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CHILE: RETORNA O ESPÍRITO DE 2011
150 mil pessoas nas ruas de Santiago por educação gratuita e contra a corrupção
Angela Gallardo Suárez

Acaba de terminar a massiva marcha estudantil e de professores, com aproximadamente 150 mil pessoas passando por ambas as calçadas da Alameda [maior via da capital chilena], tal qual acontecia nas mobilizações de 2011, fazendo lembrar esse espírito de luta e combativo que estremeceu o país todo. Força juvenil, estudantes secundaristas, universitários, pessoas da terceira idade, famílias, grupos artísticos, e muitas bandeiras e cartazes pela educação gratuita e contra os políticos corruptos, deram vida a uma jornada exitosa.

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Reapareceu o espírito de luta e combativo de 2011. A marcha deste dia 16 de abril (16A) acaba de marcar um precedente para este 2015, com aproximadamente 150 mil pessoas saindo às ruas de Santiago, demonstrando uma vez mais o descontentamento massivo com o regime político. Estudantes secundaristas, universitários, grupos musicais, idosos com cartazes, famílias, uma variada gama de bandeiras e cartazes contra a corrupção e pela histórica demanda de educação gratuita, estremeceram as ruas da cidade, desferindo um novo golpe contra a classe política questionada.

“Que os corruptos não decidam o que o Chile precisa” foi a consigna principal da mobilização que começou às 11h20, com estudantes da Universidade do Chile encabeçando a gigante coluna que chegava até a Praça Itália. A massividade foi tal que a marcha demorou uma hora e meia só para transitar entre as estações de metrô Baquedano e Santa Lucía. A magnitude, a força e as lembranças de 2011 se fizeram presentes à medida que avançavam pelos quarteirões. O repúdio aos “Penta Parlamentares”, o governo e sua corrupção, esteve latente em cada grito e bandeira.

“Fora os Penta Parlamentares”, “que os corruptos deixem de roubar o que é nosso”, “educação gratuita agora e para todos”, “se corruptos decidem nossa educação, lutar é nossa opção”, “traidores e corruptos, Bachelet SQM”, foram algumas das frases que estiveram na mobilização, demonstrando a forte indignação que não só se expressou em Santiago, senão que também por meio de manifestações em Valparaíso, Arica, Antofagasta, Temuco, Concepción, Chillán, Aysén e Coyhaique.

Entre as estruturas estudantis que se fizeram presentes estiveram a Universidade do Chile, Usach, UTEM, UMCE (Pedagógico), Universidade Santo Tomás, Universidade Central, ARCIS, Universidade Academia de Humanismo Cristão, Universidade Alberto Hurtado, Universidade Diego Portales e Universidade Católica, onde cerca de 500 estudantes desta última instituição manifestaram seu rechaço às declarações de Ricardo Sande, que é abertamente contrário à educação gratuita e que atualmente se encontra questionado não só por suas declarações, senão que também porque utiliza um cargo na Mesa Executiva da CONFECH, sem ter sido eleito, e sem representar as demandas históricas do movimento estudantil. O estudante de história e participante da Agrupação Combativa e Revolucionária (ACR), Dauno Tótoro, ao referir-se a Sande,disse que “exigimos a revogação imediata de Ricardo Sande de porta-voz da CONFECH, porque se colocou abertamente contra os direitos dos estudantes à educação gratuita e contra o direito ao aborto, que é um direito básico de toda mulher”.

Os estudantes secundaristas foram um motor fundamental na mobilização, tal qual haviam sido durante estes anos. Jovens do Liceu 1 de meninas, Instituto Nacional, Liceu Aplicação, INBA, Liceu Amunátegui, Santa María de Paine, Liceu 7 de meninas, Liceu 4 de meninas, Liceu Cervantes, Liceu Alessandri, Carmela Carvajal, entre outros estabelecimentos educacionais, deram vida à marcha nacional mais importante até agora no ano. Também marcharam a ACES, FEMES e a CONES.

Houve organizações de trabalhadores como professores, tanto do Colégio de Professores (CdP) como também professores de Maipú e outras comunas, dirigentes da CUT, trabalhadores da Confederação Bancária, trabalhadores da FENATS. Além disso, se somaram parlamentares como Giorgio Jackson, do Revolução Democrática em Valparaíso, Gabriel Boric, da Esquerda Autônoma e Gaspar Rivas, ex-RN em Santiago.

