercas. Na África saquearam a saúde e ainda assim seguem nos saqueando. Já basta de hipocrisia, basta de mortes de imigrantes, de estrangeiros. Quando necessitavam de mão-de-obra barata, bem que iam em busca deles. Esta morte é um luto humanitário. Isto tem que parar, Basta!", disse Fatou, presidenta africana da Associação EQUIS (Equipe de Sensibilização da Mutilação Genital Feminina).

Ibrahima Seydi, também denunciou que os governos europeus "Estão matando a juventude africana nas cercas, essa juventude do futuro da África, porque isto é um massacre", disse o jovem africano, escultor, ativista e membro de O Espaço do Imigrante.

Outras das vozes comoventes foi a de Abir, uma mulher pertencente à comunidade da Síria, "Aqueles que pensam que as pessoas que fazem sacrifícios para ir para a Europa vão buscar um futuro melhor, não é assim. Estas pessoas escapam da morte para outra morte, como na Síria". E denunciando a discriminação aos imigrantes disse com lágrimas nos olhos, "Imaginem se este barco que levava 700 pessoas fosse um cruzeiro de luxo; quantas pessoas estariam aqui?. Até na morte não nos tratam iguais, nem na vida nem na morte".

Um jovem palestino refugiado denunciou que "Os responsáveis são os políticos, a polícia e os militares, que por meio do Regime de Schengen criaram o requisito imperativo e sua consequente caça organizada a refugiados e imigrantes sem passaportes. Durante os últimos dez anos e no início da Primavera Árabe transformaram o mar entre a Líbia e a Itália em uma zona de alta segurança marinha."

"Cada dia morrem cem mil pessoas por fome, a metade são crianças. A fome é a causa da imigração.", denunciou um jovem imigrante.

Por sua vez, Aurea, uma das porta-vozes de “Fechemos os CIEs” da Catalunha, denunciava que "o ocorrido no Mediterrâneo neste fim de semana foi muito grave, mas isto é constante. No começo da semana passada estávamos perto dos 1000 mortos em 2015 e agora está passando de 2000". Esta organização, dedicada intensamente a denunciar e exigir o fechamento dos CIEs, nos contam que há capacidade para prender 400 pessoas nestes centros, e que existe uma rotação de 200 pessoas imigrantes que são expulsas a cada momento.
María José, do mesmo coletivo, explicou que "Há muita opacidade sobre os dados. Sobretudo o centro de Barcelona, é muito opaco, pouco a pouco, depois de uma série de denúncias e manifestações nas ruas, estamos conseguindo pequenas vitórias. Mas é tudo tão opaco que o prefeito de Barcelona, Xavier Trias, chegou a dizer que ‘não sabia que existia este centro’, e me indignou muito".

Aurea e María José, nos explicam com entusiasmo sua incansável tarefa em sua luta pelos direitos das pessoas imigrantes, fazendo mais de duas rodas de conversa por semana em centros sociais para explicar à juventude e nos bairros a situação dos imigrantes, é "uma luta pela liberdade", dizem.
"Queremos lembrar que no dia 20 de junho estamos convocando uma manifestação, já que no dia 15 de junho é o dia contra os CIEs. Gostaríamos que todos os setores sociais e todos os movimentos sociais fossem e participassem deste protesto", conclui Aurea.

O coletivo Fechemos os CIEs leu seu Manifesto pelo Fim do Genocídio Migratório no Mediterrâneo, no qual acusava como maior responsável a Agência Frontex, dizendo que "A Agência entende a tentativa de acesso das pessoas como um “risco” (literalmente) de violação das Fronteiras. Dedica-se milhões de euros a custear tecnologia militar de vigilância(...) Lembramos que a Agência Frontex passou de ter um orçamento anual de 5 milhões de euros em sua origem (2004) a mais de 80 milhões por ano em 2015".

Por sua vez, SOS Racismo Catalunha condenou o que consideram um "genocídio migratório que se vive no Mediterrâneo e pelo qual é responsável a União Europeia" e denunciou que "Uma vez mais se põe em evidência a violação sistemática do direito a migrar e o direito à mobilidade, reconhecidos ambos à nível internacional".

Estefanía, de O Espaço do Imigrante, um coletivo que se estrutura em grupos de trabalho que se propõem a ajudar os imigrantes em situação de exclusão de diferentes tipos a terem acesso a seus direitos, nos explicava o caráter da convocatória desta quarta-feira: "para reconhecer e que não caia no esquecimento o recente naufrágio do Mediterrâneo."

Dezenas de cartazes denunciavam centralmente a política migratória europeia com dizeres como "Outro genocídio migratório do terrorismo europeu", "Não às devoluções ilegais. Não à criminalização do migrante", "Sobreviver não é um delito", "Frontex não resgata. Frontex localiza".

 
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