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CHILE
Falso acordo com o Governo: Onde está a força da luta?
Nicolás Miranda

O Governo chileno demonstrou sua força ao assinar alguns acordos. Em uma verdadeira demonstração de força, os pescadores se mantêm firme na luta. Ainda não há a imposição de uma força sobre a outra, abrindo uma fase de impasse. Como romper esse impasse? Onde está a força de mobilização?

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O gesto de força do Governo

Incapaz de medir a relação de forças e de assumir o caráter da mobilização, como uma revolta, o Governo chileno teve uma série de atitudes infundadas que, para além das aparências demonstram sua debilidade.

No sábado (14/05), a presidente chilena, Michelle Bachelet, atendeu a uma das demandas, nomeando um delegado presidencial, com uma conduta que mais pareceu uma piada: escolheu como “coordenador” o próprio ministro da Economia, Luis Felipe Céspedes, o mesmo que os pescadores pretendiam substituir na figura de um coordenador. Mas no final, o ministro acabou sendo designado para o cargo.

Dessa forma irônica, o governo pretendia acalmar os ânimos. Mas o que aconteceu foi o contrário. O delegado nomeado fez um chamado para terminar com os bloqueios. No final do dia fez um anúncio sensacionalista, deixando parecer que a revolta se aproximava do fim com o triunfo do Governo.

Anunciou a assinatura de um acordo com seis localidades: Castro, Dalcahue, Puqueldón, Quinchao, Queilén e Curaco de Vélez. O acordo tinha o compromisso de diminuir as mobilizações. Pouco depois, reiterou que conseguira um acordo parcial com o ponto estratégico do município de Maullín, que controla a entrada da ilha de Chiloé, na região dos lagos, ao sul do país.

Ao fato, se somou a decisão chantagista das indústrias de salmão de despedir os trabalhadores e, dessa maneira, tentar jogá-los contra os pescadores artesanais, responsabilizando os bloqueios pela impossibilidade de garantir a produção.

A estratégia de dividir parecia render frutos. Luis Céspedes se mostrou confiante: “o núcleo central do arquipélago está sendo normalizado”. Mas, deparou-se com alguns imprevistos.

A verdadeira demonstração de força dos pescadores artesanais.

Um desses imprevistos foi que o Governo caiu em sua própria armadilha: as negociações se deram com os sindicatos e organizações, e não com as comunas (equivalente aos municípios) mobilizadas, deixando de fora os mais afetados pela crise. No caso da comuna de Maullín, por exemplo, o prefeito explicou que o Governo fez um acordo com a Federação de Pescadores bentônicos (pescadores de seres de águas mais profundas), deixando de fora os pescadores que não possuem registro (conhecidos como recolectores de orilla) e também os desconchadores (profissional que limpa os frutos do mar e os vendem para as pessoas ou estabelecimentos). Esse é um problema geral nessa área: assinaram o acordo aqueles que pescam os peixes, representantes do setor pesqueiro demersal (chamados merluceros) – especializado na pesca de peixes do leito de oceanos e rios - e pelágico (chamados sardineros) de Dalcahue, ou os feirantes de Castro; o que não incluía os mergulhares que capturam mariscos ou os recolectores de orilla.

O segundo imprevisto é que: não é só um problema entre setores dentro da pesca artesanal, mas sim, também, entre os dirigentes e as bases. O acordo assinado pelos dirigentes em nome de Maullín foi rechaçado pelas bases.

O terceiro é: que as comunas que conduzem a revolta decidiram por se manterem mobilizadas: Quelien, Chonchi, Quemchi, Ancud e Quellón. Além de Cabulco no continente. As pontes de Chacao e o acesso a cidade de Pudeto permanecem com barricadas.

