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SAÍDAS PARA A CRISE
O impeachment salvará a economia da crise?
Flávia Silva
Campinas @FFerreiraFlavia

Qual o conteúdo de classe escondido na retórica dos políticos burgueses e da patronal quando afirmam que a economia só sairá da crise com o impeachment de Dilma? Eles só não dizem que são, na verdade, os trabalhadores quem sempre pagam o pato.

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Ao longo de mais de 30 horas de sessão do Plenário da Câmara dos Deputados nesta sexta e sábado, o que se tem visto é também, um verdadeiro circo golpista e midiático pró-impeachment, repleto de discursos “acalorados” proclamando o “Impeachment Já” como a bandeira da defesa da ética, dos valores cristãos, e sobretudo, como grande resposta à crise, não só política, mas também econômica. Vejamos neste artigo um pouco do verdadeiro conteúdo de classe (contra os trabalhadores e os mais pobres) que se esconde por trás da retórica dos políticos burgueses e da patronal pró-impeachment quando afirmam, como Skaf:

“Com a retomada da confiança [leia-se: com o impeachment de Dilma e um governo Temer], a economia retomará o crescimento, e não demorará muito. É necessário que se dê um crédito para o presidente que assuma. (...) Não tinha como resolver a economia sem mudar o governo.” Paulo Skaf, presidente da FIESP ex-candidato a governador de SP pelo PMDB em entrevista ao Estadão neste sábado,16.

Reunião que criou a campanha "Impeachment Já" das patronais paulistas liderada pela FIESP de Skaf

Ou ainda, por trás de falas oportunistas que usam os números negativos da crise econômica para defender pautas reacionárias como o impeachment e as “reformas estruturais”, como a do presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e da Pecuária), uma das grandes entidades patronais que compõem o lobby do agronegócio e do latifúndio no Congresso, em almoço neste sábado, 16:

“A dura realidade é que o atual governo optou pelo caminho errado ao adotar medidas que afetaram a estabilidade da economia e provocaram o crescimento do desemprego (...) o fechamento de 100 mil estabelecimentos comerciais em todo país, gerando 10 milhões de desempregados e com o governo perdendo toda credibilidade junto à população e à comunidade financeira internacional (...). Mudar o país, reconstruir a economia, fazer as reformas estruturais, por exemplo, da previdência social e da legislação trabalhista, são tarefas complexas a serem executadas a partir da aprovação do impeachment”. Presidente da CNA), João Martins, para 70 deputados da bancada ruralista, no sábado, 16, em Brasília.

Foto de "almoço" entre empresários do agronegócio e a bancada ruralista da Câmara neste sábado, 16, em Brasília

Os últimos números que refletem a profundidade da deterioração da economia brasileira (aumento no desemprego, na inflação e uma expressiva queda no PIB, além de demissões em todos os setores, aumento de falências, e sobretudo, desvalorização nos salários e deterioração das condições de vida dos trabalhadores), que entra cada vez mais num quadro recessivo no qual, à burguesia e o capital internacional, só restam saídas cada vez mais duras de ajuste contra os trabalhadores.

Porém, é preciso lembrar, como já viemos desenvolvendo em análises no Esquerda Diário, que ao contrário do discurso patronal da FIESP e dos latifundiários do agronegócio exportador (grandes produtores de soja, suco de laranja e os pecuaristas) que responsabiliza de forma interessada apenas o governo Dilma pela profundidade da crise (para assim dizerem: “ sem Dilma, população, a crise terá fim e o crescimento vai voltar”), este discurso é falacioso, pois, a crise mundial é a razão de fundo para nossa recessão e ainda, esconde, as bases reais para esta suposta “volta do crescimento”: o aumento da exploração do trabalho e a deterioração das condições de vida dos trabalhadores com o aprofundamento dos cortes nos gastos na saúde, educação, programas e demais direitos sociais.

O ajuste fiscal recessivo como resposta de Dilma

A questão central é como, com o agravamento da crise (ao atingir mais fortemente os setores da indústria, serviços e exportadores nacionais), a resposta de Dilma e do PT foi (seguindo os demais governos do PT) não romper a linha mestra de política econômica neoliberal adotada no país desde os anos 1990, e adotou, um ajuste fiscal recessivo ( marcado por uma “meta” de controle de inflação com cortes de gastos e de crédito com aumento nos juros) a despeito do discurso nas eleições de 2014 (nas quais Dilma buscava se diferenciar da política econômica proposta pelo PSDB de Aécio, Armínio Fraga, e de Marina Silva). Desde então, o que vemos na política econômica de Dilma foram seguidos cortes na saúde, educação, direitos e programas sociais, além do aumento de tarifas.

Para os banqueiros e empresários é hora de “ir por mais” nos ajustes: com ou sem impeachment

Porém, todo este “ajustamento fiscal” não está sendo suficiente para atender aos interesses de lucros do capital estrangeiro e especulativo internacional liderado por grandes bancos e multinacionais, que tem bilhões de dólares injetados nos títulos da fraudulenta dívida pública do Brasil. Assim como, os interesses, de empresários como os do FIESP que estão sedentos por um “ajuste de produtividade” que rebaixamento dos salários e dos direitos dos trabalhadores, e ainda, da agroindústria e pecuária, que exige do governo políticas para favorecer as exportações e a garantia de que seus latifúndios serão bem protegidos pelo Estado e contra qualquer aspecto, de reforma agrária.

