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PIXAÇÃO BH
Guerra contra o pixo continua em BH: prisões arbitrárias e repressão
Francisco Marques
Professor da rede estadual de Minas Gerais

Prefeitura de Belo Horizonte aproveita repercussão da pixação na Igrejinha da Pampulha para fazer nova investida repressiva contra esta forma de expressão em toda a cidade, com mais arbitrariedades jurídicas e repressão.

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Foto: Edésio Ferreira/Estado de Minas/DA Press

Na quinta-feira (7) a Polícia Civil, a PM-MG e o Ministério Público realizaram operação conjunta na qual prenderam preventivamente o homem investigado pela pixação na Igrejinha da Pampulha. Também realizaram buscas e apreensões nas casas de outros investigados e na loja de materiais pra grafite de um deles.

Já vem de longa data a guerra da prefeitura de Belo Horizonte contra a pixação. Em 2010 uma operação policial indiciou dezenas de pessoas, acusadas de serem parte do coletivo de pixação "Piores de Belô". No ano passado a operação Argos Panoptes da PM e do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pediu a prisão preventiva de sete pessoas acusadas de serem parte do bonde dos “Pixadores de Elite”, além dos 19 mandados de busca e apreensão e 11 conduções coercitivas.

É uma escalada repressiva descarada, que se apoia em um discurso de “legalidade” mas que atropela o senso mais comum, como ao pedir prisão preventiva de um acusado de pixação (ainda não julgado!) incapaz de atrapalhar as investigações. A busca e apreensão de tintas e roupas na loja Real Grapixo, de João Marcelo Ferreira Capelão, acusado de ser o "GOMA" – famoso nome nas paredes da cidade – também foi completamente arbitrária: os policiais alegaram que estavam apreendendo os materiais de um “suspeito de pixação”, mas na verdade estavam privando-o de seu sustento como forma de punição anterior a qualquer julgamento. Além de tudo isso a acusação feita contra os grupos de pixadores é de formação de quadrilha.

A batalha da prefeitura, do judiciário e dos órgãos repressivos tem o apoio da mídia burguesa como o Estado de Minas e a Rede Globo, que vêm fazendo uma “cobertura” impecável da guerra contra o pixo, criminalizando e endossando os abusos aos direitos legais mínimos. Essa batalha tem dois objetivos relacionados: em primeiro lugar querem combater a “ilegalidade” da pixação, que desafia o poder instituído que decide o que é permitido ou proibido nas paredes da cidade. Está dentro da lei que a Coca Cola, a TIM ou o McDonald’s coloquem imensos anúncios nos prédios, pontos de ônibus, e circuitos de TV do transporte público – anúncios que muitas vezes parecem nos perseguir para onde quer que olhemos, porque também estão nas TVs e na internet – porque estas empresas bilionárias detêm o poder econômico que lhes dá o direito de se expressarem. Aos pobres, à maioria negra, aos pixadores e a qualquer um que não se encaixe na ideologia dominante é negado esse direito.

Em segundo lugar, é uma repressão artística o que estes órgãos querem; o “garrancho” do pixo incomoda a indústria cultural “limpa e padronizada” das novelas da Globo e dos filmes de Hollywood, onde tudo parece perfeito e dentro do lugar; a vida real tenta desesperadamente imitar a perfeição desses produtos num país marcado pela miséria, pela exploração e pela opressão, atravessado por uma imensa crise econômica e política, cheio de seus absurdos e injustiças cotidianas. O pixo é antes de tudo um grito contra a normalidade das paredes brancas e dos anúncios publicitários que querem ser a vitrine de uma dominação sem resistência.

"enquanto ouver desigualdade vai ter nos". (Pixação no centro de BH.)

O cenário em que acontece a prisão preventiva de Mário Augusto Faleiro Neto (acusado de ser o "MARU" nas pixações) é o seguinte: o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, atrás somente da China e dos Estados Unidos, com 711.463 presos (dados de 2015), e com superlotação de 206.307 vagas; dos que estão nos presídios e não em prisão domiciliar, 41% ainda não foram julgados. Parte da punição é simplesmente esperar julgamento nas prisões superlotadas e em condições desumanas do nosso país.

Outra ironia é que isso acontece no mesmo país e estado que não puniu nenhuma pessoa pelo maior crime ambiental e social da história brasileira, que foi o desastre do rompimento da barragem em Mariana, de responsabilidade da Samarco, como os próprios pixadores denunciaram. Igualmente, Eduardo Cunha, Aécio Neves e dezenas de políticos claramente envolvidos em esquemas de corrupção continuam sem nem serem ao menos investigados pelo judiciário. O próprio prefeito de BH, Márcio Lacerda (PSB), teve o nome do filho exibido nos Panama Papers, o mais recente escândalo global de corrupção que num vazamento de mais de 11,5 milhões de documentos revelou pessoas envolvidas em paraísos fiscais usados pra lavagem de dinheiro.

Os pixadores e o presidente da Samarco são acusados do mesmo crime: crime ambiental. Mas somente os pixadores são presos. (Foto de pixação no centro de BH)

É preciso denunciar as arbitrariedades do prefeito Márcio Lacerda, da Polícia Civil, da PM e do Ministério Público de Minas Gerais. É preciso lutar pela liberdade imediata de todos presos preventivamente, devolução dos materiais e bens pessoais apreendidos e imediato fim das operações de perseguição à pixação. Pelo direito de livre expressão daqueles que não têm voz nas mídias e na “democracia dos ricos” do nosso país.

 
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