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Estética marxista? Breve reflexão sobre as qualidades literárias de O Capital e sua influência artística
Afonso Machado
Campinas

A evidência de que Karl Marx foi um dos maiores escritores do século XIX, leva-nos a considerar a dimensão estética do materialismo histórico menos a partir dos esparsos comentários do autor sobre arte e literatura, e mais de acordo com a maneira como ele expressa o seu pensamento. Existem componentes estéticos infiltrados na análise materialista dos processos históricos. Numa correspondência com Friedrich Engels, Marx afirmou que sua obra forma “um todo artístico“ ; quer dizer, a Economia Política possui um nível particular de expressão em que a informação filosófica/histórica é comunicada através de uma forma literária. Esta forma, presente por exemplo na monumental obra O Capital, é suficiente ou não para designar uma Estética? Para meditarmos sobre a questão iremos aqui nos debruçar brevemente sobre os aspectos literários do referido livro de Marx.

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O estudo detalhado que Marx faz acerca do condicionamento econômico para explicar a história, levanta um saliente aspecto em sua obra: a narrativa deve necessariamente lidar com a representação literária da realidade econômica capitalista. Dentro da pesquisa científica de Marx a linguagem metafórica e o recurso da alegoria, foram utilizados na construção da escrita da Economia Política. É precisamente isso que o autor demonstra no seu livro mais importante.

O Capital: ápice da obra de um escritor revolucionário

O Capital(1867) surge como a obra prima de Marx por representar de modo magistral, detalhado e maduro as entranhas históricas do capitalismo. O autor conta em três volumes incompletos (o filósofo viria a falecer em meio aos seus estudos) a trajetória de um modo de produção em que a alienação e o sofrimento do proletariado são legitimados e naturalizados pelo lucro. Em sua estrutura científica O Capital possui, segundo o próprio Marx, profundas considerações artísticas. Esta obra é tanto um tratado de economia quanto uma história da indústria. É um texto cuja composição é norteada pela exposição das contradições: a linguagem hegeliana é instalada com primor filosófico na narrativa para expor uma verdadeira anatomia do contraditório desenvolvimento do mundo material. A prosa flexível de Marx, capaz de assimilar do ponto de vista estilístico as contribuições de autores como Dante, Shakespeare e Hegel, tem como foco a maneira como a divisão social do trabalho explica a trajetória das sociedades. A dinâmica do capitalismo em particular só pode ser exposta de acordo com uma escrita que revele seu reino de contradições. Marx obteve esta proeza que é a um só tempo científica e artística. Impossível desconsiderar as implicações estéticas que esta técnica literária desperta.

"O personagem" capital é pintado por Marx como uma múltipla figura apocalíptica, um ser de muitas faces. Foi ele o portador de uma tempestade histórica que arrasou o mundo feudal. Foi ele a força tentacular do comércio que na Era Moderna estendeu-se com extrema brutalidade política e militar para diversas regiões do globo, forjando novas personalidades para personagens de inúmeras culturas. Se é possível estabelecer alguma associação dentro dos gêneros literários, O Capital é uma espécie de epopeia fundada sobre um rigoroso método científico de análise. O crítico norte americano Edmund Wilson foi um dos poucos que apontou para esta dimensão literária nos escritos de Marx. O gênero da epopeia aplica-se em certa medida ao Capital porque na obra a mercadoria é a protagonista de uma aventura predatória, um personagem sem rosto e sem coração que realiza feitos fundadores e logo memoráveis da história moderna e contemporânea. Marx utiliza a imagem religiosa que é logo em seguida contraposta pela violência realista da história:

(...) “A acumulação primitiva desempenha na economia capitalista o mesmo papel, pouco mais ou menos, que o pecado original na teologia. Adão mordeu a maçã, e o pecado surgiu no mundo. A origem do pecado explica-se por uma aventura que se teria passado alguns dias depois da criação do mundo (...) Nos anais da história real, o que sempre tem prevalecido é, ao contrário, a conquista, a dominação, a rapina á mão armada, o predomínio da força bruta (...) os métodos da acumulação primitiva são tudo o que se queira, menos matéria de idílios“ (...).

