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ENTENDA AS ELEIÇÕES NOS EUA
Como chegam os candidatos norteamericanos à ’SuperTerça’?
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

Chama-se “SuperTerça” o dia 1 de março, em que se realizam o maior número de votações primárias de forma simultânea em diferentes estados (principalmente nos estados do Sul). É um momento decisivo, já que dali surgirá grande parte dos delegados para a convenção partidária de julho, que definirá os candidatos dos Republicanos e Democratas para a presidência.

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A outra grande definição será a 15 de março, na Flórida, onde o candidato que vencer leva consigo a totalidade dos delegados já que não há proporcionalidade.

Por exemplo, do lado Democrata, Hillary Clinton conta com 544 dos 2383 delegados necessários para conseguir a nominação democrata. Bernie Sanders conta com apenas 85. Nesta terça-feira serão distribuídos 880 delegados, o número mais alto em um só dia de votações prévias ou caucus (assembléias eleitorais).

As dificuldades de Sanders em se aproximar de Clinton

Hillary Clinton chega à “SuperTerça” tendo vencido estrepitosamente o candidato Bernie Sanders, na Carolina do Sul. Clinton obteve 74% dos votos contra apenas 26% de Sanders no estado sulista, com grande proporção de votos das comunidades negras e latinas. Dentro dos 4 processos eleitorais até agora para os Democratas, cada um teve uma vitória significativa sobre o outro. Sanders venceu com larga margem (22%) em New Hampshire, e Clinton obteve vitória contundente na Carolina do Sul.

O voto negro contabiliza mais de 50% do eleitorado democrata na Carolina do Sul. Esta proporção não é muito diferente dos demais estados sulistas, 7 dos quais serão parte da votação simultânea nesta terça.

Justamente, o “calcanhar de Aquiles” de Sanders, apesar do fenômeno que representa em setores da juventude, é o baixo apelo que tem entre a comunidade negra e latina, particularmente nos estados do Sul. Ainda que consiga arrebatar uma proporção cada vez maior de votos da juventude negra norteamericana, o controle que os Clinton possuem sobre a burocracia sindical e suas relações com as personalidades religiosas nesta região colocam um grande interrogante sobre a capacidade de Sanders de incrementar sua influência, sendo que o repúdio à violência policial contra os negros e o combate contra a precarização do trabalho de negros e latinos é uma grande ausência de seu repertório eleitoral.

É cada vez mais aparente que a retórica “antineoliberal” e contrária ao controle financeiro de Wall Street sobre a política não foi capaz de levar Sanders mais próximo aos problemas candentes dos setores mais oprimidos da classe trabalhadora norteamericana. Apesar de levantar a campanha dos “15 dólares” como salário mínimo/hora, não coloca no centro de sua campanha eleitoral a luta de classes e a batalha pelo direito de organização sindical e política dos setores mais oprimidos. Tanto assim que alguém insuspeita de estar relacionada ao capital financeiro como Clinton – algo que Sanders corretamente denuncia – ainda mantém boa margem de diferença no apelo destes setores.

Hillary Clinton foi a candidata que mais colheu fundos de campanha

Outra vantagem de Hillary se baseia nas regras de distribuição de delegados. Sob as leis do Partido Democrata, a maior parte dos delegados – que decidem a nominação – são presenteados a Clinton e Sanders proporcionalmente à quantidade de votos recebida por cada um nos distritos congressionais. Os distritos que tem mais inclinação ao voto nos Democratas tem maior número de delegados para partilhar entre os dois candidatos. E esses distritos possuem população majoritariamente negra e latina, onde Clinton é consideravelmente mais popular que Sanders.

Apesar de ser a favorita para vencer a bateria de primárias eleitorais nesta terça-feira, e ter vencido três das quatro prévias anteriores, Clinton se encontra a meio a um escândalo internacional pelo seu protagonismo na intervenção imperialista na Líbia, cujo resultado, apesar de ter sido um ponto de inflexão na primavera árabe a favor do imperialismo e da OTAN, deu origem a um Estado falido que hoje é a principal base de operações do Estado Islâmico (ISIS) na África.

Sanders se posiciona para aproveitar esta brecha, junto à denúncia da relação de Clinton com Wall Street e a retórica contra as desigualdades econômicas, para vencer a disputa nos estados de Oklahoma, Massachusetts, Minnesota, Colorado e no estado de Vermont, onde é senador. Por sua parte, Clinton buscará garantir o apoio da população negra e latina – e a corte que faz à figura de Barack Obama – para triunfar nos estados sulistas de Arkansas, Alabama, Georgia, Tennessee, Texas e Virgínia.

Trump vai se impondo como principal opção da direita em meio à crise norteamericana

Ainda não há estratégia clara que supere a fragmentação do Partido Republicano, ainda que uma coisa emerge com clareza com os resultados até agora: o bilionário da construção civil e xenófobo Donald J. Trump, um político que dificilmente será disciplinado pelo programa republicano e já entra em rota de colisão com as figuras principais do partido, é o favorito para a nominação presidencial.

Venceu por grande margem todas as votações anteriores, exceto em Iowa, vencida por Ted Cruz. Abaixo, vemos gráfico mostrando o apelo que tem Donald Trump: seria o favorito para 36% do eleitorado republicano se houvesse eleições em seus estados.

Poderíamos dividir as candidaturas republicanas em três “alas”: a puritana de Ted Cruz, que exala os valores cristãos e ultraconservadores por todos os poros, ligado ao Tea Party; a ala do “mainstream” e aposta da cúpula republicana, Marco Rubio, que também surgiu do Tea Party; e a figura de Donald Trump, um demagogo em ascenso que transformou-se no porta-voz de extrema direita contra os imigrantes, os muçulmanos ou a China, representante por excelência da precarização da vida e do trabalho que os capitalistas norteamericanos despejam sobre a classe trabalhadora com mais empenho desde a Grande Recessão.

