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CRISE NA VENEZUELA
Venezuela: O que está acontecendo nos quarteis?
Milton D’León
Caracas

Os militares são a sustentação de Maduro diante da profunda crise econômica e política que se vive. Oficialistas e opositores apuram uma definição das FFAA que pode decidir a sorte do governo.

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Os militares tem estado no centro do tapete político do país, mais que tudo por causa da profunda crise econômica, social e política que se vive. Considera-se que constitui um do pilares fundamentais de sustentação do governo de Maduro, ainda mais quando o chavismo perdeu as eleições parlamentares nas quais a oposição conquistou a maioria absoluta na Assembleia Nacional, e sobre tudo com a disputa aberta dos poderes existentes no país. No sábado passado, buscando mostrar controle completo sobre as Forças Armadas, Maduro esteve ativamente presente em exercícios militares a nível nacional, exercícios organizado com o argumento de possíveis ameaças externas ao país.

Os militares sempre ocuparam um papel central no chavismo, adquirindo altos níveis de politização e envolvimento na vida pública, política e econômica do país. Isto foi uma marca selo do chavismo, pela característica do governo Chávez por possuir fortes traços bonapartistas sui generis de esquerda, e o mesmo ser oriundo do mundo militar.

Mas depois do falecimento de Chávez e o surgimento de um debilitado governo de Maduro, que rapidamente entrou em uma espiral de crises econômica e política e uma agoniante situação para o povo, casado com uma oposição de direita que decidiu acelerar os passos em seus planos destituintes, parece haver movimentos e pressões desde diversos setores e do interior mesmo dos militares para que, agora, o papel de árbitro seja interpretado mais abertamente pelas Forças Armadas.

Desde ai, na atual situação política do país, marcada pela disputa em torno da habilitação de um referendo revogatório, pareceram transforma-se no fiel da balança de qualquer tipo de saída política que se de no país. Se Maduro redobra suas apelações a unidade e a lealdade às FANB, a MUD também multiplica seus chamados aos militares, como tem feito Capriles, em recentes declarações.

É que para um regime de governo como do chavismo, onde as Forças Armadas tem tido ao logo de mais de uma década e meia o papel chave na vida política do país, além de uma importante incursão nas atividades econômicas e comerciais , desenvolvendo interesses materiais e benefícios “do modelo”, as FFAA vêm a ser uma variante fundamental na hora de qualquer transição, e mais ainda de uma situação tão caótica.

O peso das Forças Armadas

Adentrar-se no mundo militar é de alta complexidade pelos níveis fechados, sobre tudo em suas eventuais divisões, mas há muitos dados relevantes de acesso público que nos oferecem um panorama da forte presença militar no governo assim como sua trama de influência. Não é nenhum segredo para ninguém que com Maduro a presença dos militares sobre o executivo alcançou sua porcentagem mais elevada na história do chavismo.

Por exemplo, entre trinta ministros, atualmente dez são integrantes das Forças Armadas Nacional Bolivariana (FANB): seis ativos e quatro reiterados, ocupando os cargos de maior impacto, nos que tem mais preponderância em termos qualitativos. Manejam algumas das pastas de maior relevância como Relações Interiores, Justiça e Paz, com o general Gustavo Gonzáles López; Defesa, com o general Vladmir Padrino López, Energia Elétrica com o general Luis Motta Domínguez. Além de ocupar posições ministeriais, oficiais da FANB também dirigem empresas públicas, vice-ministros, outras instituições tipicamente civis, e estão na frente de vários governos.

Mas as Forças Armadas tem um grande peso no setor empresarial do Estado, que se incrementou com a chegada de Maduro ao governo. Assim, por exemplo, em 19 de abril de 2013, seis dias depois de assumir a presidência, Maduro apontou desde a base aérea Rafael Urdaneta em Maracaibo a instauração de uma “poderosa” zona econômica militar com o fim de “satisfazer a demanda da FANB”. Três meses depois, em 9 de julho desse ano, Maduro Formalizou a Zona Econômica Militar Socialista com a abertura das primeiras seis empresas diferentes setores, desde transporte, agricultura e comunicações até finanças, bebidas e construção.

Assim, desde julho de 2013 até fevereiro de 2016, o Ministério de Defesa criou 11 empresas para o “desenvolvimento econômico da FANB” que abarcam os setores econômicos que antes detalhamos. A mais recente empresa que se incorpora a zona econômica militar é a Camimpeg, que tem uma ampla gama de atribuições desde serviços petróleo de gás e exploração mineral, mantimentos de poços de petróleo, reparação de brocas, importação de produtos e equipamentos, transporte, obras civis, descontaminação ambiental, entre outros. Para janeiro de 2016, três semanas antes da criação de Camimpeg, o ministro Vladimir Padrino Lópes chamou a impulsionar o Motor de Industria Militar para “contribuir com o desenvolvimento nacional”, um dos tantos motores da nova Agenda Econômica Bolivariana.

Como escrevemos no momento da criação de Camimpeg, a criação desta empresa envergonha as grandes concessões políticas de Chávez desde a FANB (aumento vertiginoso de gasto com armamento, criação de escolas e universidades militares, maior presença nas decisões políticas, altos salários para oficiais, oferendas de todo o tipo, etc.), e a maior de todas que talvez foi a consolidação das FFAA depois de derrotado o golpe de 2002, que foi depurada e cujo prestigio foi recomposto.

Hoje Maduro busca manter essa influência, que por sua ascendência e por sua origem militar pôde ter Chávez, mas ao não ter Maduro as faculdades que este tinha, deve conceder-lês grandes negociatas para seu enriquecimento e influência. É que o futuro do chavismo no atual governo, cm a oposição cada vez mais propício por destitui-lo, depende fundamentalmente do comportamento das FFAA, e busca garantir-se de mil maneiras da fidelidade do estacamento militar.