Alegoria e denúncia social

A análise que Marx faz da mercadoria atinge por inteiro o campo da estética. A delimitação física da mercadoria é instável, sendo suas incontáveis formas as máscaras assumidas pelo dinheiro, ou seja, o dinheiro assume a forma de qualquer mercadoria, torna-se qualquer objeto, encarna desdobramentos espirituais depositados sobre tudo o que existe e pode ser imaginado pelos homens. É a imprecisão formal do capital que leva a sua invisível onipresença estética: o valor da mercadoria transcende a moeda de metal, a cédula de papel, as máquinas, os imóveis e o corpo do trabalhador. A mercadoria produzida pelo homem domina o homem. A máquina não é mais a extensão do corpo humano para auxiliá-lo na produção, mas um ser que expelindo furiosamente o vapor das fábricas e das fornalhas, dita o ritmo da produção.
Ao dissecar a civilização capitalista, Marx expõe com sua típica pena satírica as diferenças fundamentais daquela em relação a outros períodos históricos: nas civilizações do Mundo Clássico justificava-se ainda que de modo injustificado a escravidão, na medida em que as classes dominantes daquelas sociedades legavam uma esplêndida e complexa produção cultural. Já no capitalismo a escravidão assalariada serve tão somente para enriquecer fabricantes de salsichas e graxa. Na Idade Média a "atitude nobre" explorava e ao mesmo tempo protegia o servo, enquanto que no capitalismo o Estado burguês não é responsável pelos operários desempregados.

O capitalismo é apresentado pelo autor como uma notável engrenagem econômica que, embora mais complexa em relação às forças produtivas do passado, embora capaz de produzir um mundo de riquezas e abundância, mergulha grande parte da humanidade na extrema miséria. Na primeira introdução do primeiro volume d’O Capital, ao referir-se como as estatísticas sociais dos países da Europa ocidental eram execráveis , Marx mostra o quanto os governos e parlamentos dirigidos pela burguesia poupam o público do horror gerado pelas condições econômicas da sociedade capitalista( o que remete por exemplo às questões de saúde pública, a exploração de mulheres e crianças, as condições habitacionais e nutricionais etc). Tal exposição é condensada por uma referência imagética da Antiguidade grega:

(...) “ Perseu necessitava de um elmo de névoa para perseguir monstros. Nós puxamos o elmo de névoa sobre nossos olhos e ouvidos para poder negar a existência dos monstros “(...)

Para representar os horrores do capital Marx refere-se aos monstros da mitologia grega. A referência da Antiguidade Ocidental não revela apenas um homem culto e formado na tradição filosófica europeia, mas a capacidade de um autor em pegar emprestado imagens de outros contextos históricos para revolver seu significado e inseri-las como crítica metafórica a um mundo objetivo. Neste sentido a escrita metafórica de Marx estabelece algumas sugestões que podem acoplar outras e importantes consequências literárias:

(...) “ É evidente que a atividade do homem transforma as matérias que a natureza fornece de modo a torná-las úteis. Por exemplo, a forma da madeira é alterada, ao fazer-se dela uma mesa. Contudo a mesa continua a ser madeira, uma coisa vulgar, material. Mas a partir do momento que surge como mercadoria, as coisas mudam completamente de figura: transforma-se numa coisa a um só tempo palpável e impalpável. Não se limita a ter os pés no chão ; face a todos as outras mercadorias, apresenta-se, por assim dizer, de cabeça para baixo, e da sua cabeça de madeira saem caprichos mais fantásticos do que se ela começasse a dançar “(...).

