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INSTITUTO LIBERAL ATACA ESTUDANTE DA USP
O ILISP é livre, livre para inventar uma história do capitalismo bonitinha e também para defender o fim do SUS
Jéssica Antunes

Jéssica Antunes, Diretora do Centro Acadêmico de Letras da USP responde o Instituto Liberal de São Paulo.

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O Instituto Liberal de São Paulo presidido pelo direitista Rodrigo Constantino, ex-colunista da Veja publicou sua “tréplica” ao meu vídeo de resposta anticapitalista aos seus insultos “libertários”, buscando amedrontar o setor de estudantes que levanta ideias revolucionárias em meio às eleições do DCE da USP. Na USP, nestas eleições suas ideias se aproximam a da chapa de direita tucana USPinova. Suas ideias se sustentam em pé?

Com a “ilustração” de gente que ainda acha que óculos, câmeras e computadores são produzidos por “empresas” e não por pessoas, os trabalhadores, os liberais mais uma vez quiseram desabafar suas frustrações contra o despertar de uma grande juventude anticapitalista, e mandar uma tréplica ao meu vídeo (que já conta com 50 mil visualizações). Pena que os “libertários” ao mesmo tempo deram conta de usar suas denúncias para me bloquear no Facebook e impedir a continuidade dos debates. Por "conteúdo violento e contra a moral", fiquei bloqueada por 24 horas sem conseguir me defender de centenas de ataques que estou recebendo, nem me expressar. Algo bem libertário a censura, convenhamos.

É importante lembrar também que estes ataques não são feitos apenas a mim, pois as ideias do vídeo são compartilhadas por centenas, fato evidente no lançamento da Juventude Faísca. São feitos por setores de direita que estão na USP também, que odeiam o setor do movimento estudantil que levanta ideias revolucionárias, que quer se ligar com os trabalhadores e com o Sindicato dos Trabalhadores da USP. É um setor do movimento estudantil que está disputando na chapa “Meu Canto de Guerra” as eleições do DCE-USP para levar estas idéias às entidades estudantis, como já existe na Letras e na Pedagogia da USP, além de outras universidades.

Ao contrário do que dizem, adorei a repercussão do vídeo, com mais de um milhão de visualizações! Despertou interesse em setores amplos: outro fato que enlouquece a direita (neo)liberal.

O que não consegue despertar paixão em ninguém é essa coleção de velhas ideias do século XVIII que saem da boca de nosso liberal como um defunto que se ergue da sepultura. Ele ainda faz uma ameaça e uma previsão, “A esquerda está desesperada e isso é só o começo.” Bom, pela afobação em tentar esconder o conteúdo de direita dos argumentos, pela atenção dedicada a cada um dos argumentos que dei no vídeo, o tom pedante e todo o esforço pra desenterrar as quinquilharias ideológicas que ficaram paradas no tempo, dá pra ver que os liberais estão bem incomodados em aparecer como são: bem de direita.

Todo o argumento se fundamenta no seguinte: para os liberais, a fome e a miséria atuais, as guerras e as intervenções militares, o desperdício dos recursos naturais, “não tem nada a ver com o capitalismo”. Ainda mais, dizem que pela “excessiva regulação estatal e pela legislação trabalhista”, o capitalismo nunca teria existido no Brasil. Para defender seu sistema econômico, fingem que ele não existe! Vivem no mundo da fantasia, sem ver as guerras e mortes no Oriente Médio, as intervenções militares e a fome na África, a crise dos refugiados na Europa, todas elas causadas pelo sistema capitalista, em sua maior crise desde a década de 1930.

Nossos direitosos defendem o básico do neoliberalismo dos anos 1990. Como lamentam não poder voltar à época da livre concorrência, justificam envergonhadamente o capitalismo em sua época de decadência.

O capitalismo é um modo de produção. Ao modo de produção capitalista corresponde essencialmente uma relação social entre duas classes fundamentais. Destas, uma classe, a burguesia, por ter o monopólio dos meios de produção, explora a outra, a classe trabalhadora, que produz tudo no mundo, não é proprietária de nada exceto a sua força de trabalho que se vê forçada a vender. O “objetivo da produção” é aqui o objetivo da burguesia: a criação de excedente para a acumulação privada de capital, não a satisfação das necessidades da maioria da sociedade.