Desde o município de Ancud afirmam que “não podemos nos conformar com uma migalha”, e reforçou a continuidade de suas mobilizações: uma marcha de 1000 mulheres anunciada no domingo para o dia 21 de Maio, quando marcharão até a cidade-porto de Valparaíso. Denunciam que o bônus oferecido é uma migalha que e que abarca apenas 12% dos afetados; e que não há planos para o futuro, fazendo alusão a contaminação do mar provocada pelas “salmoneras” (criação de salmão em viveiro).

O bônus final oferecido pelo Governo é de $900 mil pesos chilenos - aprox. R$4.500 – dividido em uma cota de $400 mil (aprox. R$2.000) e outras duas de $250 mil (aprox. R$1.300). Os pescadores de Ancud pedem um bônus de término de conflito de $300 mil (aprox. R$1.500) e mais cinco bônus mensais pela mesma quantidade e sem outros requisitos.

Na segunda-feira (16/05), essa demonstração de forças dos pescadores seria reforçada. Houve uma reunião a portas fechadas entre as comunas. Ao fim da reunião, reafirmaram que continuarão em luta. A comuna de Maullín se juntou a luta, desfazendo o acordo prévio.

Além disso, em Cadem, uma pesquisa revelou que 76% apóiam as mobilizações dos pescadores.

Por sua vez, a CUT de Osorno fez um chamado aos funcionários pela solidariedade.

Não somente isso. Decidiram continuar controlando a área: “o Governo falta com a verdade, ao atribuir à coordenação de entrega de combustível, pois fomos nós que, em conversas com as bases mobilizadas, concordamos em deixar que alguns caminhões entrassem na ilha para supri-la de elementos básicos como o gás, a benzina, a farinha e outros produtos”, declararam os dirigentes.

Onde está a força da revolta?

A força imediata da revolta está explicitada nesse controle da área, com barricadas que cortam as estradas e rotas, determinando quem pode ou não circular, forçando o Governo a atender as demandas impostas com métodos de luta de classes, despertando a solidariedade nacional com suas marchas, onde voltam a destacar-se uma juventude combativa, a pesca nas áreas de viveiros nas comunas e as paralisações de trabalhadores em solidariedade. Mas também estão ai os seus limites.

Há dois pontos principais. Um é que as petições são limitadas às demandas dos pescadores artesanais. Deixando de fora todo o resto dos afetados pela crise, de forma direta ou indireta: os trabalhadores da indústria de salmão, os trabalhadores públicos e professores; os pequenos comerciantes, as famílias de todos esses trabalhadores que possuem muitos filhos estudando em outras Regiões (estados) do Chile.

Segundo ponto é que as barricadas são um elemento de luta que permite colocar em questão imediata quem controla a área, em uma verdadeira demonstração de forças. Porém, as barricadas não configuram a revolta em si, pois estas são apenas um dos elementos. É necessária uma organização para impor as demandas ao Governo e aos empresários. Uma organização que garanta o controle das bases sobre os dirigentes, que assegure a unidade de todos os trabalhadores, pescadores e do povo de Chiloé e de toda a Região.

Uma Assembleia Operária e Popular, com delegados eleitos em cada barricada e em cada área, com dirigentes de cada sindicato e organização dos pescadores artesanais, e dos sindicatos de trabalhadores do salmão, o setor público e os professores.

Contudo, uma Assembleia Operária e Popular não será o suficiente. Precisamos de um partido revolucionário da classe trabalhadora, para que não se imponham “os sacerdotes que querem apagar o fogo com água benzida”, os profissionais das ONGs e os partidos empresariais. Para elaborar uma Petição única, que inclua entre outros pontos, a luta pelo controle dos trabalhadores da indústria de salmão, e dessa forma, colocá-la ao serviço das necessidades sociais e não do lucro dos empresários; e também para evitar as demissões em massa que já se iniciaram. Para lutar por essa perspectiva, como a que propomos em nosso Partido dos Trabalhadores Revolucionários (PTR).

Avançando por esse caminho, poderemos acabar com esse impasse, neste momento de indecisão, impondo a força da revolta contra a força do Governo.

Tradução do espanhol: Cassius Vinicius.

 
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