Uma mesa, assim como qualquer outra mercadoria, torna-se uma misteriosa extensão da personalidade humana. Trata-se daquilo que o próprio Marx define como o segredo do fetichismo da mercadoria, fantasmas mascarados nascidos do trabalho humano e que povoam um mundo alienado.
É preciso considerar que havia na Europa ocidental do século XIX um contexto filosófico, literário e científico que permitia o desenvolvimento da crítica à civilização burguesa. Nesta época foram gestadas pela filosofia e literatura críticas, imagens que denunciam a pobreza nas cidades capitalistas em contraste com a figura do burguês avarento. É o Sr. Scrooge, personagem criado por Charles Dickens, que encarna a primazia do lucro e o desdém pela dor alheia, um genuíno símbolo do egoísmo capitalista. É sob a mesma atmosfera intelectual ilustrada pelos prolongados efeitos estéticos das obras de Dickens e outros autores, como notadamente Balzac, que Marx revela a ultrajante imagem da sociedade burguesa:

(...) “ as paixões mais violentas, mesquinhas e execráveis do coração humano, as fúrias do interesse privado “(...)

A capacidade de representação das fúrias do interesse privado não tinha encontrado até Marx formulações tão precisas e ao mesmo tempo tão ricas em termos de estilização, crítica e denúncia social. Não é o dado sentimentalóide e a ilusória “ imparcialidade científica “, distantes da escrita do autor comunista, que proporcionaram o aprofundamento da crítica à sociedade capitalista: foi a compreensão correta do funcionamento deste sistema que, visto segundo o ponto de vista político da classe operária, trouxe férteis possibilidades de representação literária. Representar artisticamente os objetos alienados do capitalismo, e que portanto ocultam as energias humanas depositadas na sua realização/construção, é o aspecto mais complexo para tratar de uma possível estética marxista. O palpável e o impalpável remetem diretamente a uma escrita que conjuga o econômico e o espiritual, ou mais exatamente, o concreto e o religioso afim de desmistificar a ideologia dominante e reivindicar transformações históricas, mudanças reais no mundo dos homens:

(...) “ Depois de uma aventura galante que, segundo parece, ocorreu alguns dias depois da criação do mundo, o homem foi condenado por Deus a ganhar o pão com o suor do seu rosto. Hoje que Deus está em vésperas de morrer sem posteridade, sem nunca ter podido assegurar a execução do seu mandamento, o Socialismo propõem-se a compelir à observância da sentença divina os que, desde há muito, ganham o pão e mais do que o pão, com o suor do rosto dos outros. Pode isso conseguir-se? Sim; pela socialização dos meios de produção a que tende o nosso sistema econômico”(...).

A estética da mercadoria

As relações entre estética e as abstrações que derivam do processo econômico não envolvem uma operação forçada. A condição de produtor, inseparável da realização estética, faz do homem um ser que se constituiu historicamente a partir do seu trabalho. É, pois, a diferenciação entre a produção natural dos animais e o trabalho humano que permite vislumbrarmos os insights estéticos que Marx apresenta em O Capital. Segundo o autor:

(...) “O nosso ponto de partida é o trabalho sob a forma que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha faz operações semelhantes às de um tecelão e a abelha confunde, pela estrutura das suas células de cera, muitos arquitetos hábeis. Mas o que, logo de início, distingue o pior arquiteto da abelha mais habilidosa é que ele construiu a célula na cabeça antes de a construir na colmeia. O resultado a que o trabalhador preexiste, idealmente, na imaginação do trabalhador. Não muda apenas a forma dos materiais naturais ; realiza, ao mesmo tempo, o seu próprio objetivo de que tem consciência, que determina como lei o seu modo de ação e a que deve subordinar a vontade. E esta subordinação não é momentânea. Durante toda a sua duração, além do espaço dos órgãos que atuam, a obra exige uma atenção firme que não pode resultar senão uma tensão constante da vontade.“ (...).

A escrita de Marx define o papel da imaginação humana na produção e reprodução do mundo real. É a imaginação, fixada num suporte definido, que tece os caminhos da percepção artística; subtende-se assim que o objeto artístico é produto da imaginação e ao mesmo tempo ação sobre o imaginário dos homens. A consciência acerca da organização da vida social é mediada pelo estético. Em O Capital os mecanismos de exploração no regime capitalista são decifrados como uma fantasmagoria real: o trabalhador, alguém que produz e portanto é dotado da capacidade de expressar sentimentos e ideias, é pilhado por uma terrível mágica que enriquece o capitalista. Cada gesto repetitivo do operário converte-se em terrenos, máquinas, dinheiro, finanças, luxos para o proprietário dos meios de produção. O capital:

“não tem pátria, vai onde encontra boas colocações(...) não conhece raças nem fronteiras, exercendo-se indiferentemente onde quer que haja para roubar“ (...).