Essas conquistas científicas do conhecimento humano, alcançadas pela teoria marxista, têm de ser segundo os amantes do liberalismo deixadas de lado, para que ninguém entenda quem produz e qual a origem da riqueza social. Tudo o que reservam à juventude e aos trabalhadores é a defesa da propriedade privada e o livre mercado como a chave de ouro do paraíso capitalista.

A frustração dos liberais conservadores é que a “mão invisível”, o livre mercado e o capitalismo não encantam mais ninguém. Nem eles mesmos, já que os “argumentos” contra nossas idéias se reduzem a machismo, homofobia e racismo (uma direita liberal que faz jus à indigência de ideias). Os amigos de Adam Smith, Ludwig Von “Missi” e Hayek estão cada vez mais isolados, e os próprios monopólios jornalísticos mostram que o interesse por Karl Marx e os estudos da economia política capitalista pelos marxistas se multiplicou depois da crise de 2008.

Dizem que a esquerda é que “defende o estado”. Quanta ignorância! Nós desejamos abolir toda forma de Estado através da revolução dos trabalhadores. Aqui vale uma pergunta aos liberais: quem se beneficiou da intervenção do Estado capitalista depois do estouro da crise de 2008? Os grandes bancos como o Goldman Sachs, monopólios e grandes seguradoras receberam trilhões de dólares de dinheiro público do Estado para se salvarem da crise que provocaram, enquanto milhões amargam na miséria. “Estado mínimo”... desde que seja o nosso Estado de classe, não é liberais?

Dizem que o capitalismo “não tem nada a ver com intervenções, pois quem faz isso é o Estado”, e que nunca houve tão poucos famintos na terra. Até mesmo a ONU reconhece que hoje um sexto da humanidade (1 bilhão de pessoas) sofre fome crônica. O número de refugiados hoje é o maior desde a Segunda Guerra Mundial, segundo a ACNUR . Tentam separar a política da economia, mas não dá: os Estados que intervém militarmente são capitalistas, os mesmos que protegem os patrões.

Dizem que não são de direita, mas criticam a esquerda que quer lutar contra as demissões. Como não ver o direitismo de quem diz que “para que o empreendedor prospere, é preciso demitir alguns”? Que reacionário! A juventude na França e na Espanha que mencionam enfrentam nas ruas duras reformas trabalhistas – aplicadas mais uma vez pelo Estado capitalista – que causam o desemprego de milhões. No Brasil, a patronal demitiu mais de 1,5 milhão em 2015. Como diz o presidente do Santander, o setor privado está fazendo seu ajuste. Esse é o “jogo espontâneo do mercado” segundo Hayek e seus amigos “nada” privilegiados.

Nosso “interlocutor” critica o roubo que seriam os impostos e “esquece” de mencionar que as heranças mal são taxadas em nosso país, que o dinheiro em ações é taxado menos que o ICMS nas gôndolas dos supermercados, ou seja, que os ricos pagam menos impostos que os pobres. Quem é roubado, cara pálida? E em seu argumento “contra o Estado” fica envergonhado de dizer o que ele defende de fato, fim do SUS. Aí então se nosso liberal tivesse coragem de dizer o que pensa então deveria então adotar outros heróis teóricos para si, além de Hayek, poderia completar seu vazio intelectual com Malthus que falava que era preciso diminuir o excesso de população. Para nosso contratante os excedentes sabemos quem são: os pobres, os negros. Aí então podemos também sugerir que leve suas ideias até o final e complemente sua política de morte ao SUS (e aos pobres e negros) com algum teórico defensor de darwinismo social, algo de moda, lá nos finais do século XIX.