A aliança que Trump estabeleceu com grandes milionários e pequenos patrões, além de setores da classe média, colocou abaixo diversas candidaturas “moderadas” mais aceitas pela cúpula Republicana, como Jeb Bush. Baseia-se no ódio do imperialismo norteamericano contra os trabalhadores negros e imigrantes, na necessidade de barrar os aumentos salariais e o direito de sindicalização, à competição comercial estrangeira em meio à lenta recuperação econômica do país e o receio que vem sendo animado pela presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, de uma nova recessão nos EUA.

Segundo diversos analistas internacionais, Trump encarna a estratégia do medo. Demonizar os imigrantes é funcional para que o capital privado possa explorá-los mais e a custos mais baixos. Incrementa assim o terror de imigrantes mexicanos e centro-americanos (países como Guatemala, Nicarágua e Honduras) diante da prisão e da deportação, aumentando a pressão para que aceitem quaisquer condições de precarização extrema do trabalho e da vida.

O próprio Trump, bilionário da construção civil, se aproveita de trabalho precário imigrante em seus hotéis de luxo na Flórida. Isso porque, apesar do reacionário discurso anti-imigratório, a intenção não é impedir a imigração: os estados capitalistas não podem dispensar de um certo volume de trabalho imigrante, de trabalhadores temporários hiperflexíveis que, constrangidos pela sua própria situação, sejam obrigados a aceitar qualquer sacrifício e a superexploração do trabalho.

Estes ataques de Trump sobre os setores mais oprimidos – a comunidade latina e a comunidade negra – se voltarão também contra toda a classe trabalhadora branca nativa, já que a precarização do trabalho trará uma brutal competição pela manutenção dos postos de trabalho, desinflando o piso mínimo salarial numa situação econômica em que os Estados Unidos não recuperou seus níveis pré-crise de emprego e continua em crescimento mais lento do que o esperado.

O discurso anti-imigrante também tem uma conseqüência no curto prazo: acelera a marcha dos excelentes negócios da indústria de controle de migração. Empresas de segurança e defesa fronteiriça, centros privados de detenção, provedores de fianças e advogados de imigração, além das empresas aéreas que operam as deportações de indocumentados. Uma indústria que foi posta em funcionamento em grande medida por Barack Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.

E Trump começa a granjear seus “apoios de conveniência”. A bestial organização supremacista branca, Klu Klux Klan, ligada a linchamentos de mexicanos e negros desde o fim da Guerra de Secessão (1866) e com presença em grande parte dos estados do Sul com herança escravagista, declarou apoio à candidatura de Trump. Ainda que Trump não se expressasse sobre este apoio, o certo é que o nacionalismo branco parece levantar a cabeça graças ao magnata da xenofobia e do racismo (assim como Ted Cruz, rival de Trump nas primárias Republicanas).

Total de delegados garantidos pelos republicanos até agora, Trump em vantagem

O establishment Republicano trata agora de projetar Marco Rubio como o candidato que “represente os valores Republicanos” e que possa derrotar Trump, não porque se oponham a seu projeto, mas porque precisam de alguém que levante um programa de direita e seja disciplinado pelo controle partidário. Entretanto, não será nada fácil já que Rubio não venceu nenhuma primária.

As eleições norteamericanas demonstram assim a polarização social e política que se instalou para ficar depois da Grande Recessão. Com a lenta recuperação da economia e uma alta taxa de desemprego, o estado de ânimo dos trabalhadores e da população é de frustração e descontentamento com os políticos tradicionais do sistema bipartidário.

Acompanhe pelo Esquerda Diário o seguimento das eleições nos Estados Unidos

1 de março “Superterça”: Alabama, Alaska, Georgia, Massachusetts, Dakota do Norte, Oklahoma, Tennessee, Texas e Wyoming (caucus republicanos); American Samoa (caucus demócrata); Arkansas, Colorado e Minnesota (caucus). Vermont e Virginia.

5 de março: Kansas (caucus); Kentucky e Maine (caucus republicanos); Luisiana e Nebraska (caucus democratas).

6 de março: Havaí, Idaho (caucus republicanos); Mississippi, Michigan e democratas no exterior (Democrats Abroad) (caucus democratas).

12 de março: Guam e Distrito de Columbia (caucus republicanos); Ilha Mariana do Norte (caucus democrata).

15 de março: Florida, Illinois, Misuri, Carolina del Norte, Ohio e Ilha Mariana do Norte (caucus republicanos).

19 de março: Ilhas Virgens (caucus republicanos).

22 de março: Arizona e Idaho (caucus democratas); Samoa Americana (convenção republicana); Utah.

26 de março: Alaska, Havaí e Washington (caucus democratas).

5 de abril: Wisconsin.

9 de abril: Wyoming (caucus democrata).

19 de abril: Nova York.

26 de abril: Connecticut, Delaware, Maryland, Pensilvania e Rhode Island.

3 de maio: Indiana.

7 de maio: Guam (primárias democratas).

10 de maio: Nebraska (primárias republicanas); Virginia do Oeste.

17 de maio: Kentucky (primárias democratas); Oregon.

5 de junho: Porto Rico (caucus democrata).

7 de junho: California, Montana, Nova Jersey, Novo México, Dakota do Norte (caucus democrata); Dakota do Sul.

14 de junho: Distrito de Columbia (primárias democratas).

 
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