Uma sinistra operação, invisível aos olhos que pousam sobre a aparência da rotina capitalista, é denunciada por Marx em sua obra máxima:

(...) “Um fato análogo se observa na nebulosa região do mundo religioso. Nesta região os produtos do cérebro humano convertem-se em deuses, tomam o aspecto de seres independentes, dotados de corpos próprios, que se comunicam entre si e com os homens. O mesmo ocorre com os produtos manuais no mundo mercantil“ (...).

Nota-se uma experiência estética com um mundo de objetos produzidos pelo homem e alienados dele mesmo. Marx usa o clássico exemplo de que 20 metros de linho são iguais a 1 casaco. Ele explica que a exatidão matemática na delimitação do corpo da mercadoria, não é suficiente para determinar seu valor no capitalismo. Um processo de bruxaria laica reveste o significado e o valor da mercadoria durante o ato do consumo. Está oculto no casaco o seu processo de produção: as mãos anônimas dos operários presentes na sua produção escondem-se na beleza, na experiência visual/sensual que o comprador estabelece com o casaco. A estética das mercadorias consiste na estruturação de miragens em que sua aparente existência autônoma , enquanto objeto de valor que o mercado estabelece a ela, pressupõe o roubo das vidas de milhões de operários. Em outras palavras, as mercadorias organizam as aparências de um mundo carregado de ilusões: a beleza do produto industrial oculta as energias dos operários que o produziram, e que não podem em muitos casos adquiri-lo, comprá-lo.

Em imagens alegóricas Marx descreve didaticamente os feitiços embutidos na mercadoria desde a sua produção até sua circulação e consumo. Ao usar imagens para referir-se ao outro, isto é , a alegoria(tal como ilustram os exemplos das figuras da mesa, das abelhas e dos arquitetos, dos símbolos da Antiguidade etc) e assim representar a organização do mundo material e logo a situação de dominação e exploração econômica, Marx lega uma reflexão científica cuja projeção estética funda-se na dialética: a matéria prima transformada em outro objeto, o dispêndio de energia do operário na fabricação de uma mercadoria e a forma reduzida deste trabalho impressa no salário etc. Os permanentes estados transitórios da matéria em sua interação com o trabalho, suas infinitas resoluções formais explicitam o roubo, o crime maior que assume a forma de crimes menores.

Segundo Marx, novamente em sua proeza satírica, o crime é uma necessidade para empregar pobres. Tanto o poeta quanto o ladrão, tanto o filósofo quanto o policial, são personagens que habitam a fauna capitalista ditada pelo lucro, pelo crédito e pelo salário. Esta dinâmica formal da escrita de Marx não deixa de ser uma homenagem que o autor dedica a Hegel: o mestre idealista de Marx possui assombrosa capacidade de relacionar figuras e situações em seu permanente movimento, em suas fulgurantes metamorfoses. Todavia, em Marx esta técnica de pensamento colocada agora no chão, no solo da matéria, possui um claro propósito de militância política. Esta escrita auxilia o trabalhador a compreender o sistema em que ele vive e é expropriado.

Marx e a missão revolucionária dos artistas

Apesar da complexidade dos conceitos econômicos tratados, sua transmissão em O Capital destina-se ao proletariado. Aqui todo artista de esquerda percebe logo que a extração da Mais Valia pode ser visualizada, representada por imagens e situações fictícias que expõem as engrenagens do real. Ao comentar O Capital, Lenin foi preciso:

“Onde os economistas burgueses viam relações entre objetos(troca de umas mercadorias por outras), Marx descobriu relações entre pessoas".

