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Crise dos combustíveis
Lula e FUP fazem propostas sobre Petrobras e combustíveis que são utópicas com sua política de conciliação
Yuri Capadócia

Nesta terça-feira, Lula participou de um encontro organizado pela Federação Única dos Petroleiros para debater o absurdo preço dos combustíveis. Um dia após Bolsonaro fazer sua demagogia eleitoreira, demitindo o presidente da Petrobras, Lula buscou fazer sua própria campanha, igualando a reversão do desmonte da estatal a sua vitória nas eleições. Porém, é preciso dizer que uma Petrobras 100% estatal gerida pelos seus trabalhadores com controle popular, só será possível se enfrentando com o imperialismo e o capital financeiro, ao contrário da estratégia petista.

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A política de paridade de preços internacionais (PPI), criada com Temer e intensificada por Bolsonaro e Guedes, que vem arrochando o orçamento dos trabalhadores, fazendo com que tenhamos que pagar mais de R$ 7 no litro da gasolina ou mais de R$ 120 no botijão de gás, foi o centro do evento protagonizado por Lula junto da Frente Única dos Petroleiros (FUP), além de figurões petistas à frente da administração da Petrobras nos anos de governos do PT.

Os pesados efeitos dessa política são sentidos por toda a classe trabalhadora, seja nos combustíveis, ou até no preço dos alimentos, impactados pelo custo do frete e que devem arrastar a inflação para um patamar acima de 10% neste ano. Sendo assim, os petistas criticaram esse alinhamento aos preços praticados nos mercados globais como responsáveis pela perda da soberania nacional e por pavimentar o caminho das privatizações, maximizando o lucro de acionistas. Porém, para além da evidente constatação do desmonte da gigante estatal e da necessidade de baratear o preço dos combustíveis, não disseram como pretendem reverter a política de submissão ao imperialismo e ao capital financeiro. Com um discurso eleitoralista, para eles a saída termina com a vitória de Lula Como se fosse possível resolver algo que demanda luta de classes, enfrentamento com o capital financeiro internacional pode ser feito com métodos eleitorais e de mãos dadas com Alckmin e muitos pesos pesados do capital.

Lula não fez nenhuma promessa para reverter, através da reestatização, os objetivos finais da PPI, que foram a entrega a preço de banana das refinarias, oleodutos e subsidiárias, como a BR Distribuidora e a Liquigás, todos recursos estratégicos da área de energia que passaram para o controle estrangeiro. Um dirigente sindical baiano presente no evento chegou, inclusive, a manifestar a vontade de que a Petrobras retome a Refinaria Landulpho Alves (Rlam), que desde a sua privatização passou a vender a gasolina mais cara do país, mas é preciso ter claro que essa não é a política de Lula e do PT. Da mesma forma, que o ex-presidente citou em seu discurso as nocivas reformas trabalhista e da previdência, sem nenhuma intenção de revogá-las, ao mesmo tempo que se alia a golpistas como Geraldo Alckmin (PSB), garantidores dessa agenda. Evidências de como o petista se prepara para administrar a herança econômica do golpe institucional, sem confrontar essas posições avançadas pelo capital financeiro.

Ainda que, o ex-presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, tenha dito que é preciso enfrentar o capital financeiro, aqueles que enchem o bolso com os lucros bilionários da Petrobras, também deixou claro que se trata, na verdade, de conciliar os interesses dos acionistas com o da população, uma vez que seria possível “mudar [a política de preços] sem dar prejuízo aos acionistas, mas sim diminuindo os lucros”, e que se trata de travar essa conversa com clareza com os acionistas.

