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O GOLPE E O RACISMO
Derrotar os racistas do golpe institucional é uma tarefa internacional dos revolucionários
Letícia Parks
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

Vimos em diversos discursos na sessão da câmara que aprovou o impeachment que aqueles que defenderam o "sim" se unificaram em diversas posições reacionárias sobre os rumos que deve tomar o país com a saída do PT da cena governamental.

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Os racistas se unificam em defesa do golpe

Discursos como o do cabo Dacciolo (atual PTdoB, ex PSOL), que defendeu os policiais militares e exigiu a melhoria das condições de "trabalho", ou seja, de repressão, mostram como parte do pacote de maldades contra os trabalhadores que vem com o golpe, está em disputa uma concepção de país onde os negros são ainda mais assassinados, aprisionados, torturados e precarizados.

Entretanto, a sessão do Congresso foi apenas a cereja do bolo de uma política reacionária que já se fazia valer com o fortalecimento judiciário no processo do Lava-Jato. A justiça burguesa que se viu glorificada pela imprensa burguesa (e por partidos de esquerda) por esse processo é a mesma que pratica atos de profundo racismo em todo o país, mantendo aprisionados cerca de 40% da população carcerária sem julgamento e garantindo que os policiais assassinos de Claudia Ferreira da Silva, Amarildo, Luana dos Santos, entre outros, sigam sem nenhum tipo de punição.

No dia de hoje o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, anunciou um aparente "apoio" ao golpe, mostrando que a cada dia se unificam em torno de Cunha, Temer, Bolsonaros, Daciolo e Maluf, mais alguns dos maiores representantes do racismo no país. Para além de sua tentativa de fechar mais de 100 escolas no ano passado - que em si já é um ataque contra a juventude negra - Alckmin declarou no início de 2015 que era a favor da redução da maioridade penal e de maior rigidez nas penas já aplicadas contra menores "infratores". Ficou conhecido também uma declaração que deu a estação Globo de rádio em que dizia que a polícia deveria atuar nas escolas prendendo os "potenciais" criminosos.

Os revolucionários se aliam internacionalmente em defesa dxs negrxs

Escrevo esta matéria da Argentina, onde o PTS, organização irmã do MRT, está convocando atos em todo o país contra o golpe em curso no Brasil. Essa posição, além de fundamental do ponto de vista da oposição à tentativa dos setores mais reacionários da burguesia de impor derrotas importantes aos trabalhadores, é também a única posição na esquerda que consegue construir uma luta internacional contra o avanço subjetivo do racismo e é uma marca do que deve ser uma posição revolucionária em um momento como esse.

Faz parte do DNA do trotskismo a luta contra o racismo. Há poucos meses lançamos o livro "A Revolução e o Negro" com traduções inéditas do inglês de textos de CLR James e George Breitman, revolucionários norte americanos que militaram no Socialist Workers Party e desenvolveram importantes reflexões e combates contra o racismo. São textos que falam da solidariedade sem fronteiras aos povos explorados na África, na Europa, na América Latina, falam também da necessidade de que se lute contra o capitalismo e cada uma de suas formas de governos burgueses para que se possa dar fim ao racismo.

É em nome desse DNA que levantamos um movimento internacional contra o golpe. Sabemos que se há fortalecimento de discursos racistas como os que vimos reviver o Congresso Brasileiro, existirá retrocessos políticos e sociais para o conjunto da classe trabalhadora, em especial para os negros que estão sempre entre os primeiros a serem atacados. Desde 2008, quando começou a crise capitalista que vivemos hoje, os negros ocuparam a posição de vanguarda em combate aos ataques. Vimos levantarem uma heróica greve na cidade de Marikhana, que foi duramente reprimida pelo Congresso Nacional Africano levando a quase 50 grevistas mortos. Vimos surgir o movimento contra a violência policial nos EUA, que ficou conhecido como "Black Lives Matter" (as vidas negras importam, em português) e também os estudantes sul africanos que conquistaram a efetivação dos terceirizados sem concurso público nas principais universidades do país.

No Brasil, nosso lugar é no ato contra o golpe

Infelizmente a posição que apresentamos de lutar contra o golpe por um princípio de defesa do direito ao voto e contra a direita latifundiária e racista brasileira, não é hegemônica na esquerda antigovernista. De um lado está o PSTU diz que o que vivemos hoje não é golpe, chamando a queda de Dilma e uma campanha de que saiam todos os políticos, que ainda que pareça de esquerda, acaba por não abrir um enfrentamento com a direita racista, tratando o impeachment como uma conquista dos trabalhadores e servindo como quinta roda da direita.

De outro lado estão posições como a do PSOL, que no início tratou a operação de investigação como legítima, saudando a justiça burguesa, e hoje se posiciona contra o golpe sem criticar os métodos do PT para se livrar do impeachment, que são métodos burgueses de negociação de cargos nos ministérios. Não falam uma palavra sobre os sindicatos que o PT dirige e não questionam a passividade que estes sindicatos impuseram a toda a classe operária enquanto o PT lançava ataques sobre nossas costas.

Por isso que chamamos todxs xs negrxs a participarem do ato convocado pelo PT, CUT, CTB e PSOL no Vale do Anhangabaú, não por termos acordo com os métodos burgueses do PT ou com a passividade imposta pela CUT à classe operária, mas porque ali estarão aqueles que reconhecem no golpe o avanço da direita e vem a necessidade de lutar contra ele ao passo que constrói um movimento de luta contra os ajustes, fundando um plano nacional de mobilização. Exigimos, por isso, que as centrais sindicais rompam seu imobilismo e subserviência ao governo e organizem assembleias de base nas escolas e locais de trabalho para garantir que a classe operária possa responder esse ataque à altura.

Barrar o golpe institucional e o avanço da direita racista no Brasil é também uma tarefa internacional. Impedir que a direita racista ganhe espaço é também uma conquista da classe trabalhadora argentina e do conjunto da América Latina, que vive hoje uma conjuntura de governos de ataques diretos aos trabalhadores. Este espírito internacionalista é o que move, inflama e guia a Fração Trotskista-Quarta Internacional. Valendo-se de seu importante peso na cena política nacional da Argentina, através de mandatos como o de Myriam Bergman na Camara dos Deputados e o peso político de Nicloas Del Caño, ex-candidato à Presidência da República pela Frente de Esquerda, o PTS está dando um enorme exemplo de internacionalismo operário, o que fortalece a luta contra os ataques racistas.

 
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