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Opinião
A desistência de Doria como declínio do tucanato a coadjuvante
William Garcia
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Não é de hoje que a terceira expõe mais suas crises do que qualquer outra coisa. Sem votos e unidade, vem chafurdando na lama que se enfiou, pagando um altíssimo preço eleitoral pelo seu golpismo e apoio a Bolsonaro em 2018. Acontece que agora, além da falta de unidade entre esses partidos, se aprofundam as crises internas, tendo a desistência forçada de Doria como sintoma mais recente. Neste artigo iremos desenvolver para onde caminham tais crises e o que ainda há - se é que há - de possibilidades eleitorais para os golpistas de 2016.

Para o último 18 de Maio foi marcada a reunião em que PSDB, MDB, Cidadania e União Brasil decidiriam o nome que representaria a unidade entre esses 4 partidos na corrida presidencial, buscando estabelecer no país uma terceira via liberal que quebre a chamada polarização entre Lula e Bolsonaro e seja a cara mais fiel da burguesia e a direita tradicional. Contudo, o que se viu foi uma escalada no PSDB contra João Doria, que agora nesta semana se viu derrotado e abriu mão de sua candidatura à presidência da república.

O ninho tucano em frangalhos

O PSDB agora se localiza no papel de coadjuvante. Esse que foi o partido que durante anos governou o país com o FHC, se elegendo por duas vezes já no primeiro turno, e posteriormente indo ao segundo turno quatro vezes contra o PT, agora respira praticamente por aparelhos no que diz respeito à sua expressão eleitoral nacionalmente. Ainda mantendo um enorme fundo eleitoral e posições importantes, com os governos de SP e RS, não consegue alavancar um nome que remonte aos anos em que o PSDB dividia com o PT a maior parte do eleitorado brasileiro.

Divididos em alas que se digladiam com todo tipo de manobras e calúnias, o partido se encontrou dividido entre aqueles que buscavam apoiar a inexpressiva eleitoralmente Simone Tebet do MDB para a presidência, aqueles que buscavam insistir na candidatura falida de Doria e aqueles que já, pragmaticamente e pensando nos próprios interesses, ainda deslumbram a possibilidade de reverter boa parte do robusto fundo do partido para suas campanhas nos estados a governo, câmara e senado. Houve, também, quem já sinalizou apoio a Lula desde o primeiro turno, como Aloýsio Nunes, um dos tucanos de mais tradição.

Após as conturbadas prévias que deram vitória a Doria sobre Leite, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, mirando o fundo eleitoral do MDB, pressionou ao máximo o tucano paulista em busca de apoiar Simone Tebet. Por outro lado, setores distintos como FHC e até mesmo Aécio Neves, defenderam que o partido deveria ter candidatura própria, mas divergindo sobre o nome, com o primeiro defendendo Doria e o segundo defendendo que seja qualquer outro nome com mais possibilidades eleitorais.

João Doria, por sua vez, fez ameaças discretas de que poderia judicializar a questão, usando as prévias como respaldo e impondo à convenção eleitoral de Julho que apenas referende sua vitória. Fato é que entre as discussões sobre qual deveria ser o candidato,o ex-governador de São Paulo foi se isolando mais e mais, perdendo apoio inclusive de Rodrigo Garcia, que agora busca se descolar da imagem de Doria para as eleições paulistas. O resultado de tamanho isolamento foi a derrota interna frente à linha da cúpula tucana, deixando setores mais à direita da grande mídia desolados com o naufrágio da terceira via. O PSDB, ao invés de ter atuado como o partido que durante décadas pautou a política nacional, acabou sendo a principal expressão da decadência dessa direita tradicional que perdeu base para o bolsonarismo e até agora não soube como recuperar.

O desafio dos tucanos em seu bastião histórico

Como dito anteriormente, o PSDB ainda guarda reservas importantes, mas especialmente em São Paulo se vê diante de um enorme desafio: buscam reverter a imagem péssima deixada por Doria a fim de reeleger Rodrigo Garcia governador. Trata-se de um desafio enorme pois, com a enorme polarização eleitoral entre Lula e Bolsonaro, a maior tendência é que em São Paulo se reproduza a dinâmica nacional com Haddad e Tarcísio, com o primeiro já aparecendo isolado na liderança em todas as pesquisas.

Mesmo Garcia não sendo Doria, também não se pode dizer que se trata de um tucano tradicional. Pelo contrário. Garcia é recém ingresso no PSDB como parte de um grande acordo de Doria com o antigo DEM, não é um tucano que faça parte do ninho de FHC, José Serra e Covas. Então mesmo que a máquina tucana o leve ao segundo turno e até garanta a manutenção do bastião, as crises no PSDB de São Paulo estarão longe de se encerrar.

Tebet como terceira via?

O nome da senadora vem sendo aventado há muito tempo, mas sua condição não parece tão distinta da de João Doria, uma vez que no MDB também enfrenta alas que buscam apoiar Lula e Bolsonaro a depender da região do país. Sua candidatura, que não empolga nem mesmo seu próprio partido, terá dificuldades em empolgar o eleitor mais à direita e retomar uma parte da base eleitoral que esses grandes partidos da ordem perderam para Bolsonaro.

O que alguns setores da terceira via apostam é que com tempo de TV, muito dinheiro e sem a mesma rejeição de Doria - até porque é desconhecia -, Tebet poderia se desenvolver até outubro com um perfil de “centro”. Logo ela que nas eleições de 2018 apoiou Bolsonaro, como todos esses que agora falam contra a tal polarização.

A chapa Alckmin-Lula como possibilidade para a direita viúva de Paulo Guedes

A chegada de Alckmin para vice de Lula deve ser visto como parte de um projeto nacional que o PT vai desenhando em conciliação com a direita tradicional. Alckmin mais do que um vice, também é um programa de ajustes e ataques, e justamente por se tratar de um programa anti-operário vai atraindo maior simpatia de setores dos mercados e da velha direita neoliberal que há poucos anos embarcava de cabeça no Posto Ipiranga, tornando-se uma das responsáveis diretas pela fome, a carestia de vida da população e o caos sanitário do governo Bolsonaro.

A conciliação do PT se reatualiza ainda mais à direita do que já fora nos primeiros governos Lula e Dilma. Agora, sem as benesses internacionais propiciadas pelo boom das commodities e em meio a uma crise sem resolução significativa desde 2008, os ajustes e ataques à classe trabalhadora virão a galope.

Frente a esse cenário de reorganização da direita, se faz urgente uma perspectiva socialista e revolucionária para a esquerda brasileira, preparando-se para enfrentar a odiosa extrema direita bolsonarista, no poder ou nas ruas - pois é fato que ela não desaparecerá caso seja derrotada nas urnas -, mas também para enfrentar os ataques de todo tipo que um possível governo de conciliação entre Lula e Alckmin pode oferecer.

É nesse sentido que nós do MRT e do Esquerda Diário estamos batalhando por uma política de independência de classe, que prepare os trabalhadores contra os ataques que virão, mas sem cair na armadilha da conciliação de classes que só reservar traições e ajustes. Com essa perspectiva estamos construindo o Polo Socialista e Revolucionário e apresentaremos candidaturas operárias que apresentem um programa para que os capitalistas paguem pela crise, inclusive aqueles capitalistas que demagogicamente hoje falam em terceira via e se dizem de centro, mas que estiveram a frente de todos os ataques contra a nossa classe.

 
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