Embora Marx não explicite diretamente em sua obra, a arte é uma estratégia para realizar o desmascaramento da exploração capitalista. Olhar a realidade por trás do véu ideológico é uma questão de denúncia. Denunciar implica em fazer o leitor, o espectador e o ouvinte sentirem o que o capitalismo realiza com grande parte da população mundial. A pena de Marx não chega a um ponto final mas a um convite endereçado aos escritores e artistas. Cabe a estes abrirem novos parágrafos na denúncia contra os crimes do capitalismo: esclarecer, mostrar o mundo real para que se tome consciência das possibilidades históricas de transformá-lo. Posta esta conclusão que define a práxis artística, podemos constatar a existência de um amplo legado de obras e manifestações da modernidade formadoras de uma tradição revolucionária: as obras de arte que pretendem participar da construção da consciência revolucionária são diretamente ou indiretamente tributárias da crítica de Marx.

Um dos episódios que chama atenção na historiografia e na crítica cinematográfica de viés marxista, é a não concretização do projeto do cineasta soviético Serguei Eisenstein para filmar O Capital de Marx. O artista afirma em 1929 que:

“Um dos meus próximos filmes, que deve dar corpo à visão marxista do mundo, será O Capital".

Eisenstein procurava desenvolver no plano da sétima arte a expressão visual exata do pensamento dialético: o autor almejava “cinematizar” o método de Marx. Tendo como estrutura literária a obra vanguardista Ulisses (1922), de James Joyce, Eisenstein esboçava um filme em que a história da humanidade seria dialeticamente condensada pelos parâmetros estéticos de Joyce e segundo a concepção filosófica de Marx. O paralelo entre a narrativa histórica de Marx e a literatura de vanguarda, oferecia para Eisenstein a promessa de uma inovadora proposta estética. Muito mais do que contar uma história pela previsibilidade da narrativa linear, Eisenstein apoia-se no romance modernista de Joyce para lidar agora com a contradição entre duas imagens: é esta a base do conflito ótico em que o espectador iria se deparar para compreender a maneira como Marx expõe o seu pensamento em O Capital.

Se a mercadoria é portadora de uma simbologia, de possíveis associações visuais dos elementos/forças que a compõem e que estão intencionados/depositados na sua produção, a imagem não figurada torna-se em Eisenstein uma possibilidade cinematográfica: trata-se da elaboração, da construção do pensamento a partir das imagens que ilustram ideias ou conceitos econômicos. É pois a dinâmica das coisas, simbolizadas pelas imagens, que propicia associações projetadas no cérebro. Traduzir ou problematizar em termos cinematográficos os conceitos econômicos tratados por Marx, tornar visível o pensamento econômico materialista, significa afirmar que Eisenstein não pretendia simplesmente tornar poético O Capital: Marx já possui uma narrativa em que o poético exprime a história do capitalismo. Cabe mencionar que o projeto de Eisenstein seria retomado e problematizado pelo cineasta Alexander Kluge em 2008 no filme Notícias da Antiguidade Ideológica: Marx, Eisenstein: O Capital. Em quase doze horas de filme Kluge reúne entrevistas, reflexões e notáveis sequências cinematográficas a partir de documentos históricos e materiais gráficos.

Marx não lega uma Estética fechada mas define sua localização na realidade histórica e seu possível uso na crítica anticapitalista. Não sendo portanto uma Estética normativa, mas um conjunto de insights estéticos úteis aos escritores e artistas de esquerda, fica implícita uma convocação revolucionária. Certamente que o artista militante da atualidade deve considerar as complexas mudanças na história do capitalismo: do tempo de Marx pra cá as coisas só pioraram... A precarização das condições de trabalho é assustadora, a exploração capitalista não envolve apenas a produção da mercadoria enquanto objeto físico mas o processamento de informações, as práticas de mercantilização da vida nos setores de serviços. Neste cenário é preciso denunciar os sacerdotes do toyotismo. Os laços de solidariedade dos trabalhadores são ameaçados pela terceirização, os embustes do fundamentalismo religioso estão por aí, assim como o reformismo, as capitulações e o irracionalismo da extrema direita.

A investigação e conclusão de Marx são cada vez mais atuais, precisam ser compreendidas pelos artistas. O marxismo exige que os artistas e intelectuais abram novos caminhos estéticos cujo objetivo é contribuir, no plano ideológico, com a luta política que representará a vitória do trabalho sobre o capital.

 
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