Enquanto são antagônicos os interesses dos acionistas e da população trabalhadora, Gabrielli cinicamente quer fazer crer que é possível na base do diálogo fazer retroceder o ímpeto de submissão e maximização dos lucros que, a partir do golpe institucional, o imperialismo fez intensificar no país desde a Lava Jato, o governo Temer e agora com Bolsonaro no poder. O capital financeiro estrangeiro, que domina as ações da estatal (controlando 49,9% segundo a própria empresa) e cuja penetração na Petrobras começou a crescer em meio às gestões petistas, não vai aceitar de boa vontade a reversão da política que maximiza seus lucros. Como o PT bem sabe, por isso que, no Senado, o partido tratou de batalhar para aprovar um mecanismo - uma espécie de “bolsa diesel”- que garante o lucro dos acionistas, fazendo o Estado pagar a diferença entre o preço nacional e o preço internacional, através de verbas públicas que poderiam ir para a saúde ou a educação. Ou seja, faz todos brasileiros remunerarem esses acionistas milionários e bilionários.

Veja mais em:Efeitos da guerra: a crise dos combustíveis e alimentos no Brasil e a resposta dos trabalhadores

O próprio Gabrielli e Guilherme Estrella ressaltaram como o petróleo é um produto estratégico pelo qual os países imperialistas promovem guerras em defesa de seus interesses, citando a atual guerra na Ucrânia e anteriormente a guerra no Iraque, o que torna irrisória essa saída “pacifista” de pedir de bom grado aos acionistas que aceitem diminuir seus lucros. O que Lula, Gleisi Hoffmann, Marcelo Freixo, Lindhberg Farias e demais sequer disseram é que a própria ação da Lava Jato, que eles condenaram, foi mobilizada e orquestrada pelos interesses imperialistas e do capital financeiro, com os quais querem, novamente, conciliar. Justamente, a guerra na Ucrânia, mencionada, põe em relevo os contornos de guerras, crises e revoluções que caracterizam a época imperialista atual e fazem retomar ao primeiro plano os choques entre as nações.

O encontro, realizado no Rio de Janeiro, contou com a presença dos parlamentares petistas Lindhberg Farias e André Ceciliano, além de Marcelo Freixo (PSB), que também buscaram canalizar eleitoralmente o evento, dada a importância da Petrobras para a economia fluminense. Os políticos falaram do desmonte da indústria naval, com o desemprego nos estaleiros, para criticar a desigualdade no estado, uma das maiores do país. Porém, não disseram nenhuma palavra em apoio a mobilização da greve dos garis e dos rodoviários que no mesmo dia tomou a cidade carioca, e que é um exemplo da resistência dos trabalhadores ao arrocho salarial, da qual a crise dos combustíveis é parte. Setores como esse mostram a disposição da classe trabalhadora de se enfrentar contra a crise descarregada sob suas costas, e poderiam ser o ponto de apoio para uma política de unificação das lutas, como acontecem também em MG, na greve dos professores estaduais e municipais, além dos metroviários. Uma unidade que poderia tomar em suas mãos a única bandeira capaz de entregar combustível barato para a população, uma Petrobras 100% estatal gerida pelos seus trabalhadores com controle popular.

Por tudo isso, que defender uma Petrobras soberana, voltada para o interesse do povo, implica em tomar medidas elementares que revertam o desmonte em curso, como a Petrobras “vender” seu petróleo para si mesma ao preço do custo de extração, retomar todas unidades privatizadas e utilizar 100% da capacidade de refino. Porém, é necessário dizer aos petroleiros e à população que nenhuma dessas medidas poderão ser aprovadas através do diálogo com os acionistas, ou brigando nos conselhos de administração, controlados pelo governo mas à serviço dos acionistas privados. Para isso, será preciso mobilizar a categoria, o conjunto da classe trabalhadora e a população por uma Petrobras 100% estatal, sem indenizar os grandes bancos e fundos de investimento bilionários que tanto se enriqueceram às custas dos brasileiros. Somente uma Petrobras 100% estatal gerida pelos seus trabalhadores com controle popular pode fazer com que todos os recursos do petróleo sirvam aos interesses dos trabalhadores brasileiros.

 
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