www.esquerdadiario.com.br / Veja online / Newsletter
Esquerda Diário
Esquerda Diário
http://issuu.com/vanessa.vlmre/docs/edimpresso_4a500e2d212a56
Twitter Faceboock
Dez filmes no Maio Francês
Violeta Bruck

Em um novo aniversário de Maio de 68, percorremos algumas experiências cinematográficas.

Ver online

Em 1968, as lutas operárias e estudantis percorrem o mundo e geram um profundo impacto no âmbito do cinema. Novas práticas, novas ideias, novas imagens e debates surgem em todas as cinematografias e têm um grande pontapé no maio francês.

Na França de 68, o cinema se juntou com um grande protagonismo à luta. Importantes diretores junto a produtores, roteiristas, técnicos e estudantes participaram das assembléias e mobilizações. Durante a década anterior o movimento da Nouvelle Vague tinha semeado um questionamento ao modelo de cinema dominante e seus principais impulsores Jean Luc Godard, Claude Chabrol, Jaques Rivette, Francoise Truffaut, junto a Alain Resnais, Agnes Varda, Chris Marker se somam às iniciativas de transformação social.

Desde o início de 1968, os cineastas mobilizam-se, juntam-se ao movimento geral e apresentam também as suas próprias reivindicações. Todos os aspectos foram questionados e de conjunto desafiou-se a organização capitalista da indústria do cinema. Surgiram os "Estados Gerais do Cinema Francês", uma assembleia que integra mais de três mil pessoas, técnicos, diretores e trabalhadores da área que votaram a greve, elaboram projetos e cobrem os eventos. Em suas convocatórias proclamavam: "se quer a REVOLUÇÃO, por, para e no CINEMA, venha militar nos ESTADOS GERAIS DO CINEMA”.

No Festival de Cannes, que se realiza em Maio, a sala é ocupada para considerar a suspensão do evento como forma de manifestar a solidariedade com a luta.

Nestes dias agitados e nos anos seguintes, foram feitos grandes filmes que nos trouxeram até hoje a força e frescura dos acontecimentos. Partilhamos algumas das mais importantes:

A Chinesa, 1967

É um filme de Jean Luc Godard estreado um ano antes de maio. Relata as inquietudes por mudar o mundo de cinco jovens franceses que passam o verão em um departamento enquanto debatem teoria e política, influenciados por idéias de tendência maoísta e literatura comunista.

Longe do Vietnã, 1967

Sete diretores realizam em conjunto este documentário contra a intervenção dos EUA no Vietname. Participam Claude Lelouch, Agnès Varda, Jean-Luc Godard, Chris Marker, Alain Resnais, Joris Ivens, William Klein.

Cinetracts, 1968

São uma série de 41 curtas-metragens filmadas por cineastas franceses, como uma maneira de tomar ação direta no marco dos protestos. Duravam entre 3 a 5 minutos, filmavam-se em um dia, branco e negro, mudos, com câmeras de 16mm. Em seguida, os trabalhos eram projetados em escolas, centros vizinhos e fábricas tomadas. Eram anónimos e participaram vários autores, entre eles Godard, Resnais, Marker, Garrel, Gorin.

Grandes tardes, pequenas manhãs, 1968

É um documentário do fotógrafo e cineasta William Klein que realiza um registro direto de assembléias, debates, manifestações, barricadas e repressões. Consegue captar de maneira única o pulso diário dos acontecimentos das lutas operárias e estudantis com frescura e profundidade. Foi gravado no meio dos acontecimentos e montou-se e estreou anos depois

Um filme como qualquer outro, 1968

É um filme do coletivo Dziga Vertov que fundem Jean Luc Godard e Jean-Pierre Gorin no calor de maio francês. Recupera as imagens de arquivo das revoltas estudantis de Maio de 68, filmadas pelo grupo militante ARC em Paris, para montá-las junto às discussões entre três estudantes da universidade de Nanterre e dois operários da fábrica Renault-Flins.

Classe de luta livre, 1968

É um filme do coletivo Medvedkine, impulsionado pelo cineasta Chris Marker ao calor de maio. Ele relata a criação de uma seção sindical da CGT em uma fábrica de relógios por uma funcionária que realizou seu primeiro trabalho militante em 1968. Descreve o modo como Suzanne conseguiu mobilizar as outras mulheres da empresa, apesar da desconfiança dos dirigentes sindicais e das intimidações da patronal.

Está tudo bem, 1972

É outro filme realizado por Jean Luc Godard e Jean-Pierre Gorin no âmbito do grupo Dziga Vertov. Suzanne, uma correspondente americana em França, e seu marido Jacques, um diretor vanguardista vindo a menos, se vêem envolvidos em uma greve de trabalhadores em uma fábrica. Lutas, confrontos, ocupação e tomada de reféns. A crise que atravessa a sua relação coincide com a crise social e política, a luta de classes se faz presente em todos os cenários.

Olho por olho, 1972

Dirigida por Marin Karmitz, esta ficção se baseia em fatos reais inspirados nas lutas de maio e anos posteriores. Segue-se a luta de um grupo de operárias têxteis em França, que enfrentam condições de trabalho extenuantes, o acelerando o ritmo e os maus tratos. Quando duas colegas são despedidas, confrontam-se com o patronato e com a burocracia sindical para obterem as suas reivindicações. Ocupam a fábrica e tomam o padrão de refém, e neste processo dão-se conta da grande força que têm.

Com o sangue dos outros, 1974

É um filme de Bruno Muel e o coletivo Medvedkine, impulsionado pelo cineasta Chris Marker no calor de maio. Expõe o trabalho em cadeia na Peugeot. Som direto e imagem simples, ensurdecedor imagem. Isso é o essencial do império Peugeot: a exploração do trabalho humano. E fora da fábrica, a exploração continua. Grandes armazéns, supermercados, distrações, férias, alojamento, a própria cidade: todo o horizonte é Peugeot. A violência é diretamente percebida pelo espectador, que encontra rapidamente insuportáveis as sequências filmadas no interior da fábrica.

O fundo do ar é vermelho, 1977

O filme percorre os diferentes movimentos sociais e políticos que surgem na prévia e com a influência do maio francês. É um olhar internacional que apela a uma montagem reflexiva e ao resgate de arquivos que permitam manter viva a memória dos acontecimentos. Um ensaio cinematográfico com o inconfundível selo de seu autor Chris Marker.

Estas são apenas algumas das múltiplas produções desses anos na França, nos anos seguintes e até hoje continuam a ser feitos filmes sobre Maio que mostram a profunda influência destes acontecimentos. Entre elas se destacam Os sonhadores, Morrer aos 30, Os amantes regulares, O intenso agora, entre muitos outros.

Traduzido por Dani Alves.

 
Izquierda Diario
Redes sociais
/ esquerdadiario
@EsquerdaDiario
[email protected]
www.esquerdadiario.com.br / Avisos e notícias em seu e-mail clique aqui