A tudo isso se resume os últimos movimentos que tem tido Maduro, das mãos do Ministro da Defesa, até o interior do mundo marcial, mas sobre tudo tentavam apontar maior controle, com os militares de maior confiança nas zonas de maior concentração de armamento. Desde o ponto de vista estritamente militar, Venezuela é dividida em 24 Zonas de Defesa Integral (REDI).

Pois bem, o governo acaba de mobilizar certas peças chaves, sendo recentemente designado o general de Brigada (Exército) Carlos Alberto Martínez Stapulionis como chefe a Zona de Defesa Integral da Capital, desde onde se controla as armas na capital da República. Mastínez Stapulionis esteve a frente do estado de exceção e o fechamento de fronteira como autoridade única em Táchira entre agosto de 2015 a maio de 2016. Outra grande peça chave para Maduro, é o maior general Carlos Osorio Zambrano, até há pouco tempo Ministro de Alimentação, e desde há vários meses o novo comandante da Região Estratégica de Desfesa Integral da região central, a zona com o maior armamento na Venezuela, que compreende o controle militar de Aragua (com base aérea Libertador), Caraboo (com a Brigada Blindada), Miranda e Distrito Capital (em Fuerte Tiuna, Palacio Bçanco e ZODI-Caracas).

A estes movimentos para assegurar-se o controle das FANB, a direita contestou com apelações e até vídeos dirigidos aos oficiais, chamando-os a apoiar a viabilização de um referendo.

Dissensos militares? Cenários imprevisíveis

Sobre as possíveis divisões dentro das Forças Armadas está cheio de rumores, de igual maneira sobre as que seguramente existem no próprio governo Maduro, inclusive entre os mais comentados, que militares estão sob influência maior de Diosadado Cabello ou de Maduro. Pode-se chegar a muitíssimas especulações um escrito ao não contar com informações mais precisas, e que por movimentos políticos pode elucidar. Mas que há movimentos no interior das Forças armadas, isso não se pode negar.

É que, ao ver-se obrigadas a resolver a atual crise política e tomar posição, as contradições que recorrem a política nacional podem também colocar-se com mais força, abrindo uma maior deliberação interna. Potencialmente, uma ala mais próxima a Maduro, outros setores que estariam atrás de Disodado Cabello; outra ala mais “bolivariana mas não madurista”, e possivelmente, entre oficiais de média e baixa patente que não formam parte das camadas que moldadas com Chávez e que ocupam hoje os altos mandos, haja setores que simpatizam com a oposição.

Se no momento não há expressões públicas, se subentende por estrita ordem fechada, comando e disciplina que existe em qualquer unidade militar, o que sim há são militares que até não faz muito tempo ocupavam cargos ministeriais, e vêm saído a luz pública com vocês dissonantes. Difícil crer que estes militares haveria gerado estas opiniões uma vez fora do cargo, se não com certeza já as mantinham quando estavam em funções e por tanto expressam vozes o movimento subterrâneo dentro da FANB.

Como escrevemo em um recente artigo, o caso mais notório destas vozes em discenso é a de Mayor General ( R ) Clíver Alcalá Cordones, ex chefe de uma das Regiões Estratégicas de Defesa (Redi) do sudeste do país, e que reassumiu pouco depois da morte de Chaavéz. Não faz poucos dias, em 17 de março, expressava seu descontentamento contra o Doverno de Maduro afirmando que “O que víamos em 4 de fevereiro (1992) é o que estamos vendo neste momento”, referindo-se a data que levou Chávez a dirigir uma tentativa de golpe de Estado.

Estas declarações somam as que fez a pouco tempo o também Mayor General do Exército em retiro Miguel Eduardo Rodríguez Torres, e que foi Ministro do Interior até outubro de 2014, sustentando que “Há que entender que o comandante Chávez não está e que tem que ter mudanças”. Estes militares têm o elemento comum que, utilizando a linguagem do “legado de Chávez”, e estão fazendo manifestações e discussões que podem estar havendo entre os oficiais.

Mas o papel que pode vir a jogar as Forças Armadas ainda está em aberto, tanto para exercer seu peso por uma transição mais acelerada no país, como para vir a exercer um papel que pode abrir senários de maior convulsão política. Não há quem fale de autogolpe, ou inclusive de forçar a saída de Maduro, inclusive não pode descarta-se um “pronunciamento” na tradição dos exércitos latino-americanos: isto é que sem tomar diretamente o poder, emitam uma posição institucional que condicione a resolução de referendo em determinado prazo. Mas o que sim é seguro é que atual situação é que os tempos políticos se aceleram onde o papel das Forças Armadas não constituem um simples catalizador.

E o que é certo também, é que, contra o que esperam alguns comentaristas, uma intervenção maior das FANB no terreno político, e inclusive um “pronunciamento militar”, cumprir o “legado de Chávez para avançar até o socialismo do século XXI”, nem nenhuma ponta ilusão de que sirva para causa operária e popular. Pelo contrário, como mostra o caráter mais repressivo que tem a ingerência militar nas zonas populares, ou em prevenção de estouros sociais (como os que insinuaram os saques localizados), o desenvolvimento militar para “manter a ordem” irá principalmente dirigir-se, cedo ou tarde, contra os trabalhadores e o povo, sua liberdade de mobilizar e intervir na crise.

Esta é uma das razões para rechaçar o “estado de exceção” e alertar o povo trabalhador sobre o perigo que representa o crescente papel dos militares, seja apoiando a Maduro, seja apoiando uma “transição” pactuada com a direita, com o imperialismo e o Papa por detrás.

 
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