Organizações políticas e sociais também estiveram na marcha, tais como UKAMAU, ACR, Partido dos Trabalhadores Revolucionários, Juventude Guevarista, PRO, Revolução Democrática, UNE, MPL, JRP3, JJCC, Esquerda Autônoma, FEL, NAU, entre outras.
Todos contra a corrupção, todos pela educação gratuita

A marcha do 16A não só se caracterizou por sua indubitável massividade, mas também pelo conteúdo político que a rodeou, por esse ambiente antirregime, anticorrupção, contra os Parlamentares milionários que dizem que a educação gratuita no Chile não é possível custear. Milhares de pessoas se mobilizaram contra as mentiras dos poderosos, contra o governo de Bachelet que só promete mudanças estruturais que se tornam papel molhado, contra os Carabineros [instituição da polícia chilena] que novamente reprimiu uma mobilização social. O que dizem os manifestantes?

Hernán, da terceira idade e habitante da histórica Villa Francia, foi junto a sua esposa, Norma, à massiva mobilização, expressando que “tenho vários filhos e netos estudando, e nós queremos que eles sejam mais que nós. Acreditamos que as medidas que fazem os estudantes a estes merdas que estão no governo têm todo o pretexto legal (…) Vemos que a corrupção é tão grande que tudo isto é por dinheiro, se vender por quatro vinténs, por isso devemos lutar não só por uma educação grátis, mas também para botar fora os ladrões. Há tanto mal-estar com os que governam que não podemos ficar tranquilos, por isso estamos aqui”.

Professores da comuna de Maipú decidiram sair às ruas para exigir suas demandas. É assim que Paola Ahumada, professora do Colégio Especial Andalué, disse que “o tema dos professores passa também pela qualidade da educação, como vai existir qualidade se nem sequer se considera os professores nas decisões que se tomam? Por exemplo, sobre o ônus trabalhista incluído na carreira docente, se não nos perguntam por que nos sentimos sobrecarregados, não fazem nada com leis e reformas (…) O Colégio de Professores tampouco nos escuta e nesse sentido me sinto parte da dissidência do CdP”.

Para a professora as principais demandas dos professores que deveriam ser escutadas são que “não temos horas para planejar as aulas, em que momento o fazemos se não temos tempo para pensar a educação? (…) Se tivéssemos mais tempo poderíamos planejar bem, mas nos contratam por 44 horas semanais, mas essas horas você está na frente dos alunos, então assim não se pode fazer uma aula de qualidade”.
Quase ao finalizar a marcha, estudantes de Artes do Pedagógico, estudantes de Filosofia e Humanidades da Universidade do Chile, junto à Agrupação Combativa e Revolucionária (ACR) queimaram bonecos em frente à La Moneda, que tinham o rosto de Bachelet, Jaime Guzmán e Pinochet.

A estudante de história da Universidade do Chile, Octavia Hernández contou sobre o motivo da ideia: “é denunciar os políticos corruptos de Soquimich, de Penta, fazendo uma queima simbólica destes tipos (…) Nos dizem que não tem dinheiro para a educação gratuita, mas roubam bilhões de pesos para suas campanhas políticas. Estamos fazendo um chamado para um escracho no parlamento no dia 21 de Maio, em Valparaíso".

A imensa mobilização terminou em Los Héroes como cenário, onde dirigentes do movimento estudantil se manifestaram, como a presidenta da FECH, Valentina Saavedra, que fez um chamado “a que nos organizemos, nós não temos nenhum empresário por trás”, concluindo que “esta democracia não é a democracia que merecemos”. Também participou da ocasião o músico Manuel García, entre outras pessoas.

Já ao finalizar os discursos, as Forças Especiais dos Carabineros abriram caminho a uma forte repressão contra os presentes à marcha, o que produziu enfrentamentos e indignação contra a polícia. Isto se expressou durante toda a marcha com gritos como “os policiais fascistas são os terroristas” ou “aí estão, eles são, os que matam sem razão”, e inclusive com riscos e grafites nos ônibus dos Carabineros.

A marcha do 16A chegou para golpear uma vez mais o regime político, o ambiente de luta não deixou indiferente a ninguém, se respirou entusiasmo e garra em todo momento, foi uma verdadeira festa combativa anticorrupção protagonizada por milhares. Irá estourar um 2011 recarregado?

 
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