Deputado da bancada ruralista do PSDB do Mato Grosso do Sul, em discurso "inflamado" pelo impeachment, ao lado cartaz emblemático" O agro defende o SIM!"

Todos estes setores, liderados internamente pela FIESP (o FMI, por exemplo, não se pronunciou pelo impeachment, mas defende abertamente os “ajustes estruturais” para o país que estão na agenda de Temer), clamam por “estabilidade” na política para que se aprofunde a agenda dos ajustes estruturais (sintetizada também na chamada “Ponte para o Futuro” do PMDB) e assim, possam, em meio à crise, ter sua rentabilidade assegurada como um compromisso do governo. E isto se traduz na política econômica também fraudulenta do “superávit fiscal” a todo custo, que inclui: aumento nos juros, “controle” recessivo da inflação (para que títulos financeiros em reais não percam seu valor e não por uma preocupação com o custo de vida dos trabalhadores), cortes ainda mais drásticos nas despesas com direitos sociais como previdência social, funcionalismo, programas sociais, política de salário mínimo, saúde e educação, para todos estes cortes, é fundamental a aprovação das reformas que irão flexibilizar os direitos dos trabalhadores (mais terceirizações,“fim” da CLT, Acordo Coletivo Especial), mais privatizações e restrição de gastos públicos com a chamada “reforma fiscal”. Em resumo, o que está em jogo para estes setores, é qual a melhor política para que sejam os trabalhadores quem paguem o pato, e para a FIESP, os latifundiários, e outros setores patronais, isto passa necessariamente pelo impeachment, este é o verdadeiro recado que os seus parlamentares (financiados por estes capitalistas) estão reafirmando na tribuna da Câmara.

Mas, Dilma e Temer representam dois tipos ajustes

Como já viemos apontando em outros artigos ao longo das últimas semanas no Esquerda Diário, “ o PMDB de Temer, a oposição de direita, com apoio de diversas patronais, quer o impeachment para dar início a um outro ajuste: mais duro e mais rápido ou seja, para que os trabalhadores “paguem o pato mais rápido”, é o chamado “sacrifício” de que fala Temer.

Ou seja, há uma possibilidade de que o de Dilma, para inclusive, recompor seu pacto social (vide recente lançamento do Minha Casa Minha Vida 3 e de uma “mini” reforma agrária), seja mais “gradual”, com uma relativa expansão no crédito para consumo, e um “afrouxamento” na política fiscal (superávit “0%”) para buscar em tese, retardar cortes ainda maiores em certos gastos públicos, por exemplo: alguns subsídios a empresários e não necessariamente gastos sociais. O fato, é que mesmo suposto tipo “gradual” de ajuste, é muito oneroso para a classe trabalhadora, pois Dilma e Barbosa já vieram aumentando os cortes na educação, em meio à fortes lutas como no Rio de Janeiro; outro aspecto, é a proposta do governo de reajuste do salário mínimo abaixo da inflação para 2017).

Também, a profundidade da crise é de responsabilidade do próprio petismo e das direções governistas nos sindicatos que buscam “controlar” suas bases, limitando as lutas com o argumento que “lutar de forma independente é fazer o jogo da direita”. Como aponta o Editor do ED, Daniel Matos, em seu artigo mais recente “só chegamos nesta situação porque as entidades de massa dirigidas ou influenciadas pelo PT e pelo governismo fizeram de tudo, em mais de uma década para não desenvolver nenhuma luta séria contra os ataques feitos pelo “seu” governo (...) Enquanto corre a crise política, as patronais demitem a torto e direito, sobretudo na indústria. Com tanta passividade as patronais se sentiram com coragem de ir por mais. Não à toa a FIESP é uma das capitãs do impeachment.”

A resposta à crise econômica só pode vir por um programa de luta dos trabalhadores

Resumindo, a resposta de empresários como a FIESP e de políticos da oposição burguesa de direita à crise econômica: impeachment de Dilma, ou um golpe institucional, é meramente um discurso interessado em defesa de um “novo” governo (leia-se governo Temer) que aplique um programa mais abertamente neoliberal e com maior aliança com o capital estrangeiro, que empurre o ônus da recessão econômica para os trabalhadores para preservar os lucros e os rendimentos dos capitalistas. É uma saída por meio de uma “ponte neoliberal para o passado, pois significará, uma via mais acelerada (num governo que ninguém elegeu) para a perda de direitos duramente conquistados na luta.

Por isso, seja com o ajuste de Temer ou o que já vem sendo aplicado por Dilma, a saída para a crise econômica e política não pode passar por mais ataques aos trabalhadores e por mais perdas para os mais pobres, para isto, é fundamental que se construa a partir das bases, nos locais de trabalho e estudo, um plano de lutas contra o impeachment e as demissões e os ataques contra os trabalhadores que já estão aplicados pelo PT e pelos governos dos estados. Um plano de lutas que passa pelo não pagamento da dívida pública e pela proibição das demissões. Para isto se efetivar, também é preciso que a CUT e a UNE rompam com sua subserviência ao governo do PT e de fato coloque suas forças de mobilização à serviço da luta contra o golpe institucional, os ajustes, e as milhares de demissões em todo o país.

 
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