O capitalismo é esse conjunto de sem sentidos e nunca poderá ser outra coisa.
Perseguem-se os imigrantes, naturalizando a morte por naufrágios de milhares de pessoas ao ano que fogem de guerras e misérias provocadas pelos países “de maior liberdade econômica do mundo”. Se sobrevivem, estes “estábulos da liberdade capitalista” os prendem em verdadeiros campos de concentração, como na Grécia, mas também na França e na Inglaterra (“mercados” que nosso liberal deve adorar), ou mandados de volta ao inferno das guerras por países tão “desprovidos de Estado” como a Alemanha. A riqueza produzida se concentra em cada vez menos mãos: 62 bilionários possuem o mesmo que mais da metade da população no planeta! Restringem-se os direitos democráticos com legislações repressivas (que não incomoda os amantes de Hayek, educados na doutrina do mestre que elogiava a ditadura de Pinochet no Chile). Um sistema econômico defendido no Brasil com unhas e dentes pela polícia que assassina diariamente nos morros e favelas depois de violar todos os direitos humanos da população negra no Haiti, enquanto faz parte orgânica do “grande delito” e comanda esquema de tráfico de drogas, pessoas e de armas (mas que os “responsáveis liberais” querem ver em toda parte, morros, favelas e nas universidades, “combatendo o crime”). Empregam-se irracionalmente os recursos naturais, ou causam-se outros desastres ecológicos através da privatização (como a tragédia provocada pela Vale/Samarco no distrito de Mariana) com consequências incalculáveis.

Para Marcelo e os liberais do ILISP, da mesma forma como defendia Fukuyama, a história se deteve e não existiria alternativa possível ao capitalismo. Mais ainda, deveríamos girar ao avesso a roda da história e voltarmos às origens de um cadáver teórico carcomido como o liberalismo, tão velho quanto o século XVII. Para os trabalhadores não restaria outra alternativa que abaixar a cabeça e aceitar – como sugere nosso “empreendedor sonhador” – a barbárie de um sistema que violenta cotidianamente a humanidade da classe social majoritária em nosso país e no mundo, os trabalhadores, que se veem obrigados a vender sua força de trabalho e acrescentar a riqueza de seus exploradores.

Organizar a sociedade sobre outras bases não só é possível como necessário. Somos uma esquerda que, longe de qualquer totalitarismo, luta por uma democracia dos trabalhadores infinitamente superior à restrita democracia dos capitalistas, limitada a permitir o direito ao sufrágio a cada dois ou quatro anos. Ao contrário disso, uma sociedade em que os meios de produção sejam de propriedade coletiva permitiria sua planificação democrática por meio da deliberação e tomada de decisão pelo conjunto do povo trabalhador, que exerceria a direção de seu próprio estado (um estado provisório cujo único fim é extinguir-se, abolindo todo tipo de estado com a abolição dos antagonismos de classe). Dessa maneira, as irracionalidades “liberais” que são próprias deste sistema seriam superadas. Por exemplo, em nosso país há 6 milhões de imóveis vazios quando há 5,3 milhões de famílias se encontram em emergência habitacional. Quanto mais se constrói, mais é uma fantasia conseguir uma casa própria. A planificação democrática da economia evitaria este e muitos outros sem sentidos.

Reafirmamos todas as nossas ideias, e vamos disputar as eleições do DCE da USP convictos que elas apaixonam amplos setores. Não fazemos o jogo da direita e por isso rechaçamos o impeachment, mas não lutamos contra o impeachment sob as bandeiras do PT, lutamos de forma independente contra os ajustes deste governo. E ao mesmo tempo sei que são muitos os jovens neste país que querem acabar com este sistema de hiperexploração do trabalho e perversa desigualdade social, e destes jovens muitos são mulheres ou meninas como eu. Continuaremos lutando como uma menina contra esta direita que quer nos oprimir.

Como me lembrou recentemente um amigo, "Se os cães ladram, é sinal que andamos". A esquerda anticapitalista e socialista caminha a passos firmes!

*Jéssica Antunes é Diretora do Centro Acadêmico de Letras da Universidade de São Paulo na gestão "Por isso me grito!". Está disputando as eleições para o Diretório Central dos Estudantes da USP com a chapa "Meu Canto de Guerra". É militante da Faísca - Juventude Anti-capitalista e Revolucionária que integra militantes do Movimento Revolucionário de Trabalhadores e independentes.

 
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